Apesar do aumento nos dois últimos anos das emissões de títulos de dívida privada rotulados como “verde”, “sustentável” e “social”, os projetos de investimento no setor agropecuário ainda representam uma pequena fração das operações totais. De 2015, quando essas transações começaram, até fevereiro deste ano, as operações de emissores brasileiros rotuladas e voltados à agricultura somaram US$ 848 milhões, de um total US$ 10,8 bilhões, de acordo com levantamento da organização global Climate Bonds Iniciative (CBI).
O mapeamento incluiu não apenas as operações com selo da CBI, a maior certificadora global de títulos verdes, mas também outras que se encaixam em seus critérios e receberam pareceres de outras fontes. Não entraram na conta operações feitas de março para cá.
Se o setor florestal for incluído na conta das emissões rotuladas para projetos voltados à atividade rural, o número cresce para US$ 5,6 bilhões. O valor, porém, é inflado pelas operações das empresas de papel e celulose, que respondem pela maior parte dos recursos captados no mercado “ESG”.
A maior parte das emissões rotuladas encaixa-se no enquadramento “verde”. Dos US$ 10,8 bilhões em títulos com alguma rotulagem, US$ 9 bilhões estão nesse enquadramento, enquanto os títulos “sustentáveis” totalizaram US$ 1,6 bilhão e os “sociais”, US$ 111 milhões. A classificação dos títulos é feita conforme o destino dos recursos e uma série de critérios da CBI. Ela também considera padrões internacionais.
Os projetos relacionados a “uso da terra” – que incluem principalmente projetos agropecuários e florestais – representaram 27% das emissões “verdes” e 33% dos títulos “sustentáveis” entre 2015 e fevereiro último. Dos três títulos “sociais” costurados no Brasil até o momento, nenhum teve como alvo a atividade rural.
Das emissões rotuladas voltadas especificamente à agricultura, a CBI contabilizou, no período, quatro operações, duas “verdes” e duas “sustentáveis”. A primeira foi a de certificados de recebíveis do agronegócio (CRA) da Rizoma Agro, do empresário Pedro Paulo Diniz, que também está à frente da Fazenda da Toca – ambas são referência em agricultura regenerativa no Brasil. Também entraram na lista as emissões de duas das maiores empresas do agronegócio do Brasil, a Amaggi e a SLC – em processos criticados por alguns ambientalistas.
Para a atividade rural, houve, ainda, outras emissões rotuladas que ficaram fora dessa conta. O segmento de bioenergia, por exemplo, vem emitindo títulos rotulados como “energia renovável” para financiar produção de etanol, cogeração a partir de bagaço e custos agrícolas com biomassa. A CBI contabiliza, no total, US$ 832 milhões em operações consideradas sustentáveis, das quais 57% foram rotuladas. Nesse caso, a organização considerou os títulos rotulados e também operações “vinculadas” a métricas socioambientais, sem avaliação externa.
A CBI não possui uma taxonomia para classificar operações financeiras que vinculam taxas ao cumprimentos de metas de sustentabilidade, mas esse tipo de financiamento tem crescido no agronegócio. Entre títulos e empréstimos bilaterais desse tipo, a CBI contabiliza US$ 5 bilhões, mas ressalta que muitos ainda não têm transparência suficiente. Outras operações que não entraram na conta da CBI são os títulos “de transição”. Ainda não há critérios para enquadrá-los, mas a proposta é financiar a redução de emissões de carbono de empresas hoje com alta pegada de gases-estufa.
Na pecuária, por exemplo, a Marfrig fez um empréstimo vinculado a métricas sustentáveis e emitiu um título que chamou “de transição”. A CBI, porém, não o incluiu em seu levantamento por considerar que faltaram “credenciais climáticas” para o enquadramento.