No sol quente ao longo do dia, a energia é gerada pelas placas fotovoltaicas. À noite, com a temperatura amena, a energia vem da biomassa produzida a partir dos dejetos de 120 mil porcos. Trata-se da primeira usina híbrida de biogás e energia fotovoltaica em grande escala no país. Construída em Ouro Verde do Oeste, no Paraná, a EnerDinBo aproveita o sol pleno e o fato de a região ser uma das maiores produtoras de suínos do país.
Os dejetos são apenas uma das matérias-primas empregadas na geração de energia limpa e sustentável, que ganham escala no país. No Mato Grosso do Sul, a fábrica de celulose Eldorado Brasil produz energia com sobra de eucalipto, cavacos, cascas, tocos e raízes. No Rio Grande do Sul, a Enerbio Energia e Meio Ambiente toca dois projetos de usinas termoelétricas à base de casca de arroz. O bagaço da cana-de-açúcar, por sua vez, já é o mais usado como uma das biomassas.
A usina híbrida de Ouro Verde foi inaugurada em outubro de 2020. Sua unidade solar entra em operação em seis meses com capacidade de 500 quilowatss/hora.
A planta foi construída para tratar até 700 mil litros de dejetos/dia, com capacidade para gerar 1 megawatt/hora, suficiente para abastecer cerca de 2,5 mil casas. “O plano é gerar 2,5 mil MW/hora em um ano e atender 6 mil residências. Para 2025 a meta é ter mais de 5 MW/hora, tratando mais de 4,2 milhões de litros de dejetos por dia”, diz Thiago González, sócio e diretor-técnico da EnerDinBo.
De acordo com a Associação Regional de Suinocultores do Oeste, existem mais de 16 mil propriedades rurais voltadas para a atividade, somando mais de 5 milhões de cabeças. Apenas o município de Toledo, maior produtor do Brasil, tem 2,2 milhões porcos.
O Rio Grande do Sul produz 70% do arroz nacional e sua contribuição para a energia limpa vem justamente da casca do cereal. Os investimentos estão estimados em R$ 80 milhões em duas usinas termoelétricas. A primeira deve ficar pronta em 18 meses com potência instalada de 5 MW/hora, capaz de abastecer 50 mil residências.
De acordo com Luiz Antônio Leão, diretor-presidente da Enerbio, o empreendimento em Capivari do Sul já tem licença concedida e o plano é iniciar a construção ainda em 2021. A segunda fica em Uruguaiana, na fronteira Oeste do Estado, e está em fase de aprovação.
A maior usina de biomassa é a de Onça Pintada, em Três Lagoas (MS), erguida pela Eldorado Brasil. A geração teve início em abril passado e custou R$ 400 milhões. O insumo básico vem das florestas da própria companhia fabricante de celulose, como cavacos, cascas, tocos e raízes, além da sobra de eucalipto.
O parque da Eldorado tem potência instalada para produzir até 220 MW/hora. Dessa quantidade, 95 MW são utilizados na produção de celulose, 50 MW são fornecidos para as indústrias que produzem insumos ao processo e o excedente é exportado para o sistema elétrico nacional, para comercialização. Essa quantidade de energia pode abastecer uma cidade com cerca de 1 milhão de habitantes.
“Além da comercialização de energia limpa de fonte renovável, a companhia conquistou diferencial competitivo com a ativação da sua primeira termelétrica: o pioneirismo no aproveitamento de 100% do eucalipto plantado para produzir celulose e energia”, diz Carlos Monteiro, diretor técnico industrial e de suprimentos da Eldorado Brasil.
Todo o volume energético gerado, exceto o usado para o seu próprio funcionamento, diz ele, é fornecido ao Sistema Elétrico Nacional (SIN), representando nova fonte de receita. “Para se ter uma ideia, em 2020 foram destinados ao SIN 281 mil megawatts hora, gerando uma receita de R$ 62,5 milhões”, afirma.
A Usina São Martinho, um dos maiores grupos sucroenergéticos do Brasil, investirá US$ 100 milhões neste ano e uma parte será destinada à nova UTE, à base de bagaço, para expandir a oferta. “São investimentos que incrementarão em aproximadamente 20% o volume de energia”, afirma Felipe Vicchiato, CFO da São Martinho. “Este aumento tem capacidade para abastecer o equivalente a 46 mil residências todos os anos, utilizando a mesma quantidade de bagaço consumido hoje”, afirma.