O Brasil é uma das maiores potências agrícolas do mundo. No entanto, apesar disso, o país ainda não consegue fornecer alimentos a preços acessíveis a um crescente mercado consumidor interno. Se, por um lado, aumentam as exportações de produtos como soja, café, milho e açúcar, por outro corremos o risco de que alimentos como legumes, verduras e frutas se tornarem cada vez mais caros. Ao longo dos últimos 30 anos o negócio agrícola – o chamado agribusiness voltado para a exportação – aumentou em 40% sua área plantada, sua produção em 200% e a produtividade 300%. No mesmo período a agricultura familiar, responsável por alimentar os brasileiros, permaneceu quase no mesmo patamar, devido aos poucos incentivos oferecidos pelo governo. Na safra 2011/2012, por exemplo, o governo federal destinou R$ 107 bilhões à agricultura de grande porte, enquanto que a familiar ficou com apenas R$ 16 bilhões. Na safra 2012/2013, o Ministério da Agricultura liberou R$ 22,3 bilhões para o setor da agricultura familiar.
Cerca de 60% dos alimentos que compõem a cesta alimentar distribuída pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) são produzidos pelos agricultores familiares, em pequenas propriedades cujo tamanho varia entre um e quatro módulos fiscais (o equivalente a cinco até 100 hectares, conforme o município). Estes estabelecimentos agrícolas produzem 87% da mandioca, 70% do feijão, 46% do milho, 38% do café, 34% do arroz e 58% do leite que consumimos no país. Afora isto, a agricultura familiar responde por cerca de 70% dos empregos no campo. Outro aspecto é que a prática agrícola em pequenas propriedades tem menor impacto ambiental, pois utiliza menos insumos industriais e pratica a diversificação dos cultivos. As pequenas propriedades agrícolas, apesar da importância que têm na produção de alimentos representando cerca de 85% das unidades agrícolas do país, ocupam somente 24% da área nacional destinada à agricultura.
Grande parte das pequenas propriedades agrícolas está constantemente às voltas com dívidas, falta de equipamentos e acesso limitado a crédito. Além das condições meteorológicas, outro fator que interfere na produtividade do setor é a falta de mão de obra. Trabalhadores rurais, não especializados em sua maioria, estão sendo atraídos para o setor de serviços, que oferece melhores salários. Assim, os pequenos proprietários rurais são forçados a pagar salários mais altos, o que acaba encarecendo os produtos. O preço da terra, que vem aumentando ao longo da última década dificultando a expansão da agricultura familiar, é mais um fator inflacionário no preço dos alimentos.
O governo tem incentivado bastante a agricultura de exportação; aquela que gera divisas para o país e impulsiona vários outros setores da economia, como a indústria petrolífera, produtora de adubos; a química, produtora de herbicidas e pesticidas; a indústria de máquinas e tratores, entre outras. Apesar de gerar menos atividade econômica, a agricultura familiar é responsável por produzir grande parte dos alimentos que vão para a mesa, além de ter um impacto ambiental muito mais baixo. Considerável número destas propriedades familiares pratica a agricultura orgânica, que não se utiliza de nenhum insumo tóxico; o que preserva o solo, a água, e por vezes áreas remanescentes de floresta nativa.
Ricardo Ernesto Rose, Jornalista, autor, graduado em filosofia, pós-graduado em gestão ambiental e sociologia. Desde 1992 atua no setor ambiental e de energia na área de marketing de tecnologias. É diretor de meio ambiente da Câmara Brasil-Alemanha e editor do blog “Da natureza e da cultura” (www.danaturezaedacultura.blogspot.com).