O biodiesel brasileiro produzido com soja reduz as emissões em 70%, no mínimo, em relação ao diesel fóssil, quando consumido dentro do país. Se entregue para consumo na Europa, emite entre 65% e 68% menos gases de efeito estufa (GEE).
A conclusão é de um estudo inédito encomendado pela Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (ABIOVE), em parceria com a Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado do Mato Grosso (APROSOJA/MT) e a União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (UBRABIO). A pesquisa foi realizada pela Delta CO2, empresa incubada pela EsalqTec, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP).
Apresentado ontem, quinta-feira (31/01), à Casa Civil da presidência da República, órgão coordenador do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), o estudo é mais um passo dos produtores de biodiesel para reforçar pontos positivos do biocombustível e apresentar ao governo vantagens da ampliação dos atuais 5% na mistura com o diesel fóssil. Entre os benefícios, incluem-se: redução dos impactos da poluição sobre a expectativa de vida da população, redução da dependência brasileira do diesel importado e geração de emprego e renda. Tudo isso com impacto pouco expressivo na inflação.
Metodologia – Os pesquisadores da Delta CO2 utilizaram informações de 114 propriedades rurais e de cinco unidades processadoras de soja e produtoras de biodiesel. Hoje, o óleo de soja representa cerca de 80% da produção total de biodiesel no Brasil, seguida pelo sebo bovino e pelo óleo de algodão.
A metodologia utilizada, que segue padrão internacional, levou em consideração as emissões de CO2 equivalente ao longo de toda a cadeia produtiva, desde o plantio e cultivo da soja, passando pelo processamento do óleo, produção do biodiesel e transporte do biocombustível até o consumidor final. Entre as principais fontes agrícolas de emissão encontram-se restos culturais da soja, combustível utilizado no plantio e colheita, fertilizantes, corretivos e defensivos. O estudo também leva em consideração que na produção de óleo de soja e biodiesel entram insumos químicos responsáveis por emissões de GEE. Além disso, são contabilizadas emissões provenientes do transporte de biodiesel.
Transporte e emissões – o estudo trabalha com cenários alternativos de entrega do produto. São apresentados valores de emissões para distâncias, por exemplo, do Mato Grosso ao interior de São Paulo (Paulínia) e até o porto de Roterdã, na Holanda. No primeiro caso, os números indicam emissões da ordem de 24,5 gCO2eq./MJ de biodiesel produzido. Já para se produzir e levar biodiesel até a Europa, as emissões oscilam de 26,5 a 29,2 gCO2eq./MJ de biodiesel, aumento devido ao transporte marítimo. Os patamares de emissões para produção e transporte de biodiesel no território nacional variam de acordo com o sistema de cultivo da soja, a tecnologia industrial empregada e o grau de integração produtiva.
A conta de transportar biodiesel até Roterdã é necessária para que as estimativas sejam comparadas aos valores tomados como base pela Diretiva Europeia de Energias Renováveis. Os valores oficiais mostram que o diesel mineral, também em território europeu, emite 83,8 gCO2eq./MJ de biodiesel. Assim, conclui-se que o biodiesel brasileiro produzido a partir de óleo de soja emite entre 65% e 68% menos GEE do que o diesel fóssil, o que satisfaz as mais rigorosas exigências de redução das emissões recentemente determinadas pela Diretiva Europeia.