Em pesquisa de 2015 do Greenpeace e do Observatório do Clima, 91% dos brasileiros dizem estar muito preocupados com a mudança do clima. A violência dos furacões nos Estados Unidos, que deixaram mais de um milhão de pessoas desabrigadas e devem causar prejuízos na ordem dos 100 bilhões de dólares, pode estar relacionada com a mudança do clima, já que a temperatura elevada da água é crucial para a formação do fenômeno.
As medidas para evitar eventos extremos e outras consequências das mudanças climáticas podem ser diversas. Entre os progressos nesta temática, o que mais se destaca é o compromisso entre quase 200 países em não deixar a temperatura global aumentar 2 graus, firmado no Acordo de Paris.
Contudo, o custo para o desenvolvimento de ações de mitigação e adaptação à mudança do clima ainda é um desafio e, para entender quais são as principais fontes de recurso para o financiamento climático para adaptação no Brasil, o Instituto Ethos, em parceria com o WWF-Brasil, realizou um mapeamento que será lançado na Conferência Ethos 360º de São Paulo, nos dias 26 e 27 de setembro. A autoria do estudo é do World Resources Institute (WRI).
Entre os principais resultados estão a identificação de 28 fundos internacionais e 20 nacionais que são potenciais fontes de investimentos acessíveis por organizações brasileiras, para implementar ações de adaptação no país. A maioria dos investimentos são para mitigação, com destaque para investimento em energia, agricultura e água, setores prioritários no Plano Nacional de Adaptação (PNA), lançado pelo Ministério do Meio Ambiente em 2016. “O foco do investimento em adaptação é crucial para apoiar os países na elaboração de estratégias de adaptação e resiliência aos impactos da mudança do clima. Contudo, inevitáveis diferenças entre os custos estimados para nos adaptarmos e o quanto de recurso já existe é muito grande. O relatório ‘The Adaptation Gap Report’, da UNEP, indica que para cumprir com as reais necessidades, precisamos aumentar em até 13 vezes o financiamento para adaptação. Preparar os territórios para estes fenômenos é primordial, é assumir que a mudança do clima já acontece e que temos que nos adaptar”, comenta Flavia Resende, coordenadora de práticas empresariais e políticas públicas do Instituto Ethos.
Conjuntamente com o mapeamento dos fundos, o estudo também procurou entender como as empresas veem as questões das mudanças climáticas em seus negócios e como elas estão agindo em relação a isso. O questionário aplicado a empresas revelou que em geral o engajamento com ações de adaptação ainda é incipiente. Apesar de metade das empresas entrevistadas declararem que incorporam riscos climáticos à sua cadeia de valor, a maioria não realiza avaliações periódicas de tais riscos e não inclui tais impactos no seu planejamento financeiro.
Entre as principais barreiras para o investimento apontadas pelas empresas estão o custo de investimentos, a falta de políticas públicas ou incentivos do governo e a escassez de informações sobre métodos, ferramentas e dados climáticos. Embora existam esses entraves, as companhias enxergam oportunidades de adaptação, entre elas, a redução de custos, a oportunidade de criar produtos e serviços e o fortalecimento da reputação da marca. Para isso, linhas de crédito bancários, como as oferecidas pelo BNDES, e fundos internacionais seriam as fontes de investimento preferidas.
Os fundos internacionais que investem no Brasil e explicitam adaptação são o IDB Infrastructure Fund, Climate Insurance Fund, Global Index Insurance Facility, Global Facility for Disaster Reduction and Recovery e o Adaptation Smallholder Agriculture Programme. Muitos são acessíveis pelas empresas, tais como o Infrastructure Fund e o Climate Insurance Fund. Existe uma diversidade de investidores tanto de bancos e agências multilaterais e de financiamento público ou privado. O BID e Banco Mundial são importantes agentes multilaterais assim como a Alemanha, Noruega e Inglaterra, agentes bilaterais, com investimento para tal no Brasil. Os principais instrumentos praticados são doações e empréstimos concessionais. Com relação aos setores do PNA, fundos internacionais investem mais em infraestrutura (energia), agricultura e biodiversidade.
Dos 20 fundos nacionais, a grande maioria se destina ao setor privado, sendo esta, portanto uma oportunidade para as empresas alavancarem seu protagonismo para agilizar a implementação de projetos e programas com foco na mudança do clima. Muitos dos fundos nacionais são programas de bancos públicos. Mapeamos programas do BNDES, da Caixa, Banco Nordeste e Amazônia, dentre outros. Foram mapeados dois bancos privados com programas relacionados aos esforços de adaptação: Santander e Bradesco. Dois fundos explicitam adaptação: Fundo Clima e Programa ABC e os principais em termos de aporte são o FNO Amazônia Sustentável Rural, Fundo Amazônia e Fundo Clima, todos esses com montantes na faixa dos bilhões de reais. Importante mencionar que o acesso às informações sobre o montante total dos fundos nacionais foi bem mais difícil do que o acesso aos fundos internacionais. Com relação ao PNA, os setores com maior número de fundos, em ordem decrescente são: biodiversidade e ecossistemas, energia e agricultura.
Importante destacar que, tanto com relação aos fundos internacionais quanto nacionais, os setores que menos tem disponibilidade de fundos são saúde, segurança nutricional e populações vulneráveis, dados bem preocupantes.