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Saúde Animal

Aftosa no Paraguai causa tensão em Santa Catarina

A vasta cadeia produtiva de carnes de Santa Catarina está em estado de alerta máximo com a ocorrência de foco de febre aftosa no departamento de San Pedro, no Paraguai.

Aftosa no Paraguai causa tensão em Santa Catarina

A vasta cadeia produtiva de carnes de Santa Catarina está em estado de alerta máximo com a ocorrência de foco de febre aftosa no departamento de San Pedro, no Paraguai. A doença está perigosamente próxima do território catarinense que conquistou o privilegiado (e único no Brasil) status de área livre de aftosa sem vacinação.
Eventual entrada da doença no Estado teria efeitos catastróficos para todos os setores da economia barriga-verde, alerta o diretor técnico do Instituto Catarinense de Defesa Agropecuária (ICASA), médico veterinário Gerson Catalan. Por isso, as indústrias de abate e processamento de carnes, os criadores, o governo, os consumidores e todos os agentes econômicos estão convocados para a proteção sanitária.

Por quê a ocorrência de febre aftosa no Paraguai coloca em risco a sanidade animal de Santa Catarina?

Gerson Catalan – O vírus da febre aftosa é facilmente transmissível e sempre que há proximidade de focos há riscos, pela movimentação de animais, derivados de animais suscetíveis. A movimentação, principalmente de animais, é o maior risco. Em Santa Catarina os bovídeos não são vacinados há muitos anos e, por isso, não apresentam anticorpos, portanto, são muito mais vulneráveis do que os de outros estados que praticam a vacinação. A vantagem de SC não vacinar os bovinos há muito tempo está relacionada com os mercados que o Estado vem conquistando, como a exportação de carne suína para países que só adquirem de áreas livres de febre aftosa sem vacinação, como é o caso do Chile, Estados Unidos e Europa.

Quais as medidas necessárias para evitar a entrada da doença em SC que devem ser adotadas pelos GOVERNOS, PRODUTORES, IMPORTADORES e demais agentes econômicos ligados à cadeia produtiva da carne?

Gerson Catalan – Todas as pessoas e entidades são responsáveis pela segurança sanitária animal do Estado, independente de haver notícias de foco ou não, pois quando há manifestações, sintomas de alguma doença, os referidos animais já estavam liberando vírus. Por essa razão, os cuidados devem ser permanentes.

Logicamente que as pessoas envolvidas com a produção, sejam produtores, técnicos, motoristas, profissionais da área, vendedores, principalmente os que vão à propriedade rural vender algum produto, visitantes estrangeiros etc. devem deixar de lado os interesses comerciais em favor da manutenção da sanidade animal. O bovino é o principal transmissor da doença, por esta razão SC há alguns anos identificou os bovinos com “brincos” e informatizou as guias de trânsito de animais (GTA), entre outras providências, para ter o melhor controle possível da produção e da movimentação dos animais.

Todas estas medidas foram efetivamente tomadas?

Gerson Catalan – Os órgãos oficiais, responsáveis pela sanidade dos rebanhos (Ministério da Agricultura e Cidasc) sempre estão atentos ao que ocorre no país e no Estado, por meio de visitas às propriedades, controles de movimentação de animais, fiscalizações nos abatedouros, bem como o sistema de vigilância nas fronteiras com barreiras fixas e barreiras móveis. Estas se deslocam pelas regiões, parando veículos a procura de possíveis irregularidades. Quando ocorrem focos, vive-se uma emergência, como é o caso no Paraguai. Por isso, amplia-se o contingente de pessoas e convoca-se a Polícia e até as forças armadas.

Quais são os meios de transmissão e propagação da doença?

Gerson Catalan – A aftosa é uma enfermidade altamente contagiosa que ataca os animais de casco dividido, principalmente bovinos, suínos, ovinos e caprinos. Ocorre em qualquer faixa etária, podendo se transmitir de animal para animal por alimentos, água, ar e pelas mãos de pessoas que tiveram contato com animal contaminado.

Merece muito cuidado o gado leiteiro, pois é manuseado várias vezes ao dia, diferente do bovino de corte. Cada produtor deve zelar pelo seu rebanho, evitar visitas, higienizar mãos e utensílios no manuseio dos animais e só adquirir animais de propriedades controladas pelo serviço oficial. O vírus é sensível ao calor e à luz solar, sendo esta época no sul do Brasil um minimizador de risco.

Santa Catarina está preparada com estrutura física (laboratórios, veículos etc) e técnica (profissionais capacitados) para a proteção sanitária do território?

Gerson Catalan – Santa Catarina evoluiu muito em defesa sanitária e produção animal, com profissionais treinados, veículos, comunicação entre as inúmeras unidades veterinárias e barreiras. Temos profissionais altamente capacitados para diagnóstico clínico da doença. Os laboratórios de diagnóstico da febre aftosa situam-se fora do Estado, mantidos pelo Ministério da Agricultura, por necessitar de muita biossegurança. Contudo, os resultados laboratoriais são obtidos rapidamente, também, pela facilidade de deslocamento das amostras coletadas em casos suspeitos, precedido de interdição de propriedades e outras medidas de segurança.

Quais as ações e condutas consideradas de alto risco para a sanidade da pecuária catarinense? De que forma, hipoteticamente, poderia entrar em SC o vírus da aftosa?

Gerson Catalan – A movimentação de animais suscetíveis à febre aftosa e seus derivados, como carne com osso, vísceras, etc. O Ministério da Agricultura tem uma classificação de risco por Estado. Como Santa Catarina é o único Estado que não utiliza vacina contra a febre aftosa, já há muita restrição de entrada de animais e produtos e nessas ocasiões as restrições são ainda maiores.        
O maior risco consiste na entrada de animais, derivados e veículos não lavados e desinfectados adequadamente. Por isso é essencial uma forte ação nas fronteiras, impedindo este ingresso.

Criadores, frigoríficos, importadores e varejistas do mercado da carne estão conscientes da complexidade desse problema?

Gerson Catalan – O trabalho de educação sanitária é fundamental nestes momentos, principalmente, para que todos tenham consciência do que representaria de perdas para todos os catarinenses, sem exceção, um foco de febre aftosa em nosso Estado. 

Porque a eventual entrada do vírus da aftosa em SC teria consequência catastróficas para a econômica catarinense?

Gerson Catalan – Creio ser imensurável os prejuízos que o Estado e os catarinenses terão com um foco de febre aftosa, pois, automaticamente, as exportações de carne seriam paralisadas, as agroindústrias e cooperativas que exportam bons volumes teriam que reduzir os abates, com desemprego direto e indireto,  o produtor não teria para quem vender parte da produção, cairia a arrecadação do Estado. Enfim,o caos.