A agência de classificação de riscos Fitch Ratings rebaixou a nota de crédito da Tonon Bionergia em moeda local e estrangeira de B para B-. Também foram alteradas de B/RR4 para B-/RR4 as notas, sem garantia, de U$ 300 milhões, com vencimento em 2020, e os papéis de U$ 230 milhões com garantia e vencimento para 2024. Os ratings estão em observação negativa.
Segundo a agência, os rebaixamentos são o resultado do fraco perfil financeiro da empresa e da volatilidade do mercado de açúcar e etanol. Pesam sobre a Tonon a alta concentração de dívidas no curto prazo, a geração de fluxo de caixa livre negativo e o aumento dos níveis de alavancagem, relação entre a rentabilidade e o endividamento.
Com um prognóstico negativo para o setor sucroalcooleiro em 2015, a Fitch lembrou mais uma vez que o risco sistêmico vivido pelo segmento aumentou com o calote da Aralco e do grupo Virgolino de Oliveira, o que tem dificultado o acesso ao crédito.
A observação negativa reflete a preocupação da agência com o escalonamento das dívidas de refinanciamento da companhia. “A empresa tem rolado as dívidas vencidas com débitos de curto prazo num momento em que a disponibilidade de empréstimos sem garantia de curto e médio prazo estão cada vez mais escassos para a maioria das empresas brasileiras de açúcar e etanol. A Tonon não tem terras próprias para dar como garantia a novos financiamentos, o que torna o acesso a empréstimos de longo prazo ainda mais desafiador”, disse.
Mesmo considerando uma “maior competitividade” do açúcar no mercado de exportação” e a “melhora” do cenário da indústria de 2014 para 2015, com o aumento da mistura de anidro na gasolina e a volta da Cide, a Fitch ressalta que os preços do adoçante e do etanol representam um desafio a mais para a empresa, que terá que fortalecer sua geração de fluxo de caixa operacional.
“O aumento nos volumes de moagem e a geração de um fluxo de caixa operacional mais robusto no ciclo que se encerra em março de 2016 vão depender grandemente da manutenção de condições de clima favoráveis como as vistas em 2015”.
Risco de financiamento maior
Na avaliação da Fitch, a liquidez da Tonon é pressionada a medida em que as dívidas de curto prazo aumentam num ritmo maior que a geração de caixa. A fraca posição de caixa da empresa em 31 de dezembro, de R$ 159 milhões, é vista pela agência como “desfavorável” ante as dívidas de R$ 257 milhões observadas no curto prazo. No trimestre anterior, esta proporção era menor: as dívidas de curto prazo somavam R$154 milhões, enquanto R$ 148 milhões estavam disponíveis no caixa da empresa.
Os maiores riscos de financiamento também são o resultado de uma geração de fluxo de caixa negativo, o qual é pressionado fortemente pelos investimentos feitos pela companhia na ampliação da capacidade de moagem, que aumentará de 8,2 para 9 milhões de toneladas.
“A Fitch espera que a geração de fluxo de caixa da Tonon continue negativa nos próximos dois anos, mesmo com a redução de Capex de R$ 260 milhões para o ano fiscal de 2016, após o fim [do projeto] de expansão da capacidade [de suas usinas]”.
Perspectivas para a safra 2015/16
Em seu relatório a Fitch fez ainda apostas quanto aos resultados da Tonon na safra 2015/16.
Segundo projeções da agência, a moagem das três usinas da Tonon deve ficar em 8 milhões de toneladas em 2015/16, com um aumento de 2% nos próximos ciclos. Já o mix deve permanecer praticamente inalterado no período, com 56% da moagem destinada à produção de açúcar e 44% à fabricação de etanol.
Para a safra 2015/16 de açúcar do hemisfério norte, a Fitch projeta um preço médio de 14 c/US$/libra. Só é esperada uma recuperação a partir de 2016/17 e 2017/18, quando as cotações da commodity poderão alcançar 16 e 17 c/US$/libra, respectivamente.