A adição de ingredientes fibrosos em dietas de fêmeas gestantes é embasada na legislação europeia de bem-estar animal. Tendo em vista que durante esse período as reprodutoras precisam ter um controle de escore corporal para melhor resposta reprodutiva, as fibras têm a premissa de tornar a ração mais volumosa, trazendo sensação de saciedade e formação adequada da digesta. A nutrição atual no pré-parto (últimos 30 dias de gestação), por sua vez, consiste no aumento do conteúdo energético e aminoacídico a dieta com diminuição concomitante da quantidade de fibra. O principal objetivo dessa estratégia é garantir que o consumo das porcas supra as necessidades de deposição muscular nos fetos e inicie o adequado desenvolvimento da glândula mamária.
Fêmeas em pré-parto ingerem aproximadamente 3 kg de ração/dia com o intuito de assegurar crescimento fetal e do aparelho mamário, evitando ganho de peso excessivo e consequente balanço energético negativo grave durante a lactação que está por vir. A inclusão de fibra nas dietas pode, nesse caso, aumentar o preenchimento do trato gastrointestinal, propiciando maior saciedade. Porcas saciadas tendem a gastar mais tempo descansando, o que é altamente desejável para esse período. Nesse âmbito, ocorre diminuição da ocorrência de eventos agressivos (mordidas, cabeçadas, etc.) e movimentos repetitivos, que indicam mal-estar.
A gestação, por si só, diminui a atividade intestinal das porcas, devido ao preenchimento do corpo pela leitegada, o qual apresenta crescimento substancial nos últimos meses antes do parto. A diminuição de movimentos intestinais tem como reflexo direto o ressecamento das fezes e quadros de constipação, que geram extremo desconforto. Além disso, o funcionamento do intestino tem relação direta com o metabolismo da glândula mamária, tendo em vista que fezes retidas podem ser fonte de proliferação de toxinas, que podem cair na circulação e chegar aos tetos.
Dietas mais volumosas melhoram a qualidade das fezes no período anterior ao parto e nos primeiros dias de lactação. Estudos que avaliaram a inclusão elevada de fibra para fêmeas em terço final de gestação demonstram que no peri-parto as fezes já se apresentam menos secas e esse benefício é ainda maior nos primeiros dias após o nascimento dos leitões. Associado a isso, o grau de constipação pode ser diminuído drasticamente, particularmente naquelas porcas que sofrem grau extremamente severo de retenção fecal. O melhor fluxo intestinal acarreta, ainda, melhor padrão de consumo de água durante as primeiras semanas de lactação, o que evidentemente traz benefícios à produção e leite.
O início da lactação é um período particularmente delicado cujos dois dos principais problemas são baixa ingestão de colostro e os esmagamentos de leitões pela porca, ambos eventos acometem principalmente os neonatos de baixo peso. Como dito anteriormente, fêmeas em pré-parto alimentadas com alta fibra na dieta passam mais tempo deitadas devido ao comportamento ingestivo menos frequente. Entretanto, a pesquisa ainda não conseguiu revelar se esse mesmo comportamento ocorre na lactação, o que seria benéfico em relação à menor ocorrência de esmagamentos. Outro potencial benefício da inclusão dos ingredientes fibrosos para essa categoria de fêmeas (ainda não completamente elucidado) é o maior teor de gordura no colostro. As duas hipóteses mais prováveis são maior catabolismo de lipídios das reservas dessas fêmeas ou aumento da concentração de ácidos graxos no plasma das reprodutoras e consequente síntese de lipídios na glândula mamária.
Tomadas em conjunto, as evidências expostas confirmam o potencial da fibra em melhorar parâmetros comportamentais, fisiológicos e produtivos das fêmeas em fase final de gestação. Vale a pena ressaltar que os estudos com alta fibra preconizam níveis de 7-8% de fibra bruta/kg de dieta, o que caracteriza uma elevação considerável em relação ao que é usualmente adotado em nosso país (2-4% FB/kg). De qualquer forma, os resultados demonstram que o maior aporte fibroso nesse período pode trazer resultados mais satisfatórios na lactação subsequente.