Os cortes expressivos na estimativa de produção e estoque final de milho na safra 2013/14 dos EUA, indicados na sexta-feira pelo relatório de oferta e demanda mundial do Departamento de Agricultura do país (USDA), pegaram o mercado no contrapé e fizeram disparar os preços do grão na bolsa de Chicago. Mas a perspectiva de um cenário de alta para o milho parece distante de se confirmar.
“Foi mais pelo mercado ter sido pego de surpresa do que por uma mudança na tendência de baixa de médio e longo prazos. Os agentes entraram muito vendidos no relatório, por isso a alta de quase 5% no último pregão [para US$ 4,4075 por bushel]”, disse Pedro Dejneka, da PHDerivativos Consultoria.
Havia entre os analistas a expectativa de que o USDA elevasse a previsão para os estoques finais de milho dos EUA, em relação à projeção de dezembro, mas o órgão fez uma redução de 9%, para 41,44 milhões de toneladas. O volume, contudo, é quase o dobro das 20,86 milhões de toneladas estocadas nos EUA na safra passada.
O USDA também rebaixou em 0,45%, para 353,72 milhões de toneladas, a projeção da colheita de milho nos EUA em 2013/14 – volume ainda 30% superior ao de 2012/13, quando as lavouras americanas sofreram com uma seca. Por outro lado, a projeção para a demanda americana foi incrementada em 2,5 milhões de toneladas (0,86%), para 297,19 milhões de toneladas, em função do aumento no consumo de etanol e do uso do grão na ração animal.
Já a estimativa para a produção mundial de milho foi cortada em 0,27% ante dezembro, a 966,92 milhões de toneladas. A estimativa para a safra brasileira permaneceu em 70 milhões de toneladas.
De acordo com Dejneka, o enorme posicionamento de venda por parte dos fundos, que contavam com um relatório baixista, pode levar a novas coberturas de posições, que elevariam os preços. “Mas vejo o milho ‘preso’ entre US$ 4,20 e US$ 4,50 por bushel no curto e médio prazos”.
Com o trigo, o efeito do relatório foi contrário ao do milho. A elevação na previsão para os estoques do cereal nos EUA derrubou os preços em Chicago. Os papéis para maio caíram 2,45% na sexta-feira, a US$ 5,75 por bushel. O USDA aumentou em quase 6%, a 16,55 milhões de toneladas, a projeção para os estoques americanos de trigo ao fim de 2013/14. O número reflete a queda de quase 2 milhões de toneladas na estimativa para a demanda doméstica por trigo nos EUA, para 34,69 milhões de toneladas.
A produção mundial de trigo foi revista para cima em 0,17%, a 712,66 milhões de toneladas, enquanto a estimativa para os estoques globais avançou 1,43%, a 185,40 milhões de toneladas.
No caso da soja, o USDA indicou que a demanda mundial deve crescer, mas a um ritmo menor que a oferta – favorecida, até o momento, pelo clima benéfico na América do Sul, onde a safra 2013/14 está na reta final de plantio. O órgão americano projetou uma alta de 0,66% na colheita global da oleaginosa em 2013/14, a 286,83 milhões de toneladas – 7% superior ao de 2012/13. A demanda foi revista para cima em 50 mil toneladas, a 270,92 milhões de toneladas.
O crescimento na previsão reflete o maior otimismo com as colheitas dos EUA (alta de 0,95% ante dezembro, para 89,51 milhões de toneladas) e do Brasil (avanço de 1,13%, a 89 milhões de toneladas). Os estoques finais mundiais de soja também foram elevados em 2,4% ante o previsto no mês passado, a 72,33 milhões de toneladas.
Segundo o USDA, o Brasil continuará na liderança das exportações de soja, com 44 milhões de toneladas. Na sexta-feira, o contrato da oleaginosa para março fechou a US$ 12,7850, em alta de 0,37%.