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Uma reflexão sobre Educação em Produção Animal

Há 25 anos Dr. Leman dizia coisas que até hoje, janeiro de 2013, nos colocam para refletir.

Uma reflexão sobre Educação em Produção Animal

De sua perspectiva como um ex-professor, um clínico de suínos e um produtor de suínos, Dr. Leman comenta o que ele entende como a lacuna entre o ensino em Medicina Veterinária que as faculdades estão fornecendo aos estudantes e o que ele acredita que sejam as necessidades das indústrias de produção animal.
 
Segundo Leman, a dificuldade em achar profissionais capacitados a fornecerem assistência técnica com foco no lucro para as granjas de produção animal irá crescer devido à diminuição do número de estudantes bem preparados.
 
1) Assegurando a retaguarda

O fato de as Universidades focarem em muitas espécies resulta em estudantes que sabem “pouco de muito”. Infelizmente o que os clientes e produtores querem é que seus Veterinários saibam “muito de pouco”, e normalmente é difícil encontrar isso.
 
2) Em busca do patógeno
 
A verdade é que os patógenos têm pouca importância na produção animal. Com poucas exceções, os patógenos são oportunistas e são secundários a alguma causa inicial. Nossos estudantes não estão tão preparados para buscar por fatores de risco não-infecciosos que causam diminuição no desempenho dos animais e facilitam a entrada de doenças infecciosas.
 
3) A relação causal
 
O maior desafio é a manter o senso de, diariamente, questionar crenças e hipóteses sobre relações de causa e efeito. Como estamos em busca de um patógeno, nós quase sempre dizemos que a presença do patógeno é a causa da doença. Como grupo, nós precisamos exercitar muito mais o pensamento crítico quando formos estabelecer uma causa.
 
4) A pergunta mágica
 
Em mercados maduros como a produção animal, para sobreviver é preciso manter um baixo custo por quilo produzido pois, em um mercado maduro, o produtor com um custo médio terá pouco ou nenhum lucro. As granjas lucrativas serão aquelas com os menores custos. Entretanto, a pergunta mágica que os veterinários devem buscar o conhecimento para responder é:
 
O que eu posso fazer para diminuir o custo de produção?
    – Adicionar mais vacinas e medicamentos ao programa reduzirá o custo de produção?
    – Adicionar mais ingredientes e nutrientes às rações reduzirá o custo de produção?
    – Adicionar mais ou melhores funcionários reduzirá o custo de produção?
    – Reformar a granja reduzirá o custo de produção?
    – Adicionar um novo sistema de gestão da informação reduzirá o custo de produção?
    – Utilizar uma linhagem genética mais cara reduzirá o custo de produção?
 
São essas as perguntas que os Veterinários e Zootecnistas vão ser forçados a responder quando estiverem no dia-a-dia do campo. Terão que auxiliar os produtores a tomarem as melhores decisões para melhorar seus custos de produção.
 
5) Extensão em produção animal é, na verdade, tecnologia da informação
 
A informação e a gestão da mesma estão revolucionando a produção animal e, portanto, a extensão em produção animal.
Estudantes de veterinária têm pouca habilidade em manter discussões e em manter-se atualizados cientificamente.
As faculdades de veterinária falham em gerar formandos que buscam ávida e efetivamente por nova informação. Esta informação pode ser a biblioteca mas, principalmente, informações baseadas em ciência para enfrentar os problemas dos produtores.
Os veterinários devem ser capazes de gerir e interpretar as informações de experimentos em granjas comerciais. Eles devem se tornar leitores críticos das pesquisas de outros veterinários.
 
    O currículo da faculdade de veterinária deveria:

    – Enfatizar sanidade e produção, e não doença;
    – Ensinar sobre sistemas de informação e gestão;
    – Oferecer treinamentos em gestão econômica e análise de riscos em granjas;
    – Nutrir e recompensar confiabilidade, excelência, eficiência, pensamento crítico e a criatividade. Não recompensar memorização;
    – Técnicas específicas para auto-aprendizado;
 
    Os veterinários deveriam:
    – Montar grupos e visitar as granjas dos colegas para troca de ideias;
    – Organizar visitas entre os produtores para promover aprendizado contínuo;
    – Estabelecer programas de treinamentos para gerentes de granjas;
    – Entrar definitivamente na era da informação;
    – Criar um ranking entre as granjas que são visitadas. Os rankings causam efeitos poderosos, motivando a mudança;
    – Comprar um granja para, assim, entender melhor o ponto de vista dos produtores. E se perguntar: “Eu me contrataria?”;
    – Focar em reduzir os custos das granjas. Análises de fluxo de caixa e outras ferramentas econômicas são úteis para isso;
    – Expandir as opções do controle de doenças além do nível nutricional, biológico e de produtos farmacêuticos;
    – Ser analítico.
 
Quais são os fatores que limitam a máxima produtividade desta granja?
 
Quais destes fatores são mais fáceis de mudar?
 
Quais destes fatores respondem mais rápido às mudanças?
 
Desenvolver a coragem para dizer: “A melhor ação a se tomar neste caso, é não tomar ação alguma”.

Se tornar um advogado do bem-estar animal.
 
Ler amplamente fora da área de Medicina Veterinária.
 
Estudar sobre gestão de granjas e gestão de risco.
 
Aprender a analisar fluxo de caixa.
 
Aprender a como gerenciar pessoas efetivamente.
 
Estudar sobre gestão de empresas.
 
Allen D. Leman
Dr. Leman cresceu em Illinois, onde se formou em Medicina Veterinária, em 1968, e mais tarde fez doutorado. Depois de 6 anos como Professor na Universidade de Illinois, atuando na área de Extensão, ele ingressou na Universidade de Minnesota, em 1975, e se tornou Professor de Medicina de Suínos. Durante este período, ele orientou muitos estudantes de pós-graduação, foi editor de várias edições do livro Disease of Swine e recebeu diversos prêmios devido as suas de pesquisas. Em 1987, ele deixou a Universidade de Minnesota para se tornar um parceiro em Swine Graphics, em Iowa, e para expandir sua própria empresa de suínos onde se tornou um das doe maiores nos Estados Unidos na época. Em seu auge, ele morreu em seus quarenta e dois anos de ataque cardíaco em 1992.
 
Adaptado de Leman, AD (1988). Diagnosis and treatment of food animal educational diseases. JAVMA 1931066-1068. (bolding mine)