Fundada em 25 de novembro de 1972, a Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul – ACSURS foi marcada pela forte atuação dos presidentes que estiverem frente a entidade ao longo de sua trajetória.
O primeiro deles foi Hédio Scherer (in memorian), um dos fundadores da entidade. Suinocultor de Montenegro, em sua gestão teve a missão de legalizar e institucionalizar a associação, assim como zelar pelos interesses políticos dos produtores gaúchos.
Além disso, auxiliou no processo de criação de novos núcleos regionais e também na captação de novos sócios. A gestão de Scherer foi marcada também pelo início da participação da ACSURS em feiras e exposições.
Em 1977, a entidade elegeu o segundo presidente, o suinocultor José Adão Braun. Ele esteve junto à ACSURS desde o ato de criação da entidade e atuou como presidente entre os anos de 1977 a 1982 e 1989 a 1998.
“A ABCS já funcionava em Estrela, onde a suinocultura começou a se desenvolver no Brasil. Com a proporção que tomou, não conseguiu atender as demandas locais e, com isso, houve a necessidade da criação de uma associação que pudesse trabalhar e se dedicar em prol dos suinocultores gaúchos, surgindo assim a ACSURS”, conta o ex-presidente.
Após sua criação, foram cerca de seis anos atuando em uma sala cedida na sede da brasileira, mas com a crescente demanda e os serviços prestados a sala ficou pequena. Em 1977, foi adquirido, um espaço próprio.
“Quando eu assumi a presidência, também assumi a responsabilidade de conseguir uma sede para a entidade. Estávamos em constante expansão e precisávamos de espaço para trabalhar, já que também tínhamos como responsabilidade o registro genealógico dos suínos”, comenta Braun.
Legado deixado em sua gestão, Braun lembra dos detalhes até hoje. “Participamos do edital público promovido pela Prefeitura de Estrela para a compra de um antigo restaurante localizado no Parque 20 de Maio, e vencemos. Era uma grande conquista para a entidade”, frisa Braun.
Adquirido e reformado com o apoio dos sócios e do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, a inauguração ocorreu um ano depois, durante a programação da 5ª edição do Dia Estadual do Porco. O ato foi prestigiado por lideranças importantes da época como Getúlio Marcantônio (in memorian), que era secretário da Agricultura do RS.
Em meio a esses acontecimentos, iniciava-se outro projeto, o melhoramento genético do rebanho suíno. Os primeiros movimentos relacionados a inseminação artificial começaram em meados de 1975 com a sugestão do então presidente da ABCS, Hélio Miguel de Rose, após uma viagem à Europa.
Em 1976, o projeto foi executado com a implantação da Central de Inseminação Artificial (CIAS) em fase de teste em um espaço provisório no Parque 20 de Maio.
Braun afirma que foi um grande passo dado para a suinocultura gaúcha e também brasileira, já que a inseminação artificial acelerou o melhoramento genético do rebanho de suínos. “A partir dos resultados positivos obtidos, buscamos recursos para a construção de um local propício para a instalação das CIAS e uma melhor execução do trabalho”, complementa.
Em 1979 foi inaugurado, em uma área de cinco hectares com o apoio do Ministério da Agricultura, Governo do Estado do RS e Prefeitura de Estrela, o espaço localizado em Linha Porongos, interior de Estrela, também utilizado para abrigar a Estação Teste de Reprodutores de Suínos (ETRS). Atualmente, trata-se da Central de Produção de Sêmen (CPS).
“Durante o período que estive frente a ACSURS, sempre levamos as demandas da suinocultura até os representantes políticos estaduais e nacionais do setor, em busca do melhor para os suinocultores gaúchos. E muitas coisas conquistamos por meio desse esforço e dedicação que tivemos na época”, finaliza.
No ano de 1983, o médico-veterinário Werner Meincke foi eleito para representar os suinocultores gaúchos. Ele já atuava na equipe técnica da ACSURS e ocupou o cargo de liderança até 1988. Entre as prioridades da gestão, Meincke prezou pela sanidade do rebanho suíno e pelos avanços na inseminação artificial em suínos.
Ao relembrar sua passagem pela entidade, Meincke relata esse momento como um privilégio em sua carreira profissional. “Estou prestes a completar 50 anos de dedicação a suinocultura, o que, por si só, demonstra a paixão que tenho por esse segmento. Presidir a ACSURS na época contribuiu substancialmente para conhecer com maior profundidade a estrutura de produção dos suinocultores bem como tomar conhecimento das suas reais necessidades e poder, via associação, representá-los, lutando por seus interesses junto aos órgãos governamentais”, comenta.
Durante o seu mandato como presidente da entidade, Meincke reivindicou diversas demandas dos suinocultores gaúchos. A principal foi a implantação do programa de distribuição de milho da Companhia de Financiamento da Produção (CFP), hoje conhecida como Conab – Companhia Nacional de Abastecimento. Na época, os suinocultores tinham dificuldade em participar de leilões para realizar a compra do milho, único sistema utilizado até então para a comercialização do grão no Rio Grande do Sul.
“Conseguíamos cotas para distribuição em locais próximos aos produtores para facilitar a logística. Por exemplo o Porto de Estrela recebia determinadas quantias para distribuição aos suinocultores associados do Vale Taquari e da mesma forma para sócios de outras regiões”, explica.
