Foi lançado nesta quarta-feira (27), em Curitiba, o projeto para o desenvolvimento de tecnologias destinadas à produção de combustível renovável de aviação, a partir do biogás e de hidrogênio verde, em escala piloto. A iniciativa conta com o investimento de mais de R$ 10 milhões do Governo do Estado, por meio da Fundação Araucária, e da Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável, por meio da Agência Técnica de Cooperação Alemã GIZ.
“Em função dos seus ativos em desenvolvimento científico e tecnológico, o Paraná tem todas as condições de avançar em relação à produção de hidrocarbonetos renováveis através da biomassa e da produção de querosene de aviação a partir do biogás. Esta é uma iniciativa pioneira que pode trazer resultados excepcionais para a economia e para a população paranaense nos próximos anos”, ressaltou o presidente da Fundação Araucária, Ramiro Wahrhaftig.
O objetivo do empreendimento, que será realizado no Paraná até o final de 2023, é reduzir as emissões de gases do efeito estufa pelo setor aeroportuário.
O coordenador-geral de Tecnologias Setoriais da Secretaria de Empreendedorismo e Inovação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Rafael Menezes, que acompanha as discussões para organização do projeto, também destacou a importância da iniciativa. “O Paraná e suas instituições saem na frente com este projeto inovador, na vanguarda do conhecimento. Ele pode gerar muitos frutos para o desenvolvimento social e ambiental do País”, afirmou.
O superintendente de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Aldo Bona, destacou que o projeto para a produção de energias renováveis está alinhado com o objetivo do Governo do Estado de tornar o Paraná mais moderno e inovador.
“O Conselho Paranaense de Ciência e Tecnologia, presidido pelo governador Ratinho Junior, tem entre suas áreas prioritárias as energias renováveis. Este projeto embora ousado, mas que tem dando certo nesta escala piloto, poderá se transformar em um produto de mercado, possibilitando uma consciência de podermos voar pelo nosso país com um combustível limpo”, comentou.
A ideia é desenvolver tecnologia alternativa que seja utilizada pelo setor de transportes para restringir os impactos climáticos gerados pela queima de combustíveis fósseis, como a produção de Combustível Sustentável de Aviação – SAF em pequena escala.
Segundo o diretor-presidente da CIBiogás, Rafael Gonzalez, embora seja um trabalho que envolve muita pesquisa, está sendo desenvolvido com o olhar do mercado, com o que o mercado está demandando. “Nossa principal intenção é construir uma base que tenha a capacidade de levar o projeto adiante. Sabemos dos desafios que teremos, pois não é simples o que estamos propondo, mas queremos possibilitar condições para que o mercado possa se desenvolver futuramente”, explicou.
De acordo com a coordenadora-geral de Serviços Aéreos da Secretaria Nacional de Aviação Civil do Ministério da Infraestrutura, Rafaela Cortes, a instituição tem a utilização de combustíveis sustentáveis como pauta extremamente relevante para o setor, sendo visto como o futuro da aviação.
“Especialmente esta solução descentralizada é interessante para o desenvolvimento da aviação regional, para aproveitar as potencialidades e os recursos da região, aqui do Paraná, no caso”, disse. “Acredito que ter uma produção, mesmo que em escala piloto, é uma sinalização extremamente relevante para o mercado”.
A visão do projeto é que, ao substituir o carbono pelo uso do biogás, combinando-o com o hidrogênio verde produzido a partir de água e energia renovável, a iniciativa crie uma nova rota tecnológica para fontes alternativas de energia. Esses esforços incentivam a bioeconomia local e reforçam medidas sustentáveis, como a necessidade do tratamento adequado dos resíduos orgânicos.
Com a planta-piloto desenvolvida no Paraná, a expectativa é que sejam criados polos de hidrogênio verde em regiões com excedentes de energia renovável.
São responsáveis pelo projeto a GIZ (Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit GmbH), o Centro Internacional de Energias Renováveis (CIBiogás), a Fundação Araucária, a Universidade Federal do Paraná (UFPR) e a Fundação Parque Tecnológico Itaipu.
Fazem parte da iniciativa o projeto da GIZ H2Brasil, que busca a expansão de hidrogênio verde no País, em colaboração com o Ministério de Minas e Energia (MME), e o ProQR, projeto voltado para a produção local e descentralizada de combustíveis sustentáveis para redução do carbono na atmosfera, coordenado em conjunto com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). Os trabalhos buscam o desenvolvimento de tecnologias que permitam reduzir a dependência de combustíveis fósseis e promover a descarbonização de setores-chave, como o transporte pesado.
Dos R$ 10 milhões previstos para investimentos, 80% serão financiados pela GIZ e 20% pela Fundação Araucária. “A Alemanha tem um compromisso de estar, a cada ano, mais verde e limpa e, se possível, ajudar outros países que queiram o mesmo. Este projeto é um grande exemplo disso, especialmente em um país com tanto tráfego aéreo onde é fundamental que se pense em combustível sustentável”, disse o diretor do projeto H2Brasil da GIZ, Markus Francke.
O projeto prevê, também, a transferência de conhecimentos e a produção descentralizada de combustíveis renováveis a partir da elaboração de um modelo técnico.
“A Alemanha sempre tem participado de importantes projetos aqui no Paraná, uma parceria muito importante. A universidade tem este compromisso de resolver estes gargalos, principalmente nesta área de bioenergia e biocombustível. Trabalhamos para romper estes muros e atuar em melhorias para a sociedade”, disse a reitora em exercício da UFPR, Graciela Bolzon de Muniz.
O Governo do Estado tem a questão energética como uma de suas prioridades, lembrou o diretor técnico da Secretaria de Agricultura e do Abastecimento do Paraná, Benno Henrique Doetzer. “Analisando o desenvolvimento do setor agro temos observado uma intensificação deste sistema produtivo e vimos alguns pontos críticos que são a água e a energia. Precisamos pensar em meios sustentáveis, principalmente de energia alternativa e renovável”, afirmou.