Ha duas dores: a primeira é quando a relação termina, seguimos querendo, acostumando com a ausência, a sensação de rejeição, falta de perspectiva, já que ainda estamos tão envolvidos que não conseguimos ver luz no fim do túnel; a segunda dor é quando começamos a vislumbrar essa luz. Se luz no fim do túnel está sendo vista, adeus dor, não é bem assim? Mais ou menos. Há, como falei, duas dores, a mais dilacerante é a dor física da falta, dor de virar desimportante, não ser valorizado. Mas quando essa dor passa, começamos outro ritual de despedida: a dor de abandonar o amor que sentíamos, de esvaziar coração, remover saudade, ficar livre, sem sentimento especial por ninguém. E trabalhos anteriores. Dói também.
Na verdade, ficamos apegados ao trabalho tanto porque amamos o que fazemos. Muitos reclamam por não conseguir se desprender, que, sem se darem conta, não querem se desprender. Aquele amor, mesmo não retribuído, tornou-se suvenir de uma época bonita que foi vivida, passou a ser bem de valor inestimável, sensação com a qual a gente se apega. Faz parte de nós. Queremos, logicamente, voltar a ser alegres, disponíveis, mas para isso é preciso abrir mão de algo que nos foi caro por muito tempo, que de certa maneira entranhou-se na gente e que só com muito esforço é possível alforriar.
Dor mais amena, quase imperceptível, por isso, costuma durar mais do que a dor-de-cotovelo propriamente dita, dor que confunde. Parece ser aquela mesma dor primeira, mas já é outra. O que nos deixou já não nos interessa mais, mas interessa o amor que sentíamos por fazer o que fazíamos, aquele amor que nos justificava como profissionais, protagonistas, líderes, que nos colocava dentro de estatísticas: amo trabalhar assim logo existo. Despedir-se de um amor ou oficio não e fácil e profissionalmente, aposentado, agora, depois de 30 anos vivenciei isso e tive dores acima, que agora com maturidade consigo relatar, sabedor que ciclos começam e terminam. É despedir-se de si mesmo, o arremate de uma história que terminou, externamente, sem nossa concordância, mas que precisa também sair de dentro da gente.