A canadense Agrium, uma das maiores empresas de fertilizantes no mundo, fez sua primeira aquisição no mercado brasileiro, o que marca a sua entrada no país. Foi finalizado no início de abril o processo de compra da Utilfertil Fertilizantes, empresa misturadora de adubos com sede em Itapetininga (SP). A companhia tem planos de adquirir outras empresas brasileiras, principalmente com atuação regional. E não afasta a possibilidade de construir uma fábrica no país.
Com a filosofia “desde a mina até o cliente final”, a Agrium respondia como Cominco Fertilizers até os anos de 1990. A empresa, que também mantém operações nas áreas de defensivos e sementes, cresceu em três unidades de negócios: varejo, com vendas diretas aos produtores, comercialização por atacado (produção e distribuição de fertilizantes e outros produtos) e produção de uma linha de fertilizantes especiais.
Ao longo dos anos, adquiriu várias empresas. Uma das mais recentes aquisições foi a compra da AWB, da Austrália, em 2010. Em menor escala, no mesmo ano, comprou a rede de distribuição de varejo da DuPont na Argentina, o que permitiu o crescimento da operação no país. Em março deste ano, anunciou acordo definitivo com a Glencore para adquirir a maior parte dos negócios agrícolas da Viterra. O valor dessa compra está estimado em US$ 1,6 bilhão, segundo consta no relatório trimestral da Agrium.
A companhia canadense, que registrou receita bruta de US$ 15,4 bilhões no ano passado, informa em seu relatório de 2011 que completou a aquisição de 32 unidades de varejo que representam US$ 210 milhões em vendas anuais adicionais; a compra da americana Tetra Micronutrientes, das europeias Cerealtoscana e Agroport, além da Evergro Canadá, líder em distribuição de produtos para horticultura no oeste canadense.
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Não foi divulgado o valor da aquisição da empresa brasileira – que passou a se chamar Utilfertil by Agrium – e dos investimentos previstos. A Agrium atua hoje em mais de uma dezena países, em quase todos os continentes, com destaque para Estados Unidos e Austrália. Na China, fica a unidade de tecnologias de produtos especiais. Na América do Sul, a companhia tem operações na Argentina, Uruguai, Chile e agora no Brasil. No mercado argentino, a canadense está presente há 17 anos, atualmente com a empresa ASP.
A Agrium considera que o mercado brasileiro de fertilizantes cresce a uma taxa média de 5% ao ano, com muitas regiões para desenvolver. Por isso, a entrada no país foi muito bem arquitetada. Julio Zavala, um argentino de Buenos Aires que assumiu há pouco mais de um mês a função de gerente-geral da Utilfertil, afirmou que a Agrium estava há vários anos tentando vir ao Brasil, mas não encontrava uma boa oportunidade. “Por meio de contatos, conhecemos a Utilfertil, com uma missão de negócios parecida com a da Agrium”, revela.
A Utilfertil, considerada de médio porte, tem capacidade para armazenagem de 40 mil toneladas de adubos. “O objetivo não é ter market share, e sim um negócio no Brasil que cresça”, disse Eduardo Nestor Macia, gerente de créditos da ASP – empresa argentina do grupo -, que passa temporada no Brasil para “assessorar” a companhia recém-adquirida.
A escolha pela Utilfertil também foi influenciada pela localização da empresa, no interior do Estado de São Paulo, que em geral tem logística favorável, culturas diversificadas e produtores rurais de médio porte. “Fomos bem acolhidos pelos clientes da Utilfertil”, acrescenta Zavala. Todo o processo de aquisição demorou cerca de um ano.
A Utilfertil foi formada em 1982 por um grupo de engenheiros agrônomos que comprou apenas a unidade física da então estatal Ultrafertil. A empresa brasileira, que vinha passando por dificuldades financeiras, entrou em recuperação judicial em 2009, impactada pela crise econômica de 2008 – que segundo a companhia, afetou de forma drástica seus negócios. Houve períodos praticamente sem entrega de produtos e, portanto, sem faturamento. Segundo a Utilfertil, todas as dívidas foram pagas aos credores após a concretização da aquisição.
A Agrium quer promover o crescimento da Utilfertil, mas sabe que a tarefa será a longo prazo. E acredita que na temporada 2013/14 a Utilfertil vai chegar ao pico de entregas de adubos – cerca de 200 mil a 250 mil toneladas anuais, com faturamento em torno de R$ 200 milhões. A fábrica no interior paulista pode ser ampliada e a Agrium não descarta aquisições no mercado regional. “São muitos países dentro do Brasil”, justifica Macia.
Além das compras de outras empresas, a Agrium planeja crescer no país com suas “próprias pernas”, aproveitando a experiência brasileira. E pretende entrar também no mercado de defensivos, que não necessariamente passa pela Utilfertil, mas pode ser por meio de intermediários para compra e revenda de produtos. “Não temos pressa, estamos conhecendo o mercado, a regulação brasileira, entrando em contato com as empresas”, explica Zavala.