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Opinião

O desafio da gestão florestal - Por Marco Antonio Fujihara

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O desafio da gestão florestal - Por Marco Antonio Fujihara

Por Marco Antonio Fujihara*

A Terra seria inóspita e desolada sem elas. Estamos falando das florestas, verdadeiro patrimônio para a humanidade, responsáveis por manter as condições climáticas e abrigar a vida animal – são incontáveis seus nichos ecológicos, e é incalculável a variedade de seres vivos que as habitam. Ao mesmo tempo, elas protegem o solo e seus diversos habitantes dos perigos do vento, da chuva, do calor e do frio, conservando a biodiversidade.

São 4 bilhões de hectares de florestas nativas e plantadas que se estendem por quase 30% das terras emersas do planeta, variando em dimensão, características e densidade.

Riqueza formidável e facilmente manejável, as matas já cobriram pelo menos metade do planeta. Ao longo do tempo, elas foram um dos recursos naturais mais utilizados pelo homem, tendo um papel econômico inegável.

De acordo com dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação – FAO, o consumo mundial de madeira chega a cerca de 3,4 bilhões de metros cúbicos por ano, com previsão de um aumento de 25% até 2020. Para atender a essa demanda, as matas nativas do planeta são derrubadas a uma taxa de 12 milhões de hectares por ano, mas elas não estão sozinhas: as florestas plantadas ganham espaço.

Estudo do Centro para Avaliação do Risco Ambiental de Culturas Geneticamente Modificadas – Cera, da Ilsi Research Foundation, uma fundação que reúne instituições de pesquisa de todo o mundo, aponta que, em 2000, as matas plantadas representavam apenas 5% do total de florestas, mas já contribuíam com aproximadamente 35% da madeira colhida. Desde então, a área de cultivo de espécies arbóreas aumentou para 264 milhões de hectares, o que representa 6,6% das selvas mundiais.

Para a FAO, tal panorama implicará um declínio das florestas naturais e o crescimento dos bosques plantados como principal fonte de madeira. Mesmo assim, a hipótese mais aceita é a de que, no futuro, a necessidade mundial de madeira deva aumentar mais do que o suprimento disponível. Isso repercutirá nos preços e no cenário global de consumo e produção desse bem tão precioso, afetando cada país de acordo com sua posição mundial, que varia conforme a reserva de mata que possui e a dependência que tem da madeira.

No mundo, a Europa se destaca como a região que mais exporta e importa produtos florestais. Relativamente nova no mercado, a Rússia desponta como exportadora de madeira roliça, enquanto a América do Norte vem chamando a atenção dos analistas como grande importadora de produtos florestais, em termos de valores.

O processamento de madeira, atividade industrial que não para de crescer, é destaque na China, na Europa Oriental e nos países em desenvolvimento, como o Brasil, cujo consumo de madeira como recurso econômico teve início com a chegada dos portugueses, com a exploração do Pau-Brasil por mais de três séculos. Se a exploração de mata nativa remonta à conquista europeia, os primeiros plantios comerciais de árvores do País já contam com cerca de um século de história e datam do começo do século XX.

O objetivo do início da atividade era suprir a demanda crescente de madeira nas regiões mais desenvolvidas, em especial no estado de São Paulo. A preferência, nesse momento inicial, era por plantas exóticas, como o Eucalyptus, da Austrália, em razão do seu rápido desenvolvimento, versatilidade de uso e rendimento econômico. Com o tempo, houve variação nas opções, com destaque para os pinus.

Os incentivos fiscais para reflorestamento foram fator importante para o desenvolvimento da indústria florestal brasileira e propiciaram condições à produção de madeira para diversos usos. Tal desenvolvimento seria impossível se a indústria se restringisse ao uso de florestas nativas.

Os incentivos também possibilitaram a incorporação de novas terras ao processo produtivo, até então consideradas pouco atrativas para a agropecuária. As florestas plantadas se vincularam a segmentos estratégicos da economia nacional, como o de siderurgia, de papel e celulose e o de painéis reconstituídos, além de se tornarem importantes fontes de energia. As indústrias foram obrigadas, por lei, ao autossuprimento de matéria-prima florestal, e os plantios anuais ampliaram-se dia após dia.

A gestão das florestas plantadas também evoluiu ao longo do tempo. Feita inicialmente com recursos e terras próprias ou arrendadas, a gestão migrou para um modelo de financiamento de projetos industriais, com participação de instituições como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES. Em um terceiro momento, houve interesse de fundos de investimentos.

Nesse modelo, a operadora do fundo era a proprietária dos ativos e a gestora dos serviços e contratos. As implantações de programas governamentais também se destacaram, merecendo menção o Programa de Plantio Comercial e Recuperação de Florestas – Propflora, e o Pronaf Florestal. No momento, surgem as parcerias e o fomento empresarial.

Na esteira desses novos modelos de gestão, aparecem dois conceitos importantes: a “floresta industrial” e a “floresta negócio”. A primeira, como o próprio nome sugere, refere-se às matas plantadas pelas indústrias para consumo interno. Utilizadas principalmente pelo setor de papel e celulose, têm sua gestão feita geralmente por um departamento específico, que controla desde a produção até o uso da matéria-prima.

Com o aumento da demanda e a dificuldade da floresta industrial em atender a todos os pedidos, houve o incentivo para o desenvolvimento da floresta negócio. Normalmente desenvolvidas por fundos de investimentos, elas vendem madeira para outros setores industriais, mas seus produtos não têm uma aplicação predeterminada.

Enquanto a floresta industrial leva em consideração a planta da empresa, a floresta negócio tem liberdade para se desenvolver conforme a proximidade com centros consumidores, clima favorável para o crescimento das plantas ou em lugares que dão vantagens econômicas.

Sem o lastro da indústria, a floresta como negócio precisou inovar na gestão. Os fundos deram a garantia de investimento, mas o negócio teve que ser estruturado, tendo sempre como foco a demanda e a volatilidade do mercado.

Com opções diversas, as matas plantadas configuram uma alternativa importante para diminuir a pressão sobre o ambiente natural e para a preservação de ecossistemas. Ao mesmo tempo, contribuem para o desenvolvimento econômico, garantindo o uso da madeira e a continuidade de atividades essenciais para a humanidade.

Uma boa gestão das florestas plantadas colabora para o melhor aproveitamento do espaço e da rentabilidade do negócio. Saber qual sistema adotar e como proceder na gestão dessas florestas varia de caso a caso, mas é essencial sempre buscar pela sustentabilidade do negócio, tendo em mente o real significado do conceito, que busca o equilíbrio ambiental, econômico e social. O meio ambiente e a economia agradecem.

*Marco Antonio Fujihara é Diretor da Key Associados e Conselheiro do Banco Mundial