Além de gerar energia limpa e renovável, as usinas eólicas movimentam a economia das regiões onde estão instaladas, aumentam os rendimentos das famílias que arrendam terrenos para a construção dos parques e ainda melhoram os indicadores de municípios que, em geral, têm poucas alternativas de desenvolvimento econômico.
A conclusão é de um estudo da consultoria GO Associados, encomendado pela Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica) e antecipado ao Valor. “Desde que vimos os primeiros parques eólicos serem instalados no Brasil, percebemos esse efeito socioeconômico. Mas faltava realmente medir as externalidades positivas”, afirma a presidente da entidade, Elbia Gannoum.
Segundo o estudo, os R$ 66,9 bilhões investidos na expansão do parque eólico brasileiro entre 2011 e 2019 se traduziram, devido ao efeito multiplicador, num impacto de R$ 262 bilhões na economia das regiões Nordeste e Sul, que concentram quase 100% dos empreendimentos eólicos do país. Com isso, geraram mais de 498 mil empregos por ano, em média, e R$ 45,2 bilhões em massa salarial. Em tributos, foram arrecadados R$ 22,4 bilhões.
Porém, um dos efeitos mais importantes da geração eólica aparece não nos grandes números, mas no universo “micro”, das famílias. Grande parte dos empreendimentos são construídos em terras arrendadas, e não compradas. Para quem aluga seu terreno – principalmente produtores rurais e agricultores de subsistência -, a chegada de um parque representa uma nova fonte de renda. “O sistema é quase como um Bolsa Família”, afirma Gesner Oliveira, sócio da GO Associados.
A partir de dados de 2018, a consultoria estimou que os pagamentos de arrendamentos alcançam em torno de R$ 165,5 milhões ao ano. Esse valor tem potencial de promover um ganho de R$ 524,6 milhões para a economia do Nordeste e Sul, gerando mais de 8 mil empregos e R$ 43,2 milhões em massa salarial.
“A eólica é talvez a única forma de produção de energia elétrica que não concorre com outras atividades econômicas no mesmo local. Ela tem um caráter complementar, porque a ocupação da terra [para instalação do parque] está em torno de 5%. Se você cria gado ou desenvolve uma atividade agrícola, você não precisa abrir mão disso para fazer a energia eólica”, ressalta Elbia.
O estudo conseguiu ainda constatar que os municípios com parques eólicos tiveram maior crescimento econômico, total e per capita, se comparados a outras cidades similares que não hospedam empreendimentos do tipo. A instalação das usinas aumentou em 21,15%, em média, o PIB municipal real. Já para o PIB municipal per capita, o efeito observado foi de 19,69%.
Já no âmbito social, o estudo também captou evoluções no Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), mas algumas análises foram um pouco prejudicadas pela defasagem dos últimos dados disponíveis.
A melhora da qualidade de vida da população se torna perceptível, porém, no nível de saneamento nos municípios com eólicas. Com base nos dados de Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) até 2018, observou-se que a instalação dos parques aumentou, em média, o índice de atendimento total de água em 6,98%.
Atualmente, o Brasil conta com 660 parques eólicos operacionais, que somam 17 GW de capacidade instalada, o equivalente a 10% da matriz elétrica brasileira. Os estados do Rio Grande do Norte e Bahia despontam como os dois maiores produtores da fonte eólica (4,8 e 4,5 GW, respectivamente), seguidos pelo Ceará (2,2 GW), Piauí (2,0 GW) e Rio Grande do Sul (1,8 GW).
No futuro, a presidente da Abeeólica acredita que novas fronteiras regionais serão desbravadas pela fonte renovável. De acordo com a executiva, a evolução tecnológica dos aerogeradores poderá permitir bons níveis de geração eólica mesmo em lugares onde os ventos não são tão potentes, como no Estado de São Paulo. “Nossas próximas fronteiras são a offshore [no mar], armazenamento e parques híbridos”, acrescenta.