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Rio Grande do Sul tem seu próprio "shale gas"

Pesquisador diz ser possível perceber a ocorrência do folhelho em regiões como São Gabriel, Bagé e Dom Pedrito.

“Nós temos shale gas aqui no Rio Grande do Sul, sim.” Quem atesta a presença no Estado de um “similar” da grande reserva energética dos norte-americanos é o geólogo Sandor Grehs. O pesquisador revela que, quando se formou na Ufrgs, em 1965, ele próprio tirou gás e óleo de folhelho encontrado na chamada Formação Irati (localizada na Bacia do Paraná, que abrange enorme área dentro do território gaúcho).

Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), “shale” é um termo em inglês que significa folhelho, uma categoria de rocha sedimentar constituída, em sua maior parte, por minerais de argila. Muitas vezes, é chamado equivocadamente de xisto. No caso do Estado, reitera Grehs, os recursos encontram-se, fundamentalmente, na Formação Irati, uma camada que varia de 30 a 70 metros e que está, normalmente, localizada em cima das camadas de carvão. O estudioso diz que se pode perceber a ocorrência muito grande do folhelho em regiões como a de São Gabriel, Bagé e Dom Pedrito. “Em São Gabriel, está na flor da terra”, afirma. Grehs diz que há potencial em outros estados, como em Santa Catarina e Paraná.

O geólogo comenta que, com a evolução da tecnologia da perfuração de poços horizontais em profundidade e com o controle ambiental desses poços, hoje a exploração do shale gas se tornou economicamente viável, com menor impacto no Canadá e nos Estados Unidos. Conforme Grehs, essas duas nações possuem legislações muito severas a respeito desse assunto. O pesquisador informa que nesses países é feito todo um trabalho de hidrogeologia para adotar medidas preventivas. “É claro que sempre existem riscos”, admite o geólogo. Uma das possibilidades é a poluição de águas subterrâneas.

No caso do Brasil, Grehs adverte que, antes de aproveitar esse recurso energético, é preciso ter todo um conhecimento prévio que o País ainda não possui. Antes disso, o geólogo defende que deveriam ser implementados vários projetos pilotos de demonstração no período de cinco a dez anos. “Para depois pensar em um aproveitamento mais extensivo.” Porém, Grehs sustenta que é um potencial que o Brasil deveria começar a desenvolver através de pesquisas, envolvendo institutos e universidades.

O pesquisador projeta que o aproveitamento do shale gas pelos norte-americanos fará com que, até o ano de 2020, os Estados Unidos não dependam mais de petróleo importado. Além disso, o estudioso diz que a produção de energia do shale gas tem menos impacto do que a do carvão. Contudo, Grehs complementa que o assunto tem gerado polêmica. “Em nenhum momento descarto a variável ambiental, eu só estou dizendo que, nos locais em que estão produzindo, que é o caso do Canadá e dos Estados Unidos, há o controle ambiental muito sério”, frisa.

Grehs lembra que, no País, o folhelho já é explorado pela Petrobras há cerca de 40 anos, em escala reduzida, em São Mateus do Sul, no Paraná. O processo foi chamado de Petrosix. O geólogo explica que a estatal escava e tritura o mineral. “Só que, ao triturar, 90% é resíduo, então é um processo que se torna inviável ambiental e economicamente”, aponta.

Greenpeace alerta para o impacto ao meio ambiente com a exploração da fonte fóssil

A exploração do shale gas implica fortes impactos ambientais, apesar de isso não estar presente nos discursos oficiais das empresas e do governo, acusa a coordenadora da campanha de Clima e Energia do Greenpeace, Cristina Amorim. Segundo a ambientalista, cada vez há mais registros de contaminação de ar e de água devido ao aproveitamento desse recurso.

A integrante do Greenpeace acrescenta que o escape do metano durante o processo de exploração é maior do que se pensava inicialmente. “Então, aquele discurso de que o shale gas está reduzindo as emissões norte-americanas de gases de efeito estufa terá que ser revisto”, frisa. A dirigente ressalta ainda que uma série de produtos químicos é utilizada na produção do gás, e muitos desses elementos são nocivos à saúde humana.

Cristina admite que toda a fonte de energia causa reflexos, entretanto algumas mais do que as outras. Para ela, não seria necessário explorar o shale gas. O objetivo deveria ser abandonar o emprego das fontes fósseis. De acordo com a ambientalista, é possível investir em energia renováveis, diversificação da matriz energética e em práticas de eficientização.

Quanto ao Brasil, Cristina afirma que, por ter uma vasta oferta de possibilidades, como o vento, o sol e a biomassa (matéria orgânica), não seria necessário explorar o gás de folhelho. No entanto, ela lamenta que o que se vê são escolhas infelizes na direção das fontes fósseis.