O desenvolvimento industrial, tecnológico e urbano tem norteado a vida das pessoas e as decisões dos governos nos últimos séculos. De fato, a conquista da Lua, novas máquinas, aparelhos, controles-remotos, robôs, a terceira dimensão na TV são fascinantes. Em todo o mundo, por muito tempo, a produção de alimentos e fibras foi ofuscada pelos encantos urbano-tecno-industriais. Era como se a comida e a vestimenta aparecessem como que por mágica, uma dádiva da natureza. “Em se plantando tudo dá”, ou seja, não haveria necessidade de investimento, técnica ou trabalho duro. O resultado é que a procura pelas profissões ligadas ao Agro tem sido declinante em todo o mundo. Foi necessária uma crise do petróleo para que o Brasil descobrisse que o campo poderia fornecer combustível e melhorar a matriz energética do país. Foram necessárias uma crise do petróleo e uma suposta crise ambiental para que mundo descobrisse isso. Até que foi aventada a possibilidade da energia competir com a comida. Até descobrirem que é necessário muito mais que a natureza para garantir alimentos, matérias primas e energia para o mundo. Até inventarem a dicotomia agricultura x ambiente. Agora, a discussão deve envolver os atores urbanos e rurais.
Enfim, estaria a sociedade urbana voltando a olhar com interesse sua fonte de vida? O sambista da Vila Izabel, escola de samba já cantada como campeã, percebeu que “O galo cantou; Com os passarinhos no esplendor da manhã; Agradeço a Deus por ver o dia raiar; O sino da igrejinha vem anunciar; Preparo o café, Pego a viola, parceira de fé; Caminho da roça e semear o grão; Saciar a fome com a plantação; É a lida…Arar e cultivar o solo; Ver brotar o velho sonho; Alimentar o mundo, bem viver; A emoção vai florescer”.
A Vila Izabel está de parabéns. Seria o retorno ao reconhecimento público desse setor fundamental para o ser humano e essencial para a economia brasileira? Entretanto, mais que o reconhecimento público na avenida, o setor precisa de atenção dos governantes, dos legisladores que, a cada ano, atendendo a interesses mal explicados, vem colocando amarras legislativas e regulamentatórias que atrapalham o desenvolvimento no campo. Por mais que nossos institutos de pesquisa, universidades e empresas invistam no desenvolvimento de tecnologia, é necessária uma legislação atual, em passo com o que ocorre no restante do globo, para que possamos competir.
Afinal, é “Preciso investir, conhecer; Progredir, partilhar, proteger…”, como diz o sambista, para que possamos, sempre “Ao som do fole, eu e você; A vila vem colher; Felicidade no amanhecer”. Obrigado Vila Izabel.
Por Ciro Antonio Rosolem, membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) e professor titular da Faculdade de Ciências Agrícolas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FCA/Unesp Botucatu).