As crises sanitárias desencadeadas na China têm se refletido na atividade econômica mundial. A pandemia do novo Coronavírus trouxe alterações no mercado nacional e internacional e essa conjuntura tem impulsionado intensas mudanças na produção de alimentos no Brasil, que mesmo em meio à crise tem cumprido o seu papel e garantido o abastecimento normal. Essas transformações instigaram a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e a MB Agro a realizarem um estudo sobre o mercado de alimentos e as projeções quanto aos diversos produtos do agronegócio para a próxima década. Em relação à carne suína, a pesquisa registrou crescimento na produção, na exportação e no consumo.
Segundo o “Outlook Fiesp 2029”, a carne suína deve apresentar um aumento na produção de 35% em relação a 2018, com 5,1 milhões de toneladas produzidas. A demanda doméstica deve crescer em 27%, chegando a 3,9 milhões de toneladas em 2029. Também está prevista a evolução no consumo per capita, saindo de 14,4 kg/hab/ano em 2018, para 17,2 kg/hab/ano em 2029. O mercado externo tem previsão de obter o maior nível de avanço, crescendo 68% em comparação com 2018.
Avanços nos sistemas produtivos
O setor suinícola vem enfrentando nos últimos dois anos desafios ligados à produção, devido à Peste Suína Africana, que afetou os rebanhos suínos de diversos países e em 2020, a pandemia do novo Coronavírus trouxe mais alterações no mercado nacional e internacional. Além disso, a guerra comercial entre os EUA e a China acabou reduzindo a competitividade dos produtos americanos e abrindo espaço para outros competidores. Com isso, o Brasil ganhou mais espaço na exportação da soja, com grande procura por parte dos chineses.
De acordo com o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, a análise do estudo da instituição aponta que o sistema de produção de alimentos na China e em outros países da Ásia passará por mudanças profundas e ampliará as possibilidades ao agronegócio brasileiro. Ele ressaltou ainda que haverá uma tendência de modernização das granjas, incorporação de um grande contingente de suínos, ampliando também o mercado de rações e assim, o Brasil terá destaque nesse cenário.
“Parece claro que as recentes pandemias sanitárias, em humanos e animais de criação, levarão a mudanças profundas nos sistemas produtivos: haverá a adoção de protocolos mais rígidos para a produção de carnes, aprimoramento das boas práticas de fabricação, maior profissionalização e intensificação da produção ao redor do mundo, em especial na Ásia, continente que deverá puxar de forma relevante o consumo de proteínas animais na próxima década”.
Desafios para o setor
Quanto ao mercado interno, o Outlook Fiesp 2029 mostrou que alguns fatores continuarão a influenciar o desempenho do setor agropecuário, como: as definições jurídicas sobre o tabelamento dos fretes; a recuperação judicial de produtores pessoas físicas; a Lei Kandir e; a continuidade do Convênio ICMS nº 100/1997.
Segundo o estudo, para o agronegócio brasileiro o cenário é relativamente estável para positivo em alguns casos. De um lado, a baixa taxa de juros implica a valorização dos ativos reais, em especial a terra. O ganho patrimonial decorrente da elevação do valor presente da atividade por causa da queda dos juros permite seguir o processo de alavancagem para expansão das atividades agrícolas.
A redução dos preços em reais dos fretes combinados com a desvalorização do real permitiu que o custo em dólares da logística brasileira caísse significativamente. Esse elemento se combina aos bons resultados operacionais da grande maioria das atividades agrícolas no Brasil, gerando um ambiente de capitalização expressivo.
Insumos
Outra possibilidade vislumbrada é a de destaque do mercado de insumos. No intuito de diluir o risco sanitário de tentar produzir toda a carne necessária ao abastecimento do seu mercado interno, é possível, segundo a pesquisa, que os chineses decidam ampliar as importações de soja e milho. Dada a dimensão da demanda chinesa, essa decisão pode impactar significativamente os mercados de proteína animal no Brasil. Um fator importante a ser ressaltado é que o sistema de distribuição de alimentos na China deve elevar o consumo de carne refrigerada ou congelada, para garantir padrões de qualidade superiores. Dessa forma, “na medida em que o sistema de frio se desenvolver no país, ficará muito mais fácil à carne importada participar de todos os canais de distribuição existentes na China. Vislumbra-se, portanto, uma oportunidade rara para a agricultura brasileira na próxima década”, indicou a avaliação da Fiesp.
De acordo com o presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS), Marcelo Lopes, a suinocultura tem trabalhado fortemente para aumentar os padrões de controle sanitários tanto para manutenção do desenvolvimento da cadeia, quanto para a preservação da saúde dos profissionais e consequentemente dos consumidores finais. “Esse estudo traz esperança para todos que hoje atuam com tanta cautela, adotando todas as medidas de prevenção e ao mesmo tempo, implementando as mudanças necessárias para garantir a qualidade do nosso produto. Nossos esforços trarão bons resultados e juntos vamos construí-los”.