Não basta expandir a produção de petróleo para resolver o problema da autossuficiência. Outras questões precisam entrar na política de planejamento energético do Estado, como a redução da atual dependência externa de derivados e o desenvolvimento de alternativas de fontes de energia, especialmente do etanol, concordaram empresários e especialistas reunidos no painel “A Eterna busca pela autossuficiência”, durante o 14º Encontro de Energia da Fiesp.
O resultado preliminar da balança comercial, no primeiro semestre, mostram dados alarmantes, na opinião de Marcelo Colomer, professor do Instituto de Economia (IE) da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Um deles é a participação de energia no total das importações. “O item petróleo e derivados participa com 17% no total das compras externas. A gasolina é uma grande vilã, isso desde 2012, e também agora nos primeiros meses de 2013. Mas não é só a gasolina. Isso é preocupante e paradoxal”, avalia ele.
“Num quadro de perspectivas de aumento de produção de petróleo, quando se coloca o Brasil como o país que mais vai adicionar níveis de produção em termos mundiais, atrás apenas do Iraque, com um acréscimo de mais de 3 milhões de barris por dia, o que se pergunta é se esse aumento irá necessariamente impactar na redução da dependência externa de derivados. Será que essa expansão da produção vai levar a alguma reestruturação da indústria sucroalcooleira?”, indaga Colomer.
Segundo ele, são duas políticas contraditórias: uma estimula muito o consumo de gasolina, com a redução tributária para a venda de automóveis, o que tem como consequência um aumento das importações do combustível; outra reduz os estímulos para reestruturação da indústria sucroalcooleira visando uma maior oferta do etanol. Além disso, destaca o professor do IE, há mais um complicador: a suspensão dos investimentos da Petrobras no parque de refino, até 2017. Ou seja, a capacidade de refino não tende a crescer, e o país reduz sua produção de gasolina.
Para a professora Suani Teixeira Coelho, do Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) da Universidade de São Paulo, a implementação de uma política para os derivados de petróleo, de fato, é o grande gargalo no desenvolvimento de alternativas de fontes energéticas no país. “Tínhamos uma produção elevada de etanol e, agora com a quebra de safra, a ela vem caindo e o consumo da gasolina aumentando por conta do valor mais baixo. É preciso que o etanol produzido no Brasil não seja exportado”, disse.
No entanto, o problema está na falta de competitividade do produto. Segundo ela, o maior obstáculo é o ICMS em torno de 25%, que incide na maioria dos Estados brasileiros, enquanto a gasolina segue com preço inferior, comparada ao resto do mundo. “Precisamos urgentemente de políticas mais adequadas e enumerar as vantagens ambientais e sociais dos biocombustíveis de gordura animal e soja, por exemplo”, enfatizou.
Renato Bertani, presidente da World Petroleum Council (WPC) e diretor executivo da Barra Energia, criada em 2010 com suporte de dois fundos privados americanos, considera que buscar a autossuficiência de petróleo é uma oportunidade única para o Brasil à luz dos resultados do pré-sal. “O Brasil vai fazer a diferença. Só a camada do pré-sal tem maior potencial que todo Golfo do México”, diz ele.