A soja chegou à marca de US$ 15 por bushel (27,2 quilos) na Bolsa de Chicago na última semana e recuou à casa de US$ 14,8 ontem (2). Enquanto o mercado se divide em relação à sustentação desse patamar, o consumidor brasileiro enfrenta reajustes em série nos preços dos alimentos ligados direta ou indiretamente à cadeia da oleaginosa, passando pelo óleo, margarina e carnes.
Os índices internacionais beneficiam os produtores brasileiros de grãos, particularmente os da Região Sul, que tiveram a safra de verão reduzida em 1/4 por causa da seca. Em relação a maio do ano passado, o preço da saca da soja – ontem em R$ 55,43 por saca de 60 quilos no Paraná – subiu 38%. O reajuste em relação à média de abril é de 7%. No milho, houve recuo de 9,5% e 1,7%, respectivamente, mas a cotação atual (R$ 21/sc) ainda está 36% acima da média de 2011, conforme monitoramento da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab).
Diluída nos custos de produção dos alimentos, a alta da soja chega ao consumidor por diversas vias. Na comparação com os preços de um ano atrás, as margarinas estão cerca de 15% mais caras e os óleos subiram perto de 6%, conforme comparativo elaborado pelo Disque Economia, serviço da prefeitura de Curitiba, a pedido da reportagem.
Junto com o milho, a oleaginosa representa 85% da ração e mais da metade dos custos totais na produção de suínos. O pernil de porco, que vinha apresentando baixa de 10% diante das barreiras para entrada na Argentina, teve o índice reduzido a -7% em abril. A bisteca suína saiu de -5% para +12% no mesmo período, sempre na comparação com os preços de um ano atrás. A tendência foi a mesma nas carnes bovinas, com alta de até 21% no mignon, e de frango, que teve fortes oscilações e altas de até 17% (asa resfriada) em 12 meses.
Produtores de suínos e aves perdem rendimento. “Os custos chegam a R$ 2,60 por quilo e o produtor recebe R$ 1,90”, afirma o presidente da Associação Paranaense de Suinocultores (APS), Carlos Francisco Geesdorf. O preço médio pago ao suinocultor, no estado, é de R$ 2 por quilo, conforme a Seab.
Segundo a indústria do frango, o preço pago ao produtor (R$ 1,7 por quilo, 1% abaixo do praticado um ano atrás) ainda viabiliza o negócio. Porém, se a cotação da soja continuar sustentada – e essa é a tendência com a qual o setor trabalha -, serão imprescindíveis ajustes no preço da carne. “Estamos trabalhamos com preços inferiores aos praticados seis meses atrás. Já a soja está com valor historicamente fantástico. E o milho também. Uma parte disso vai ter de ser repassada ao consumidor”, disse o presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Paraná (Sindiavipar), Domingos Martins.
Além dos alimentos ligados à soja, subiram os preços de culturas que perderam espaço no campo para a oleaginosa e para o milho. O feijão carioca teve reajuste de 128% ao produtor e 67% ao consumidor no último ano (abril/abril), mostram os indicadores da Seab. O preço atual da saca de feijão (R$ 188) está 11% acima da média do mês passado.
Os contratos que vêm sendo negociados para datas futuras indicam que a soja terá sua cotação reduzida. Segundo o economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócioeconômicos (Dieese) Cid Cordeiro, essa tendência influi nos reajustes aos consumidor. Para que a elevação registradas em Chicago fosse repassada, os patamares atuais teriam de se sustentar ao longo do ano, considera. Por outro lado, os reflexos dos repasses já efetuados na inflação brasileira são considerados inevitáveis.