Presente em todos os municípios e na maioria das 190.000 propriedades rurais, a suinocultura é uma das principais atividades do setor primário da economia catarinense. Encontra-se desde a minúscula unidade microfundiária de alguns poucos hectares até a grande e tecnologicamente sofisticada propriedade rural.
No início do século, quando principiou o processo de ocupação e colonização do grande Oeste de Santa Catarina, a criação de suínos acompanhava, de forma tênue e incipiente, a atividade extrativa. Quando o ciclo da madeira exauriu-se, na década de 1950/1960, iniciava-se a expansão e o fortalecimento da suinocultura ao lado da produção de grãos.
O quadro atual não guarda nenhuma semelhança com os primórdios da atividade. A capacitação técnica dos criadores eliminou o despreparo e a falta de informações, a pesquisa científica ofereceu material genético de alta qualidade, a expansão e aperfeiçoamento da nutrição animal proporcionaram rações que otimizaram a produtividade. A zootecnia, a medicina veterinária e a engenharia oportunizaram criatórios adequados, técnicas avançadas, máquinas, implementos e equipamentos de manejo para tornar absolutamente racional e produtiva a suinocultura.
Hodiernamente, Santa Catarina detém a maior, a melhor e a mais desenvolvida suinocultura do país. Esses números ganham vida e expressão quando cotejados com a pequena base territorial: o Estado catarinense representa apenas 1,12% do território nacional. A dimensão social da suinocultura sobressai-se pelos 150.000 empregos que gera e pelas 500.000 pessoas que dela dependem diretamente.
O controle sanitário e a proteção ambiental são as prioridades atuais. Livre de zoonoses e epizootias, Santa Catarina conquistou o status de área livre de aftosa sem vacinação junto à OIE, condição privilegiada que a credenciou a disputar os mais exigentes mercados do planeta. O Estado lidera as exportações de carne suína e a prospecção de novos mercados e há mais de duas décadas firmou-se competitivamente no cenário mundial da carne. O grande óbice do produto catarinense é a nova escalada de protecionismo dos países hegemônicos que subsidiam maciçamente seus produtores, artificializando e corrompendo as relações comerciais.
Por outro lado, os cuidados ambientais tornaram-se fatores determinantes no planejamento, na aprovação e na execução de empreendimentos suinícolas. Tratamento e destinação de dejetos, proteção das fontes de água e eliminação da poluição das águas superficiais tornaram-se absoluta prioridade.
Apesar dos problemas mercadológicos, sou um entusiasta em relação ao mercado mundial de carne suína, a mais consumida no planeta. O Brasil atingiu a marca de 15 kg per capita de consumo de carne suína, ultrapassando a meta estabelecida pelo Projeto Nacional de Desenvolvimento da Suinocultura (PNDS) prevista para 2012.
Acredito que a supremacia da carne suína no mundo se manterá por mais uns cinco ou seis anos e, depois, cederá lugar à carne de frango. A carne de aves deve crescer não apenas pelo preço, mas, também, pela inexistência de restrição de ordem cultural ou religiosa, como ocorre com a carne suína em alguns países.
No Brasil, o mercado doméstico foi a base de sustentação dos suinocultores e indústrias de processamento de carne. Por um longo período, o consumo per capita permaneceu estagnado, aumentando apenas de acordo com o crescimento da população. Agora, o aumento é real. Esse aumento do consumo interno expressa a melhoria de renda da população brasileira.
A produção brasileira não para de crescer, especialmente por conta do Brasil central. Com a maior oferta e o aumento da renda da população, o consumo cresceu, e a carne suína está mais presente na mesa do brasileiro. O mercado nacional absorveu o aumento de 180 mil toneladas que ocorreu na produção de suínos em 2011. Neste ano, a produção de carne suína evoluiu 4,9% em relação 2010, de 3,24 milhões de toneladas para 3,5 milhões. O fechamento de mercado russo no início de 2011 pressionou a disponibilidade de carne suína no mercado brasileiro em 6,7%.
O ano foi bom, sobretudo porque o mercado interno absorveu 84,7% da oferta em relação a 83% em 2010, houve expansão das vendas, principalmente, de industrializados, e o foco dos produtores centrou-se na gestão, o que explica em parte o baixo crescimento dos alojamentos de matrizes e o aumento da produtividade. Esse cenário positivo foi embaçado, mas não foi neutralizado pelo aumento da concorrência interna e pela elevação dos custos de produção. Esperamos que a demanda continue aquecida para recuperação dos preços e redução dos custos.
Acredito que haverá progresso das exportações para Ásia. A China habilitou três frigoríficos, as missões técnicas do Japão e da Coréia do Sul, que visitaram o Brasil, devem aprovar as importações em 2012. A crescente abertura da Ásia às exportações de carne suína do Brasil deve representar fato relevante já em 2012, com boas perspectivas nos próximos anos. A concorrência da União Européia tende a persistir, sobretudo na Rússia. Os preços médios internacionais deverão permanecer firmes devido à continuidade do crescimento da demanda na Ásia. Enfim, o futuro é promissor para a suinocultura.
Por Mário Lanznaster – Presidente da Coopercentral Aurora