No Brasil, tornou-se tradição comer carne suína em festas de fim de ano, algo que tem origem nas festas rurais e também na crença popular de que os porcos, por empurrarem o focinho para frente quando estão em busca da comida, simbolizam progresso, e por este motivo atraem sorte e dinheiro. Com isso é natural que o volume de abate de suínos nos três últimos meses do ano aumente se comparado ao período anterior. “Esse período é um período que tradicionalmente aquecem as vendas de carne suína mesmo, mas eu acredito que as vendas vão ter um incremento maior ainda porque o consumo está represado nos últimos tempos por conta da pandemia e haverá uma flexibilização pelo fato das pessoas estarem vacinadas deu uma certa liberdade e a tendência é delas voltarem a consumir”, afirmou César da Luz, especialista em Agronegócio e Consultor da APS (Associação Paranaense de Suinocultura).
Este ano, soma-se à tradição o fato dos preços da carne bovina e até mesmo o das aves estarem muito acima do normal. “E nesse vácuo, a carne suína vem com um marketing nos últimos nove anos, desmistificando e quebrando paradigmas. Os grandes chefs e os restaurantes mais premiados no Brasil descobriram o valor nutricional da carne suína e hoje fazem grandes harmonizações. Essa popularização dos benefícios nutricionais da carne suína e do próprio sabor e da harmonização de tudo isso foi influenciando os grandes varejos com cortes especiais”, conta.
Um diferencial para os produtores do Estado é o status sanitário. “No Paraná conseguimos concretizar um trabalho de muito tempo em torno do aumento do estado sanitário, que está com status internacional reconhecido pela Organização Mundial de Saúde Animal que, além de ter um impacto positivo no aumento das vendas para exportação no mercado exterior, abre mercados mais exigentes que exigem esse selo e que vinham comprando só de Santa Catarina”, ressalta da Luz.
Segundo ele, o consumo do mercado interno também tem se elevado. “Está chegando a 18 kg por pessoa, quando antes a média era de 12 kg a 13 kg por pessoa. Daqui a pouco vamos bater 20 kg por pessoa. Ainda tem a Rússia, que abriu de novo o mercado [anunciou que adquirirá 100 mil toneladas de carne suína]. Nós temos plantas aqui no Paraná e outras no Mato Grosso, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Então, o Brasil é a bola da vez nesse segmento”, destacou. “Mas ainda é pouco. Tem região que consome 30 kg por pessoa e na Europa esse consumo é de 40 kg a 50 kg por pessoa.”
Ele ressaltou que está em curso um avanço muito expressivo em novas plantas para processar a carne suína. “Estão construindo uma nova em Assis (SP), que deve ser concluída em breve, e vai surgir a nova fronteira suinícola na região de Laranjeiras do Sul (centro-oeste), além de investimentos em novas granjas na região noroeste do Paraná com a instalação de uma granja em Paranavaí e Terra Boa.”
O Estado é considerado área livre de peste suína clássica. “Antes só Santa Catarina e Rio Grande do Sul tinham esse reconhecimento e nós também conquistamos isso esse ano, junto com o reconhecimento de área livre da peste suína africana. Esse reconhecimento é internacional”, apontou. Agora o Paraná pretende trabalhar para ultrapassar Santa Catarina como o maior produtor nacional de suínos. “O Paraná deve alcançar isso em 2025, que está logo aí”, projetou.
O 2º trimestre de 2021 foi de recorde no abate de suínos no Brasil desde o início da série histórica em 1997. Foram abatidas 13,04 milhões de cabeças de suínos, com alta de 7,6% ante ao mesmo período de 2020. O abate de 923,56 mil cabeças de suínos a mais em relação ao mesmo recorte do ano passado foi impulsionado por altas em 18 das 25 unidades da Federação: Rio Grande do Sul puxou a fila, com um aumento de 273,47 mil. Santa Catarina (222,13 mil), Paraná (156,58 mil), Mato Grosso do Sul (86,97 mil), Goiás (73 mil), Minas Gerais (69,47 mil), São Paulo (19,96 mil) e Mato Grosso (1,19 mil) aparecem na sequência.
Com isso, Santa Catarina continua liderando o abate de suínos, com 28,5% da participação nacional, seguido por Paraná (20,5%) e Rio Grande do Sul (17,5%). O Estado abateu 2.669.822 cabeças entre maio e julho deste ano, contra 2.513.245 no mesmo período do ano passado.
Na região de Londrina, o RPF Group – quarta maior empresa fornecedora de proteína suína do Paraná, com unidades de abate em Ibiporã e Bocaiúva do Sul – turbinou a produção em 30% neste último trimestre e investe, pela primeira vez, no lançamento de uma linha específica de cortes natalinos, que chegam ao mercado sob a sua marca de varejo, a Rainha Alimentos.
Segundo o gerente comercial do grupo, Marcos Pezzutti, os lançamentos estarão nos supermercados no início de dezembro e incluem lombo e alcatra em versões já temperadas, além de sobrepaleta e pernil com osso fracionado, in natura.
Ele informa que toda a produção dos novos cortes Rainha Alimentos está concentrada na unidade industrial do RPF Group de Ibiporã, que hoje abate cerca de 2.100 cabeças por dia e está passando por uma ampliação, com a construção de uma nova fábrica de farinha de carne/ossos e ainda uma fábrica de banha.
Pezzutti destaca que o momento é muito bom para o setor. A alta dos preços da carne bovina acabou levando boa parte dos consumidores a optar pela proteína suína, que deve ter um crescimento de consumo per capita neste ano de 5%.