Além disso, realizou reformas na sede da entidade e destinou recursos para melhorias na CIAS e ETRS. Outra conquista foi a construção de uma sede no Parque Estadual de Exposições Assis Brasil (PEAAB) e as adaptações no pavilhão de exposição dos suínos e também na pista, onde ocorriam os julgamentos.
Ao falar sobre o trabalho de melhoramento genético do rebanho suíno, Meincke conta que em um período a região sul do país chegou a ter 280 granjas vinculadas às entidades estaduais produzindo animais puros das raças Landrace, Large White e Duroc.
No final da década de 80 e início de 90, as empresas multinacionais de genética começaram a chegar no Brasil. “O material genético que até então era produzido basicamente por esses produtores, com programa de melhoramento genético coordenado pelas associações, foi perdendo espaço para as grandes empresas multinacionais de melhoramento genético, que acreditaram nas potencialidades que o país possuía para se tornar um dos principais players mundiais”, conta o médico-veterinário.
Com a implementação de empresas multinacionais no Brasil, um novo conceito surgiu: a hibridação. O avanço permitiu animais de alta saúde e capacidade maior de reprodução, o que os produtores tradicionais não possuíam, por falta de espaço para expansão, já que eram produzidos em pequenas propriedades.
“Como tudo na vida nada é permanente, mas para época o trabalho das associações foi vital para conseguirmos a transição do suíno tipo banha para o suíno tipo carne, que era o maior reclamo dos consumidores”, finaliza.
Em 1999, um novo presidente assumiu a entidade. Após ser reeleito em 1989, depois do mandato de Meincke e permanecer até 1998, Braun passou a responsabilidade para o médico-veterinário Gilberto Moacir da Silva, que se elegeu presidente da ACSURS e esteve à frente da entidade até 2005.
Ligado ao setor suinícola desde 1975, Silva prestava serviços para a Secretaria Estadual da Agricultura e atendia pequenos suinocultores do Vale do Taquari. “Realizávamos também atividade de melhoramento genético do rebanho suíno atendendo as granjas de reprodutores vinculadas à ACSURS”, conta.
Um dos marcos da gestão de Silva foi a criação do Fundo Estadual de Sanidade Animal (FESA) em meados de 2000 e, mais tarde, do Fundo de Desenvolvimento e Defesa Sanitária Animal (FUNDESA).
“Na época o então secretário da Agricultura do RS, Hermeto Hoffman, em uma reunião com outras lideranças do setor, solicitou a criação do FESA. Isso porque, o secretário iria informar ao Mapa que a vacinação contra a febre aftosa iria ser suspensa, o que depois foi por água abaixo, já que um novo caso foi registrado no Estado.
Todos trabalharam em conjunto para aprovar o projeto no Executivo. Após consolidarmos o FESA, começamos a pensar alguma alternativa para se criar um fundo particular e, com isso surgiu, o FUNDESA”, conta.
Silva também liderou diversas demandas do setor. Entre elas, e a mais marcante, o protesto junto a Praça dos Três Poderes, em Porto Alegre, em meados de 2003. “Levamos leitões até Porto Alegre, colocamos coleiras em todos eles para desfilarem com nós até a entrada da Assembleia Legislativa onde participamos de uma reunião com deputados. A ABCS adotou a prática e fez o mesmo em Brasília”, relembra.
Fato que ocorreu em decorrência da Constituição Parlamentar de Inquérito (CPI) das Carnes, realizada pela Assembleia Legislativa. “O objetivo era investigar as causas da atual situação econômica da suinocultura e bovinocultura de corte. Como entidade, depomos na CPI e frisamos a importância estratégica da carne suína para a economia.
Naquele momento, o setor estava em crise e faltava incentivo”, lembra.
Neste momento, Valdecir Luis Folador, por conta da sua atuação ao decorrer da CPI das Carnes, já se destacava como jovem liderança do setor e integrante do Sindicato Rural de Erechim.
Com destaque nas discussões, o convite para concorrer à presidência da ACSURS veio logo depois, em 2004. “Naquele momento, eu nem imaginava em concorrer à presidência da entidade, o convite foi uma surpresa. Mas aceitei o desafio, montamos uma chapa e fomos eleitos por aclamação em Assembleia”, afirma.
Sua trajetória frente a entidade iniciou em 2005 e perdura até os dias de hoje. “Nunca fiz nada sozinho, sempre tive a contribuição e o auxílio da Diretoria que se elegeu comigo e também dos funcionários que atuaram nesse período em que estou presidente da ACSURS”, complementa.
Com o passar dos anos, novas demandas, conquistas, derrotas e “empates” surgiram, mas a mais marcante foi a consolidação da Lei da Integração, sancionada em 2016. “Foi uma grande conquista para o setor que, com o passar dos anos, teve um grande aumento no número de suinocultores atuando no sistema de integração”, comemora.
Assim como os seus antecessores, Folador também priorizou a evolução da inseminação artificial em suínos. Firmou parcerias, realizou reformas e manteve a CPS altamente qualificada de tecnologia e profissionais.
“Como entidade, temos principalmente um papel político e social. Atuamos da porteira para fora defendendo os interesses dos suinocultores, como costumo dizer. Mas, além disso, também trabalhamos fortemente e diretamente com a qualidade genética do rebanho gaúcho e temos um papel muito importante, já que o ponto de partida da produção para muitos suinocultores sai da CPS”, conclui.