Em uma iniciativa pioneira no País, as duas principais entidades nacionais do agronegócio – Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e Associação Brasileira da Proteína Animal (ABPA) – decidiram nesta terça-feira (08/05), em Chapecó, constituir um Comitê de Gestão de Crise para acompanhar e propor soluções para os sérios problemas criados no mercado internacional às carnes de aves e suínos do País.
A preocupação do Comitê é assegurar a sustentabilidade da vasta cadeia produtiva de carnes, o emprego dos trabalhadores nas indústrias e a viabilidade dos produtores rurais integrados. Por isso, a pauta prioritária já está estabelecida e tratará de quatro temas: a imagem dos produtos cárneos brasileiros no exterior; a flexibilização dos financiamentos pelos Bancos oficiais e privados; o suprimento de milho e a comunicação social. Na próxima terça-feira (15/05) o comitê já estará reunido para colocar em marcha as primeiras medidas.
“Precisamos estabelecer um pacto do tipo ganha-ganha entre produtor e indústria para que todos sejam adequadamente remunerados e para que, em situação de crise, todos suportem de modo proporcional às dificuldades”, disse o presidente da CNA João Martins da Silva Júnior.
O diretor da ABPA Ariel Mendes observou que é necessário reagir de forma articulada para evitar a perda de mercados duramente conquistados pelo Brasil. Europa e Ásia são os primeiros continentes que serão alvos de ações de recuperação de mercado.
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Santa Catarina (Faesc) José Zeferino Pedrozo defende uma atuação mais agressiva da diplomacia brasileira em defesa dos produtos nos grandes mercados mundiais.
A motivação para a criação do Comitê é o fato das companhias avícolas e de suínos enfrentarem dificuldades desde agosto do ano passado. O quadro agravou-se no último bimestre de 2017, quando várias empresas foram desabilitadas a exportar para a Europa. No mesmo período, a Rússia, que representava um grande comprador de produtos cárneos, suspendeu as importações. Nesse momento não há previsão de retomada desses mercados.
Simultaneamente, o suprimento do milho – principal insumo da cadeia – apresenta distorções causadas pela retenção dos estoques, pelos grandes cerealistas, para fins especulativos, o que eleva seu custo e encarece a produção de aves e suínos. O rebanho permanentemente alojado no Brasil é de quase 520 milhões de aves, o que exige volumes colossais do grão para sua manutenção.
O diretor executivo da Associação Catarinense de Avicultura (ACAV) e do Sindicato das Indústrias da Carne (Sindicarne) Ricardo de Gouvêa lembra que o frango vive seu pior cenário por duas causas não-mercadológicas: o consumo reduzido em face da perda de mercados e custo de produção elevado em face da baixa oferta do milho, matéria-prima abundante, mas estocada. Grande parte da produção destinada à exportação acabou permanecendo no mercado doméstico, criando expectativa de super oferta, enquanto a capacidade de armazenagem à frio, própria e de terceiros, está se esgotando.