A produção brasileira de carne suína tem na coordenação agroindustrial sua principal estrutura de governança, com aproximadamente 75% da produção sendo realizada no sistema de contratos de integração, onde apenas três empresas, BRF, JBS e Aurora, possuem 21 plantas frigoríficas que respondem por mais de 50% de toda carne suína produzida no país. É natural então que o crescimento da atividade dependa fortemente do crescimento do segmento agroindustrial. Depois de um período de grandes investimentos, entre os anos 2000 até 2007, impulsionado pelo acesso da carne suína brasileira no mercado internacional, o setor industrial passou por uma série de transformações entre 2008 e 2013, com aquisições, fusões e novos entrantes no mercado de suínos, e agora parece pronto para um novo ciclo de crescimento.
No início dos anos 2000 a produção de carne suína no Brasil, assim como a de frango, era disputada pela Sadia e Perdigão, agroindústrias com mais de 50 anos de história neste mercado e que desenvolveram um eficiente sistema de integração. No período de 2000 a 2007 a Sadia incorporou a Granja Rezende, em Uberlândia, e a Perdigão iniciou o projeto Buriti, em Rio Verde, Goiás, marcando o deslocamento das duas principais agroindústrias para o Centro-Oeste. Posteriormente, a partir de 2005, a Sadia iniciou seu projeto em Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso, último grande projeto de integração de suínos do Brasil. Depois dessa linha de frente estavam as cooperativas, com liderança da Coopercentral Aurora, cuja participação no mercado de suínos crescia em importância sobretudo no sul do país.
No período seguinte, a partir de 2008, o setor agroindustrial passou por uma série de transformações, com a fusão entre as duas principais empresas líderes, em 2009, após uma séria crise financeira que derrubou o valor de mercado da maior agroindústria nacional, a Sadia. A nova empresa criada da fusão entre Sadia e Perdigão, a BRF, ainda levaria alguns anos para consolidar a integração entre duas culturas empresariais bastante distintas. Tanto é que somente em 2013, com a chegada do empresário Abílio Diniz para presidir o conselho de administração, a empresa voltou a crescer, com investimentos tanto no mercado doméstico quanto sua estreia industrial no mercado internacional, com a construção de uma fábrica em Abu Dabhi no final de 2014.
Também é deste período a entrada da JBS no mercado brasileiro de carne suína, com a aquisição da Seara em 2013, companhia que havia sido adquirida anteriormente pela Marfrig quando comprou a operação da americana Cargill em 2009. No período de quatro anos em que a Marfrig administrou a Seara, a marca ganhou musculatura com a aquisição de outras empresas como os frigoríficos Mabella e Da Granja, além de vários ativos que a BRF foi obrigada a se desfazer no momento da fusão, como as marcas Rezende, Doriana e Fiesta. Dessa forma, a JBS assumiu a segunda posição do mercado de aves e suínos do Brasil, retomando assim a disputa entre duas gigantes pela preferência do consumidor brasileiro.
Após esse período de intensas transformações no segmento agroindustrial, e passado também o momento de maior alta das commodities agrícolas, que impactaram em crise nos setores de aves e suínos em 2012, devido aos elevados custos de produção, nota-se uma retomada dos investimentos na produção de carne suína, que vai impulsionar o crescimento setorial e refletir no aumento dos abates nos próximos cinco anos. Este novo ciclo de investimentos vai além das empresas líderes, já que há também um forte movimento de pequenas e médias empresas frigoríficas, cooperativas e a ampliação da produção dos maiores suinocultores individuais.