Os preços do trigo no Brasil subiram mais de 40% em 2013 e pressionaram com força os preços dos derivados. A farinha de trigo ficou 47% mais cara, o pão francês, 14%, e as massas, 20%. Esses itens, que representam juntos 2,2% dos gastos das famílias brasileiras, devem continuar em alta em 2014, diante de uma nova onda de escassez do cereal no Mercosul, principal fornecedor do Brasil.
A participação dos derivados do trigo nos índices de inflação cresceu ano passado. Massas, farinhas, biscoitos e pães representaram 5,68% do Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), medido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), que foi de 5,63% em 2013. No ano anterior, essa participação no IPC-S havia sido de 3,8% e o índice ficara em 5,74%.
Segundo dados compilados pela Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo), o preço do cereal no mercado interno foi em 2013, em média, 43,5%, mais alto do que em 2012, com a tonelada a R$ 772. Por consequência, o aumento foi repassado na cadeia, para os preços da farinha e dos outros derivados.
A associação que representa as indústrias de macarrão e pão industrializado, a Abima, estima que o reajuste do segmento em 2013 tenha sido de 20%. “A farinha de trigo tem um peso de 60% a 70% no custo total das massas”, explica o presidente da Abima, Cláudio Zanão.
O reajuste no pão francês também não ficou atrás. Foi em 2013, de 14%, quase o dobro do registrado em 2012, de 7,7%, conforme dados divulgados pela Abitrigo com base no índice da FGV.
O peso dos derivados de trigo na renda das famílias, de 2,2%, é relativamente importante, diz o economista do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), André Braz. “Com pagamento de condomínio, por exemplo, as famílias despendem 2,4% de sua renda”, compara o economista.
Mas o aumento dos preços das massas e pães industrializados, por exemplo, não provocou inibição do consumo. “Também não crescemos. Houve uma estabilidade”, diz o presidente da Abima. Zanão acredita que, apesar da alta, os preços das massas ainda são acessíveis se comparados a outras classes de produtos alimentícios. O dirigente da Abima não acredita em queda dos preços do trigo – e nem dos derivados – em 2014. “A oferta no Mercosul ainda será escassa. O melhor dos cenários, é de manutenção dos preços atuais, que já estão em um patamar elevado”, afirma Zanão.
A elevação dos preços do trigo se intensificou em 2012 com a quebra da safra do cereal no Brasil e uma redução sistêmica na produção argentina, que já chegou a 16 milhões de toneladas por ano e que há alguns anos não passa de 10 milhões de toneladas.
Com isso, em 2013, o Brasil, que consome por ano 11 milhões de toneladas do cereal, teve que comprar de fora do Mercosul a maior parte da sua necessidade de importação, que é da ordem de 6 milhões de toneladas anuais. No ano passado, os moinhos brasileiros importaram 6,6 milhões de toneladas de trigo, sendo 3 milhões dos Estados Unidos, conforme a Secex/MDIC.
Por enquanto, é de origem americana o que ainda resta de estoque de trigo nos moinhos do país, diz o presidente do Sindicato da Indústria do Trigo de São Paulo (Sindustrigo-SP), Christian Saigh.
Com a indefinição da Argentina sobre a data de liberação dos embarques do cereal, os moinhos brasileiros estudam importar 50 mil toneladas do grão do Uruguai. A medida deve ser tomada nas próximas semanas para que haja tempo hábil para a carga chegar ao Brasil até fevereiro, quando acabam os estoques de trigo americano.
Segundo Saigh, uma reunião que deveria ter sido realizada na terça-feira na Argentina para definir a data de liberação de exportação foi adiada para a próxima segunda-feira, dia 13.
Em torno de 750 mil toneladas de trigo argentino já foram comprados pelos moinhos brasileiros, de um total de 1,5 milhão de toneladas que devem ser liberadas para exportação, segundo Saigh. “Os vendedores já tinham licença para comercializar o trigo. Agora falta a autorização para embarcá-lo”.