Após ter subido 1,03% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de outubro, economistas estimam que o grupo alimentação e bebidas perdeu fôlego em novembro, na esteira do movimento de desaceleração de carnes e aves nos índices do atacado. Mesmo assim, a expectativa é que a inflação do mês passado tenha ficado muito próxima à alta de 0,57% da leitura anterior do IPCA, pressionada por reajustes de algumas tarifas administradas e dos cigarros e por preços maiores dos combustíveis.
A média de 20 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data aponta que o indicador oficial de inflação aumentou 0,58% no penúltimo mês do ano, com intervalo de estimativas entre 0,52% e 0,61%. O dado será divulgado hoje pelo IBGE. Como, se confirmadas as projeções, o IPCA em 12 meses passaria de 5,84% em outubro para 5,81%, é considerada elevada a probabilidade de o governo cumprir seu objetivo informal de entregar no fim de dezembro uma inflação acumulada menor do que 5,84%, nível observado em igual período de 2012.
Com previsão de 0,56% para a alta do IPCA em novembro, o economista Daniel Moreli Rocha, do banco BI&P, afirma que os alimentos surpreenderam para baixo no mês passado. Segundo Rocha, a alta da arroba do boi, que ocorreu em novembro, parece não ter chegado ao atacado e, consequentemente, ao consumidor. Além disso, ele menciona que os produtos in natura também tiveram comportamento mais favorável que o imaginado.
Rocha estima que o grupo alimentação e bebidas cedeu para 0,63% em novembro, mas avalia que a trajetória de descompressão tem vida curta. “O maior risco para dezembro é a parte de proteínas animais, que tem peso considerável no IPCA. Não tenho dúvidas de que essa alta do boi vai bater no varejo em algum momento”, afirmou o economista, que projeta avanço de 0,83% para o indicador no último mês do ano. Nesse caso, a inflação anualizada encerraria 2013 exatamente em 5,84%.
Fernando Parmagnani, da Rosenberg & Associados, também espera alívio relevante dos alimentos na inflação de novembro, mas observa que, por outro lado, os reajustes de energia elétrica, da taxa de água e esgoto e de cigarros em algumas capitais pesquisadas pelo IBGE devem adicionar 0,11 ponto percentual ao IPCA daquele mês. Assim, Parmagnani projeta que o índice subiu 0,59% no mês passado, com avanço de 0,56% para 0,86% na parte de habitação e de 0,43% para 0,98% em despesas pessoais.
O grupo transportes, lembra Luis Otávio de Souza Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil, deve ter sido outro foco de pressão sobre o IPCA. Embora o impacto da correção de 4% da gasolina nas refinarias tenha ficado somente para dezembro, Leal explica que o aumento de 6,56% das passagens aéreas (cuja taxa do IPCA-15 é repetida na leitura fechada do mês) e o fim da sazonalidade de deflação do etanol apontam para alta de 0,45% dos transportes, acima da variação de 0,17% apurada em outubro.
Como os efeitos da gasolina devem ficar concentrados ao consumidor no IPCA do último mês do ano, diz Leal, a expectativa é que os transportes mostrem nova aceleração em dezembro. Mesmo assim, ele acredita que o governo deve cumprir “com relativa tranquilidade” sua meta de inflação informal. Para isso, o economista afirma que basta o indicador oficial subir menos do que 0,79%, alta registrada em dezembro de 2012. “Mesmo que o IPCA suba 0,75%, ficará em 5,80% no acumulado do ano.”
Parmagnani, da Rosenberg, diz que, caso os postos aproveitem o reajuste da gasolina nas refinarias para recompor margens, o impacto no IPCA pode ser maior do que o estimado, de 0,11 ponto. Para ele, no entanto, um aumento de 5,80% ou 5,85% do IPCA em 2013 não é muito diferente em termos de dinâmica inflacionária, dado que os preços estão nesse patamar porque o governo “segurou” a variação de preços administrados ao longo do ano. “Há mais um efeito psicológico do que prático em entregar uma inflação um pouco menor este ano”, afirma.