As economias sul-americanas têm uma carta na manga capaz de reverter a queda nos índices de crescimento verificada nos últimos anos: a expansão do agronegócio. Agentes públicos e privados mostraram no 2.º Fórum de Agricultura da América do Sul – que reuniu 30 palestrantes e mais de 300 lideranças do setor para dois dias de discussões sobre sustentabilidade e inovação, em Foz do Iguaçu – que o setor tem força para uma reviravolta. Por outro lado, mudanças internas e regionais foram apontadas como indispensáveis.
O setor perde arrecadação com a queda nos preços das commodities e, para crescer, precisa reduzir custos, ganhar eficiência, abrir novos mercados, conforme a bateria de três conferências e oito painéis realizada pelo Agronegócio Gazeta do Povo.
Uma reviravolta no mercado de commodities agrícolas não vai ocorrer sem um fator de forte impacto, assinalou Pedro Djneka, da consultoria AGR Brasil. O cenário de estoques em alta só será invertido por problemas climáticos ou pela força da demanda da China, principal importador de soja, considera. A expectativa de ampliação das exportações para a Índia, por exemplo, não devem ocorrer no curto prazo.
O mercado regional, apesar de importante, não tem força para levantar os índices econômicos. No caso do Brasil, apenas 5,3% das exportações do agronegócio têm como destino os parceiros do Mercosul, conforme dados de de outubro – apesar de metade das vendas para a Argentina, por exemplo, partirem do setor -, mostrou Aline Oliveira, superintendente de Relações Internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Hoje a competitividade é baseada na disponibilidade de terras e água, na produção em escala, na especialização das unidades produtivas e na rápida adoção de novas tecnologias, apontou Rinaldo Junqueira de Barros, analista do Ministério da Agricultura do Brasil. Por outro lado, a maior região produtora de soja (Norte de Mato Grosso) fica distante dos mercados consumidores e a 2 mil quilômetros dos portos de exportação, o que amplia o impacto do transporte deficitário e calçado em rodovias. Os custos crescem ainda com a ineficiência nos portos, acrescentou.
Concentração
Mesmo diante desses diagnósticos, os investimentos continuam concentrados em rodovias, apontou Nelson Tucci, da área de Infraestrutura e Logística do Bando Nacional de Desenvolvimento do Extremo Sul. De 2014 a 2017, os investimentos em rodovias devem somar R$ 63,5 bilhões e os das ferrovias, R$ 50,8 bilhões no Brasil, projetou. “O transporte de cargas é feito 67% de caminhão, um dos fatores que fazem o custo logístico brasileiro alcançar 11,5% do PIB, enquanto nos Estados Unidos esse índice é de 8,7%.”
A mobilização de agentes públicos e privados em ações coordenadas ainda surge como desafio na América do Sul. “Abrir o comércio é efetivamente uma ação de entes privados”, disse Barros. Em outro painel, o setor produtivo apontou que o papel do estado é decisivo. “A renda das exportações de carne poderia ser 35% maior com investimentos em qualidade e sanidade, que dependem muito do poder público”, apontou Antônio Poloni, consultor da Federação da Agricultura do Paraná (Faep).