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Exportação

China 'aperta' Hong Kong e afeta exportações brasileiras de carnes

As autoridades do país apertaram o cerco a Hong Kong, reforçando o combate à triangulação de carnes na verdade destinadas ao seu mercado, uma prática comum.

China 'aperta' Hong Kong e afeta exportações brasileiras de carnes

Apesar do movimento gradual de retomada das importações de carnes pelos países dependentes das receitas do petróleo, os frigoríficos brasileiros foram surpreendidos negativamente em abril e voltaram a amargar redução no volume embarcado para o exterior. A ‘vilã’ é a China. As autoridades do país apertaram o cerco a Hong Kong, reforçando o combate à triangulação de carnes na verdade destinadas ao seu mercado, uma prática comum.

Sinais das restrições chinesas a Hong Kong já se manifestavam desde o início do ano, mas o alerta aos frigoríficos brasileiros soou mesmo em abril. Até então, as dificuldades para vender carne a Hong Kong eram vistas como “temporárias” e as atenções das companhias estavam voltadas para países produtores de petróleo como Rússia e Venezuela, cujas compras de carnes do Brasil desabaram em meio ao declínio dos preços da commodity.

Agora, com a retomada das exportações de carnes para esses países – que puderam ‘respirar’ com a reação das cotações do petróleo -, Hong Kong concentra as preocupações. “Foi surpreendente porque esperávamos que o ciclo de recuperação começaria”, afirma o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra. A APBA representa a indústria brasileira de carnes de frango e suína.

De acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) compilados pela associação, as exportações totais de carne de frango atingiram 336,9 mil toneladas em abril, queda de 6,6% na comparação com as 360 mil toneladas de igual período do de 2014. No caso de Hong Kong, quarto mercado para a carne de frango do país, os embarques caíram 23%, para 20,3 mil toneladas.

Conforme Turra, essa redução está diretamente associada ao combate à triangulação. “A China está fechando um pouco as portas para as importações de carne de Hong Kong. Todos os anos há uma ameaça que não dura muito, mas este ano a China promete endurecer mesmo”, afirma Turra, citando relatos de representantes do segmento no país asiático.

Mas a queda das vendas não seria necessariamente um problema, afirma Turra. Para as empresas brasileiros de carne de frango, é mais vantajoso vender diretamente para a China continental, que oferece preços maiores do que Hong Kong. No entanto, o presidente da ABPA alerta para o fato de que, com as 29 unidades atualmente autorizadas a exportar para o país asiático, não seria possível compensar todo volume vendido para Hong Kong – em abril, a China já comprou mais carne de frango do Brasil do que a cidade-Estado. “Precisamos urgentemente da habilitação de novas plantas”, diz.

Nesse sentido, Turra demonstra otimismo com a visita ao Brasil do primeiro-ministro da China, Li Keqiang, neste mês. Segundo ele, há sete frigoríficos brasileiros de carne de frango prontos para serem habilitados, à espera apenas da publicação, o que é considerado um gesto político uma vez que a fase técnica de missões sanitárias já se encerrou. “Não dá para perder um dos mercados mais preciosos”, afirma.

Entre os frigoríficos de carne bovina, a avaliação é que as restrições da China a Hong Kong também afetaram o resultado das exportações, ofuscando a recuperação de Rússia e Irã, afirma Antonio Camardelli, presidente da Abiec, entidade que representa os exportadores do ramo. “A expectativa que nós tínhamos era que abril fosse dar um primeiro avanço. Tínhamos certeza que os países produtores de petróleo aumentariam as compras”, diz. Entretanto, as vendas para Hong Kong registraram forte queda.

No mês passado, as exportações brasileiras de carne bovina totalizaram 107,7 mil toneladas, redução de 8,8% na comparação com as 118,1 mil toneladas de igual período do ano passado. Principal comprador da carne brasileira, Hong Kong reduziu os embarques em 33,2% na mesma comparação, a 21,2 mil toneladas. Na prática, a queda das vendas para Hong Kong, de 10,5 mil toneladas, superou o recuo geral, de 10,3 mil toneladas.

Para os próximos meses, Camardelli é mais otimista, em boa medida pelo possível anúncio de reabertura do mercado da China à carne bovina brasileira. Os chineses não compram diretamente carne do Brasil desde o fim de 2012, quando suspenderam as compras após a detecção de um caso “atípico” do mal da “vaca louca” no Paraná.

No ano passado, o então ministro da Agricultura do Brasil, Neri Geller, anunciou um acordo para retomar as vendas para os chineses, mas a efetivação desse pacto passou a depender da elaboração de um novo certificado sanitário. Agora, as autoridades chinesas e brasileiras praticamente acertaram o novo certificado, e a expectativa é que o anúncio ocorra na visita do primeiro-ministro chinês.

Além do otimismo com a abertura do mercado chinês, Camardelli também acredita em recuperação das vendas para Hong Kong. “O volume de maio seguramente vai ser maior”, afirma. Essa avaliação é corroborada pelo diretor-presidente da Marfrig Beef Brasil, Andrew Murchie. “Já normalizou novamente”, disse ele na última sexta-feira, em entrevista a jornalistas. A Marfrig Beef Brasil é a terceira maior exportadora de carne bovina do país.

Confiante na retomada de Hong Kong, o presidente da Abiec também destaca a retomada das vendas para a Rússia, segundo maior importador da carne brasileira. Em abril, as vendas para os russos cresceram 9,3%, somando 22 mil toneladas. No acumulado do ano, as exportações para a Rússia ainda apontam queda de 30,3%. “Continuamos otimistas com Rússia e Irã, principalmente”.

Embalado por essa recuperação e também pela perspectiva de aumento das vendas para países como África do Sul, Iraque, bem como a iminente reabertura do mercado da Arábia Saudita, Camardelli reafirma a projeção de que a exportações vai deslanchar no segundo semestre a bater novo recorde, ultrapassando a receita de US$ 7,2 bilhões alcançada no ano passado. Também há possibilidade de abertura neste ano do mercado dos EUA à carne bovina in natura do Brasil indicou recentemente a ministra da Agricultura, Kátia Abreu.