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Exportação

Biomassa pode trazer 500 milhões de euros ao país

Portos brasileiros necessitam adaptação para exportar produto à Europa.

Biomassa pode trazer 500 milhões de euros ao país

Os principais portos brasileiros demandarão até US$ 100 milhões para que sejam adaptados à exportação de biomassa para a Europa, visando à produção de energia. Se tal investimento for feito em Paranaguá (PR), Santos (SP), Suape (PE) e alguns outros terminais, estes se tornarão aptos a embarcar para o Velho Continente algumas destas commodities (no caso, pellets e cavacos de madeira) – o que pode render ao País até 500 milhões de euros ao ano em divisas, segundo cálculo aproximado de Manoel Rodrigues Neves, da Pöyry (prestadora de serviços de consultoria e engenharia na área ambiental).

Hoje a exportação de biomassa pelo Brasil é feita apenas por alguns terminais, como o de Santana, no Amapá, mas o potencial é imenso: estudo da Associação Brasileira das Indústrias de Biomassa e Energia Renovável aponta que os resíduos florestais no País chegam a 157,9 milhões de m³, suficientes para gerar 1,2 terajoules (tj) de eletricidade.
“Se nossos portos forem capacitados a exportar biomassa, a Europa certamente virá fazer negócios conosco”, afirma Neves. “Os países da região não têm território nem clima adequados para produzirem este tipo de commodity, mas estão tremendamente interessados em gerar energia a partir de outras fontes que não petróleo.”

Tão interessados, por sinal, que nesta semana está no Brasil uma delegação de autoridades e empresários dos Países Baixos (liderada pelo ex-primeiro-ministro holandês Ruud Lubbers) empenhada justamente em divulgar por aqui as conquistas e os investimentos em sustentabilidade do maior porto de toda a Europa, o de Roterdã – e, se possível, fechar negócios. “Brasil e Holanda têm estruturas econômicas complementares, as quais podem gerar fortes alianças”, disse o líder político e empresarial em entrevista exclusiva ao DCI.

Porto Central – Ruud Lubbers destaca que o Brasil é um dos focos de investimentos para os próximos anos da Havenbedrijf Rotterdam, empresa que administra e opera o Porto de Roterdã e sua área industrial. Tanto é assim que é por aqui que ela irá construir, nos próximos anos, um porto irmão, o qual será parte da rede de terminais que a mesma já possui ao redor do planeta: o Porto Central.

Trata-se de um porto-indústria que ocupará o litoral sul do Espírito Santo e atenderá aos setores de petróleo e gás, granito, minérios, agricultura e à indústria automobilística. “Mas também estamos interessados na exportação de biomassa. Tudo vai depender dos clientes com quem fecharmos negócio”, observa Peter Lughart, executivo do escritório local do Porto de Roterdã.

O valor do projeto ultrapassa a cifra de R$ 1 bilhão e gerará cerca de 1 mil empregos na construção do complexo. Uma vez pronto, o Porto Central trará 6 mil vagas de trabalho permanentes para os capixabas.

O projeto trabalha em cima de um conceito de cluster, pelo qual empresas semelhantes irão atuar em funções similares, gerando um conglomerado integrado de funções ao redor do local. “A intenção do Porto de Roterdã é criar uma rede de terminais que operem nos mesmos moldes da matriz ao redor do mundo”, conta Lughart. “Países como Itália, China, Omã e outros já receberam ou vão receber nossos portos, e agora o Brasil vem juntar-se a este grupo seleto.”

Vale ressaltar que a expertise do holandeses em se tratando de instalações portuárias, mundialmente reconhecida, já foi aproveitada anteriormente por aqui no passado. Em 2010 a Havenbedrijf Rotterdam foi convidada pelo governo brasileiro a analisar um estudo estratégico que visava a remodelação do setor portuário do País – o qual consiste de 34 terminais públicos, que se distribuem pelos 8 mil quilômetros da costa nacional.

Umidade – Exportar biomassa traz lucros – mas exige portos de ótima qualidade para que possa ocorrer. “As condições de armazenagem têm de ser muito boas. Os pellets [um tipo de lenha, geralmente feita a partir de serragem de madeira comprimida] não podem estar sujeitos à umidade, por exemplo, caso contrário perdem seu poder de combustão”, conforme explica Neves, da Pöyry. Mas vale a pena investir nesta área. O Brasil possui um potencial de geração de 3 mil megawatts (MW) somente em resíduos de biomassa de eucalipto, os quais se encontram nos 5 milhões de hectares de áreas reflorestadas existentes País.

São galhos, folhas e cascas de árvores que não são adequados para a industrialização – mas que, após serem tratados, dão um excelente material energético. Aliás, o Grupo Suzano já anunciou que gastará US$ 800 milhões na construção de três plantas industriais capazes de produzir, cada uma, 1 milhão de toneladas de biomassa ao ano. A previsão é que comecem a operar até 2014.

Neves lembra que os europeus seguramente recorrerão à importações maciças de biomassa – mesmo porque estão obrigados, por acordos internacionais, a reduzir até 2020 as emissões de gases de efeito-estufa em pelo menos 20% e a elevar, também a 20%, a parcela de energias renováveis no consumo da União Europeia. “E eles vão precisar, sem dúvida, de nossas exportações para tanto”, finaliza o consultor Rodrigues Neves, da Pöyry.