Segundo a Organização Mundial de Saúde, a resistência de patógenos entéricos a antibióticos está aumentando em humanos no mundo. A estreita conexão entre animais, alimentos, pessoas e meio ambiente (“One Health”) requer ações urgentes entre os setores para que o uso dessas moléculas seja mais prudente em humanos e animais.
No âmbito da suinocultura, tem-se observado nos últimos anos uma evolução na produção, associada a melhorias genéticas e de nutrição. Contudo, ainda há espaço para avançar em outros aspectos envolvidos no processo, como biosseguridade, estrutura das granjas e procedimentos básicos, com foco em reduzir a entrada e manutenção de patógenos. O anseio pelo aumento na produtividade muitas vezes acaba sendo acompanhado por falhas básicas no manejo diário dos animais, que são “remediadas” com o uso de antibióticos. Estes em muitos casos, acabam sendo fornecidos rotineiramente de forma indiscriminada, como promotores de crescimento, com fim profilático/ metafilático e/ou em doses terapêuticas. No Brasil, um estudo mostrou que em média, os suínos têm contato com antimicrobianos durante 66,3% de sua vida, o que varia desde 2,9% até 90,4%(DUTRA, 2017). Frente a esta realidade, a resistência de bactérias às moléculas mais usadas no processo de criação também é um problema nas granjas.
Alguns países já estabeleceram medidas para adotar o uso prudente de antibióticos, como o Reino Unido, onde houve redução entre 2015 e 2018, em lotes que representam 89% dos suínos abatidos (AHDB, 2019). Já na Bélgica, presenciou-se a redução significativa de 52% no uso de antimicrobianos do nascimento até abate dos suínos e de 32% nos reprodutores, acompanhada de melhoria dos resultados na produção (POSTMA, 2017). No Brasil, o Ministério da Agricultura e Pecuária tem estabelecido restrições a algumas moléculas, assim como fazem os países importadores de carne suína. Neste sentido, especialistas em sanidade de suínos na Europa avaliaram 19 medidas que podem ser adotadas concomitantes à redução no uso de antibióticos em granjas de suínos. A vacinação foi classificada como a 2ª melhor ferramenta na média entre a eficácia, a viabilidade e o retorno do investimento (ROI), ficando atrás apenas dos cuidados com biosseguridade interna nas granjas (Figura 1)(POSTMA, 2015)
Figura 1
O investimento em vacinas efetivas frente a agentes entéricos, como a Lawsonia intracellularis, é uma prática que traz benefícios financeiros, com bons resultados zootécnicos. Um estudo envolvendo 130 granjas (total de 719.000 suínos) de 13 países da Europa mostrou que lotes de animais que receberam uma dose de vacina viva, por via oral, para Lawsonia intracellularis (Enterisol®Ileitis) necessitaram de menos intervenções com uso de antibióticos, associado a melhorias no desempenho zootécnico (Figura 2) (ADAM, 2008). Há ainda, dados mostrando a redução nos custos com antibióticos, associados a uma evolução dos índices produtivos na fase de terminação, em lotes de suínos que receberam a mesma vacina em comparação a animais não vacinados (Figura 3) (IBANEZ, 2016).
Figura 2
Figura 3
O efeito do uso de antibióticos também pode gerar um impacto negativo conhecido como disbiose, causando assim o desequilíbrio da microbiota intestinal. Desta forma, a infecção por outros agentes é facilitada e na maioria dos casos ocorre o aparecimento de sinais clínicos entéricos e até respiratórios ou nervosos, levando a perdas econômicas. Outra consequência importante é a possibilidade de ocorrência de doenças na forma subclínica, devido a sub dosagens das moléculas usadas e/ou resistência de bactérias às mesmas, o que está associado ao baixo desempenho dos animais, lotes não uniformes e a perdas financeiras consideráveis.
Assim sendo, é urgente a necessidade de se refletir sobre os critérios de utilização das diferentes moléculas nas granjas, com intuito de implementar melhorias em ações que visem a preservação da saúde animal e humana. Diante da estratégia de uso racional de antibióticos, torna-se ainda mais importante a revisão das medidas de biosseguridade adotadas. Dentre estas, pode-se citar o investimento em vacinas, que são ferramentas preventivas, capazes de auxiliar no uso reduzido de antibióticos, promovendo a proteção do plantel.
Autores: Equipe técnica de suínos da Boehringer Ingelheim do Brasil
A equipe técnica de suínos da Boehringer Ingelheim tem como objetivo prover soluções para médicos-veterinários, técnicos e produtores de suínos baseados na ética profissional e em evidências científicas.
Ricardo T. Lippke – Gerente técnico suínos Brasil
Médico Veterinário (UDESC) com Mestrado em Sanidade Suína (UFRGS)
Experiência em 2 agroindústrias produtoras de suíno atuando como veterinário de campo, sanitarista e gerente de sítio 2 e 3
Luciana Fiorin Hernig – Coordenadora técnica de suínos
Médica Veterinária (UFRGS) com Mestrado em Fisiopatologia da Reprodução de Suínos (UFRGS)
Experiência em agroindústria produtora de suínos atuando como veterinária de campo, sanitarista da multiplicadora e supervisora de granja núcleo.
Aparecida Tatiane L. Fiúza – Coordenadora técnica de suínos
Médica Veterinária com Mestrado Reprodução de Suínos
Experiência em agroindústria produtora de suínos atuando como veterinário de campo e sanitarista de sítio 1 e 2.
Daniele de Lima – Coordenadora técnica de suínos
Médica Veterinária com Mestrado em Ciências Veterinárias
Experiência na área técnico-comercial de nutrição, e em agroindústria produtora de suínos, atuando como veterinária de campo e sanitarista de sítio 1 e 2.