Em meio a discussões sobre a mistura de etanol na gasolina e medidas que tragam solução para a crise no setor sucroenergético, empresas já investem mais de US$ 200 milhões na produção do biocombustível de segunda geração (2G), produzido através da palha e do bagaço de cana-de-açúcar. É o caso da GranBio, que deve inaugurar a primeira fábrica do Hemisfério Sul ainda este ano, em Alagoas.
Sobre este investimento que vai na contramão do setor, o presidente do Grupo Maubisa, Maurílio Biagi Filho, acredita que o etanol de 2G vai abrir portas para um progresso tecnológico.
“Minha consideração de mercado é que já temos problemas de preço com o biocombustível de primeira geração [produzido a partir da cana], também será difícil apostar no de segunda. Porém, o importante é que será mais uma tecnologia dominada e [sobre a crise] não há mal que dure para sempre”, enfatiza.
Biagi cita o empreendimento da Raízen, do grupo Cosan e Shell. Trata-se de uma fábrica de etanol na região de Piracicaba, cujas previsões iniciais de inauguração eram para este ano, com investimentos em torno de R$ 240 milhões e capacidade para produzir 40 milhões de litros do biocombustível. Entretanto, o presidente destaca o empreendimento da GranBio como o mais avançado do mercado atualmente.
Segundo a assessoria de imprensa da companhia, a planta recebeu investimento inicial de US$ 200 milhões e passou por processos de expansão durante sua construção. Situada no município de São Miguel dos Campos, em Alagoas, tem capacidade para produzir 82 milhões de litros de etanol por ano.
“Já estamos em fase final de testes. A GranBio fechou parcerias com institutos de tecnologia e vai produzir tanto a partir do bagaço quanto da palha da cana. Será a primeira usina inaugurada no Brasil e no Hemisfério Sul para o segmento, e trabalhará desde a matéria-prima até o produto final”, diz a empresa.
Para produzir o etanol 2G no Brasil, a GranBio fechou parceria com a BioChemtex, do grupo Mossi Ghisolfi, desenvolvedora de tecnologias para conversão de biomassa utilizada na planta comercial da BetaRenewables – primeira no mundo a operar, na Itália. A companhia também é parceira da dinamarquesa Novozymes, para enzimas, e da holandesa DSM, fornecedora de microrganismos para fermentação.
O professor no Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), Marcos Buckeridge, conta que foram descobertos 20 ligações químicas na cana-de-açúcar que necessitam da ação de 20 enzimas para quebra e será ativado um sistema genético para que a cana comece seu processo de hidrólise antes de ir para a usina. Segundo ele, o instituto já avalia a transferência dessa tecnologia para a GranBio.