Os fretes agrícolas rodoviários no Brasil devem sofrer um reajuste da ordem de 10 por cento na safra 2013/14, que já começou a ser colhida, refletindo os reajustes do preço do óleo diesel no ano passado e a forte demanda por caminhões em ano de safra de grãos recorde.
A alta no custo com o transporte, que ocorrerá sobre os elevados patamares atingidos no ano passado, quando uma nova legislação trabalhista impôs limites à carga horária diária de caminhoneiros, é mais um desafio para o agronegócio, que lida com uma logística deficitária e fortemente baseada no modal rodoviário.
A Petrobras aprovou três reajustes para o diesel nas refinarias ao longo de 2013: 5,4 por cento em janeiro, 5 por cento em março e 8 por cento em novembro.
“Teve 15 por cento de aumento (nos postos) sobre uma fração muito importante do frete”, disse Neuto Reis, diretor técnico da NTC&Logística, associação que reúne mais de 3 mil transportadoras do país.
O óleo diesel, segundo Reis, responde por até 40 por cento dos custos dos fretes de longa distância, como os que levam a produção de grãos do interior do país até os portos e indústrias.
O aumento do preço do frete deve refletir também a escassez de caminhões para atender a grande demanda durante a colheita da safra recorde.
A safra brasileira de soja –principal produto agrícola de exportação do país– deverá crescer mais de 10 por cento este ano, passando de 90 milhões de toneladas.
“O grande problema é a disponibilidade de caminhões”, disse a pesquisadora Natália Trombeta, da Esalq Log, braço de pesquisas sobre logística da conceituada Escola Superior de Agricultura, que estimou o reajuste médio do frete em 10 por cento.
Levantamentos da entidade mostram que o pico do preço do frete na última safra ocorreu em março e abril, mas pode ser antecipado este ano.
A consultoria AgroConsult alertou que praticamente todo o volume adicional a ser colhido este ano deverá ser de soja precoce, antecipando o pico de colheita e de escoamento e pressionando o sistema logístico do país.
“Uma parte (do frete), as tradings já se preveniram, já contrataram para não ficarem na mão. Mas como a safra é grande, pode haver alguma falta de caminhão”, disse Reis.
Novos patamares – Os preços de frete em 2014 serão fixados já dentro do novo patamar estabelecido em 2013, ano em que o setor sofreu o choque de uma nova legislação e altas que surpreenderam as empresas do setor de grãos.
O frete entre Mato Grosso e o porto de Santos em março, por exemplo, saltou 35 por cento de 2012 para 2013, passando de 225 reais para 305 reais por tonelada, segundo levantamento da Esalq Log.
A chamada Lei do Caminhoneiro, que entrou em vigor às vésperas do escoamento da última safra, reduziu o tempo dos motoristas ao volante, enxugando a oferta de frete no mercado.
A Associação Nacional de Exportadores de Cereais (Anec) estimou prejuízo de 2,5 bilhões de dólares para as empresas do setor em 2013, devido a fatores que incluíram a elevação não esperada no custo do frete rodoviário.
“Houve resistência de muitos embarcadores de receber esse repasse (no preço do frete). Qualquer impacto que não tenha sido repassado no último ano, terá que ser repassado nesta nova temporada”, disse o presidente da Federação das Empresas de Transportes de Cargas de São Paulo, Flávio Benatti.
“A expectativa não é de ter aquela inflação do ano passado”, disse o analista da Informa Economics FNP, Aedson Pereira, referindo-se à disparada de preços de 2013.
Ele estima preços 5 a 10 por cento mais elevados para o frete nesta nova safra, já dentro dos novos patamares do mercado de cargas e com uma menor corrida para os portos, uma vez que os Estados Unidos recuperaram-se nas exportações de grãos, reduzindo um pouco a pressa dos compradores internacionais em buscar suprimentos no Brasil.