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Importação de etanol dos EUA irrita a indústria do Nordeste

Com bandeira asiática, o navio Sichem Paris deve atracar na próxima quinta-feira no Porto do Itaqui, no Maranhão, trazendo 12 milhões de litros de etanol de milho produzido nos Estados Unidos.

Importação de etanol dos EUA irrita a indústria do Nordeste

Com bandeira asiática, o navio Sichem Paris deve atracar na próxima quinta-feira no Porto do Itaqui, no Maranhão, trazendo 12 milhões de litros de etanol de milho produzido nos Estados Unidos. Com a demanda de distribuidores de combustível do Nordeste em alta, pelo menos um navio com etanol americano deve chegar à região a cada 45 dias em 2014, segundo estimativas da Alphamar, agência responsável pela contratação. A expectativa é de que entre janeiro e abril devem entrar no país de 80 milhões a 100 milhões de etanol americano, a maior parte pelo porto maranhense, apurou o Valor com fontes do setor.

O Brasil começou a importar etanol dos Estados Unidos em volumes mais significativos em 2011, quando entraram no país 1,16 bilhão de litros. Em 2012, o volume recuou para 553 milhões de litros e em 2013, para 60 milhões, segundo dados da Secex. O etanol importado é do tipo anidro que, no Brasil, é misturado na gasolina na proporção de 25%. O produto desembarca dos Estados Unidos pronto para ser misturado. Segundo um trader de etanol, a produção do Nordeste, mais uma vez frustrada por problemas climáticos, será suficiente para atender em torno de seis meses de consumo da própria região e quase nada dos Estados da região Norte.

Ainda, segundo o mesmo trader, o Centro-Sul, que está agora na entressafra da cana-de-açúcar, tem etanol anidro suficiente para atender a própria demanda e também vem vendendo produto para a Bahia. “Mas não consegue suprir o déficit em todo o Norte e Nordeste”, diz o especialista em comércio de etanol.

No entanto, a importação de biocombustível em plena safra da cana no Nordeste irrita os representantes locais da indústria sucroalcooleira. O presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Pernambuco (Sindaçucar), Renato Cunha, classificou a importação como uma operação “esdrúxula”, que arrasa uma rentabilidade já bastante comprometida e que aumenta o risco de desemprego no setor.

As críticas ganharam força com a decisão do governo federal, anunciada no fim do ano passado, de isentar de PIS e Cofins as importações de todos os tipos de álcool até o fim de 2016. “É mais uma distorção inexplicável, que fortalece as operações de importação em detrimento da produção nacional. Não faz sentido um país que diminuiu o superávit comercial em 86% entre 2012 e 2013 incentivar um déficit ainda maior com essa desoneração”, disse Cunha.

Ao lado de outros representantes do setor, o dirigente se reuniu em novembro passado com a direção da Agência Nacional do Petróleo (ANP) para expor suas preocupações. Conseguiu apenas um compromisso da agência de fiscalizar a qualidade do etanol que vai desembarcar em Itaqui.

O gerente da Alphamar, Arthur Neto, disse que o bom resultado da safra de milho nos Estados Unidos, aliada à demanda elevada no mercado interno, deve garantir que novas cargas de etanol cheguem ao Brasil durante todo o ano. “Planejamos um navio desse porte a cada 45 ou 60 dias”, afirmou o executivo. Segundo ele, o combustível vai abastecer os postos do Maranhão e de alguns Estados do Nordeste.

O etanol americano chega ao país em plena safra da região Nordeste, que vai de setembro a fevereiro. Apesar do volume discreto de produção regional (pouco menos de 2 bilhões de litros por safra), o etanol nordestino costuma abastecer não somente o mercado local, mas também outras regiões do país. “Defendemos que essa importação seja proibida nesse período”, argumenta Cunha.

Pioneiro de outrora, o Nordeste representa hoje menos de 10% do setor sucroalcooleiro nacional. Está prevista para a safra 2013/2014 a moagem de 54 milhões de toneladas de cana na região, queda de 10% em relação à safra anterior, recuo motivado basicamente pela seca que afligiu o Nordeste nos últimos dois anos. A produção nacional está estimada em 640 milhões de toneladas na atual safra.

No ano passado, os produtores do Nordeste conseguiram uma subvenção do governo federal no valor de R$ 12 por tonelada (limitado a 10 mil toneladas por produtor) por conta dos prejuízos causados pela seca. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) informou ontem que a subvenção vai continuar em 2014, quando devem ser desembolsados R$ 109 milhões.