Embargo russo às carnes brasileiras – um ano em vigência – gerou prejuízos milionários à economia. Somente em Mato Grosso, uma das unidades federadas proibidas de enviar proteína animal suína e bovina ao país, registrou perdas na ordem de US$ 240 milhões em 12 meses, conforme estimativa da Federação das Indústrias do Estado (Fiemt). Mensalmente, cerca de US$ 20 milhões deixaram de circular devido às restrições comerciais impostas pelo país russo.
Gustavo de Oliveira, diretor da Fiemt, lembra que entre janeiro a maio de 2011 quando não havia restrição ao comércio com o estado, o resultado dos embarques promovidos por Mato Grosso renderam cifras na ordem de US$ 98,1 milhões provenientes do envio de 23 mil toneladas de carne. Um ano após e já limitado a negociar com o país, a unidade federada embarcou US$ 58,1 mil. Este último número, que engloba especificamente a cadeia de suínos, só possível em meio às proibições em função dos chamados restos contratuais que ainda precisavam ser cumpridos.
A Rússia é o principal comprador mundial de carne. “O mercado russo é grande consumidor de carne. Não só pelo volume que consome, mas também porque é uma referência para outros mercados. Esse prejuízo financeiro na exportação reduz a produção de Mato Grosso. Quem mais sentiu foi a cadeia dos suínos”, destaca o diretor.
Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), copilados pela Fiemt, mostram o tamanho do prejuízo gerado pelo embargo russo a Mato Grosso. Somente de carne bovina foram exportados entre janeiro a maio de 2011 para o país acima de 17,3 mil toneladas. O resultado financeiro das vendas foi, à época, de US$ 80.031 milhões. Com o início da proibição, passaram para zero os respectivos montantes.
De toda a carne bovina exportada pelo estado nos cinco primeiros meses de 2011 foram quase 25% destinados somente às demandas do país.
No tocante à carne suína, Mato Grosso exportou entre janeiro a maio do ano passado US$ 5,6 mil toneladas e faturou US$ 18.084 milhões. Já em 2012 – mesma época – os resíduos do que ainda precisava ser enviado ao mercado somou 25.740 toneladas e US$ 58,1 mil.
Carlos Ivam Garcia, analista de mercado do Instituto Mato-grossense de Economia (Imea), frisa que a saída encontrada pelas indústrias do estado foi realocar a produção para outros mercados. Ganharam expressão especialmente o Chile e a Venezuela.
Venezuela que entre janeiro a maio de 2011 consumia 13% da carne bovina mato-grossense passou em 2012 a importar 25%. A compra evoluiu de 7.791 mil toneladas de carne in natura para 13,9 mil toneladas.
Chile que na mesma época de 2011 importava 1,8% da proteína animal do estado passou a importar 13,9% da carne de Mato Grosso. Lembra o analista de mercado que a maior busca pela carne fez as compras do país saltarem de 1.078 mil toneladas para 7.762 mil toneladas.
“Eram mercados sem expressão e agora deram um salto. Quando iniciado o embargo os grandes frigoríficos com contrato realocaram suas vendas. As plantas de Mato Grosso começaram a enviar para outros países e isso aliviou”, completa Carlos Garcia, do Imea.
Lição
Para o superintendente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Luciano Vacari, a proibição à compra da carne pelo país deixou uma lição para o Brasil. “É ruim ser dependente de um grande comprador porque todo mercado fica exposto”, frisa.
Mas o representante discorda que o padrão brasileiro seja tecnicamente insuficiente para atender as exigências do mercado russo. “Não entendo como conseguimos exportar para países mais exigentes do que a Rússia. Não podemos ser acusados de problemas técnicos sendo que nosso controle é acima do padrão mundial”, pondera Vacari.
Visita ao Brasil
Se o embargo à carne está próximo do fim não há como saber, lembram os representantes. Mas fica a expectativa pela visita de uma missão russa ao país na segunda semana de julho. “Aguardamos para mostrar que temos condições de mandar carne para o mercado russo”, complementa Luciano Vacari.
Brasil
No Brasil, dos 89 frigoríficos cadastrados para exportar carne bovina e suína ao país, em apenas cinco não há restrições de mercado. Somam ainda 28 estabelecimentos espalhados pelo território que podem vender desde que as cargas sejam submetidas a análises laboratoriais realizadas pelo governo russo.
De acordo com o Serviço Veterinário Russo, outras 56 unidades estão temporariamente proibidas de atender ao país. “É mais um problema político”, resume Luiz Freitas, presidente do Sindicato das Indústrias Frigoríficas de Mato Grosso (Sindifrigo).