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Acordo

Raízen fornecerá biometano para produção de amônia da Yara

Empresas anunciaram o acordo nesta segunda-feira

Raízen fornecerá biometano para produção de amônia da Yara

Maior produtora global de energias renováveis a partir da cana, a Raízen firmou um contrato de venda de biometano para a Yara, gigante norueguesa que lidera a produção mundial de fertilizantes. Quimicamente igual ao gás natural, o biometano — feito de resíduos da produção de etanol — será usado para a fabricação de amônia “verde”, que pode ser destinada para a produção de fertilizantes nitrogenados e servir como alternativa de combustível marítimo renovável.

É o primeiro contrato bilateral de metano realizado dentro do Novo Mercado de Gás, assim como também é o primeiro contrato comercial de biometano de uso industrial do país. O acordo prevê a entrega de 20 mil metros cúbicos do gás renovável por dia ao longo de cinco anos, a partir de 2023.

A Raízen, joint venture entre Cosan e Shell, já possui uma planta de biogás em Guariba (SP) destinada à geração de eletricidade, mas a produção do biometano para atender a Yara não deverá vir dessa unidade. A companhia não deu detalhes de como será a produção para cumprir o contrato, mas antecipou ao mercado, antes de seu IPO, que planeja expandir suas plantas de biogás anexas às usinas que possui, o que poderá culminar na construção de 39 unidades até a safra 2030/31, pelo menos.

O biometano será injetado nos dutos da Comgás (também da Cosan) até a planta de amônia da Yara em Cubatão. O volume acertado supre 5% da demanda da unidade por gás natural, que alcança 700 mil metros cúbicos ao dia. Embora o volume seja baixo, representa um “primeiro passo” para o uso do gás renovável na indústria, disse Daniel Hubner, vice-presidente de soluções industriais da Yara. “A Yara tem a meta de ser carbono neutro em 2050. Cada passo é importante nessa jornada”, afirmou.

Os valores acertados não foram divulgados, mas Raphaella Gomes, diretora de negócios de biogás e CEO da RaízenGeo, disse que houve “discussões profundas sobre o melhor modelo de valorização dos ativos ambientais”. Ao mesmo tempo, Hubner realçou que, como o gás representa 80% do custo de produção da amônia, “sempre temos preocupação com a competitividade da fonte”.

Em substituição ao gás natural fóssil, o biometano feito dos resíduos do etanol pode ter uma pegada de carbono ao menos 80% menor, segundo a executiva da Raízen. Mas o produto tem potencial até de ser um “capturador de carbono” se houver ajustes, como o uso de biometano na frota de máquinas que atendem os canaviais e o uso do fertilizante feito dessa nova amônia “verde” nas próprias lavouras. Se for usado o resíduo da produção do etanol celulósico — que, por sua vez, já é feito de resíduos agrícolas —, o resultado ambiental tende a ser ainda melhor, disse Gomes. Além disso, garantiria oferta o ano inteiro, já que a produção do etanol de segunda geração não depende da colheita da cana. Nesse caso, o biometano seria um renovável de “terceira geração”.

A Yara, segunda maior produtora global de amônia, com 7,7 milhões de toneladas fabricadas globalmente em 2020, já testa outras vias de descarbonização em quatro
de suas 17 plantas de amônia no mundo, mas até então a rota escolhida era a eletrólise (a partir da energia de fontes renováveis). Embora avalie projetos de
eletrólise no Brasil, a Yara encara com otimismo o biometano, cujo potencial de produção em São Paulo conseguiria abastecer toda a demanda de sua planta em Cubatão.