O vagalhão que arremessou os preços internacionais dos grãos a novos patamares recordes em julho confirmou as expectativas e perdeu força neste mês, mas as adversidades climáticas que sustentam produtos como milho, soja e trigo nas alturas ainda vão interferir nesses mercados em setembro e novas altas, mesmo modestas, poderão ser observadas. Mas a resistência dos consumidores a esse encarecimento é flagrante e as apostas dos fundos especulativos nessa tendência são tímidas.
Segundo cálculos do Valor Data baseados nas médias mensais dos contratos futuros de segunda posição de entrega negociados na bolsa de Chicago, o milho subiu 7,5% em agosto (o balanço foi fechado no dia 30) na comparação com o mês anterior, quando o salto sobre a média de junho havia sido de 35,5%. A alta sobre dezembro chega a 32,5%, e em relação a agosto de 2011, a 11,6%.
Após subir 14,9% em julho, a soja encerra agosto com novo incremento de 3,6% em sua cotação média, que passa a acumular altas de 44,7% em relação a dezembro e de 22% sobre agosto de 2011. O trigo fecha o mês 2,5% mais valorizado do que em julho e também acima das médias de dezembro (43,9%) e de agosto de 2011 (19%). Soja e milho chegam ao fim de agosto com as maiores médias mensais já registradas em Chicago, em termos absolutos; no trigo, é o maior nível desde abril de 2008.
E o trigo chega ao fim de agosto conferindo pressão altista adicional ao mercado de grãos, graças aos problemas climáticos que afetam a produção da Rússia e o risco de que o país venha a restringir suas exportações de grãos como fez em 2010 diante de problema semelhante, ainda que Moscou venha negando sistematicamente que pretenda seguir esse caminho. Uma reunião prevista para esta sexta-feira pode definir a situação.
Se a Rússia passou a ser um coadjuvante importante no tabuleiro global dos grãos nesse momento, o papel de protagonista continua com os Estados Unidos e sua pior seca em pelo menos 50 anos. No dia 10, o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) aprofundou os cortes nas estimativas de produção global de trigo, milho e soja, e mesmo que tenha reduzido também as projeções para a demanda mundial dos dois últimos, ofereceu o combustível que moveu as altas do mês passado.
O próximo relatório do USDA sobre os fundamentos dos grãos será divulgado em 12 de setembro, e novas correções para baixo na produção não estão descartados. Mas a colheita americana de milho começou, e por mais que a produção tenha sido cerca de 100 milhões de toneladas menor que a inicialmente esperada, o escoamento da colheita tende a acalmar um pouco o mercado, bem como a expectativa de recuperação das colheitas sul-americanas.
Se o clima voltou a ser a estrela de Chicago em agosto, como acontece desde que os efeitos nefastos do La Niña sobre a produção da América do Sul na temporada 2011/12 tornaram-se evidentes, em dezembro do ano passado, também deu novamente o tom na bolsa de Nova York no mês, com destaque para a situação no Brasil.
Com a redução das chuvas em regiões produtoras da região Centro-Sul e o avanço da colheita de cana e café no maior fornecedor mundial de ambas as commodities, o açúcar encerrou agosto com cotação média 8,4% inferior a de julho e o café registrou queda de 7,5% na mesma comparação. Com isso, o açúcar passou a registrar baixas de 8,1% sobre dezembro e de 24,1% sobre agosto de 2011, enquanto as baixas do café foram a 25,6% e 35,1%, respectivamente.
O suco de laranja também teve um mês de quedas em Nova York, pressionado por uma temporada americana de furacões até agora “comportada” no que se refere aos reflexos na produção de laranja da Flórida, que reúne o segundo maior parque citrícola do planeta. Em São Paulo, líder do ranking, a seca recente causou alguns transtornos, mas não suficientes para reduzir significativamente a oferta, que segue gorda com a segunda safra seguida de produção de laranja acima da média e estoques abarrotados de suco.
Nesse contexto, a média do suco de laranja concentrado e congelado (FCOJ, na sigla em inglês) encolheu 4,3% em relação ao resultado do mês anterior e passou a amargar retrações de 33,2% na comparação com a média de dezembro e de 32,9% sobre agosto de 2011.
Negociado na bolsa de Nova York, o algodão segue na dependência da disposição da China em comprar. Esse fator influenciou a elevação de 4,4% de seu preço médio em Nova York no mês passado, mas as variações sobre dezembro e agosto do ano passado continuam negativas – 16,2% e 27,9%, respectivamente. Nos últimos dias, cresceu a expectativa de que o Isaac, que perdeu seu status de furacão e voltou a ser classificado como tempestade tropical – e que não prejudicou os pomares de laranja da Flórida -, pode causar danos em plantações da Louisiana e do Mississippi, o que pode conferir alguma sustentação adicional às cotações.
O cacau, finalmente, acusou os reflexos do clima seco no oeste da África e de distúrbios sociais na Costa do Marfim, país da região que lidera produção e exportação globais, e chega ao fim de agosto com preço médio 7,5% superior ao de julho no mercado nova-iorquino. Assim, a alta sobre a média de dezembro aumentou para 12,2% e a queda sobre agosto de 2011 recuou para 18,5%.