A cultura do milho tem se destacado a cada novo ano, atingindo recordes de produção e de produtividade. Já nem existe mais a chamada “safrinha”, que mostra alguns números até melhores do que a safra normal. O Brasil ocupa também posição cada vez mais importante no mercado internacional deste grão. São ótimas notícias. Mas ainda há potencial para mais crescimento e para números ainda mais expressivos. É nisso que apostam diferentes instituições que, unidas, estão colocando em prática o Programa de Desenvolvimento da Cadeia do Milho no Brasil.
Coordenado pela Abramilho (Associação Brasileira dos Produtores de Milho) e pelo Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), o programa tem o apoio da Fundação Dom Cabral e da Embrapa. Entre os principais objetivos, está discutir o potencial da cultura, mostrando gargalos, oportunidades e desafios. E, nesse sentido, a participação dos produtores rurais é fundamental, pois são eles que sabem, no dia-a-dia, o que funciona e o que pode ser melhorado em sua atividade no campo. Já foram realizadas reuniões em Porto Alegre-RS, São Paulo-SP e Belo Horizonte-MG e estão sendo programadas outras em cidades como Cuiabá-MT, Brasília-DF e Recife-PE.
De acordo com José Carlos Cruz, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo na área de fitotecnia, o milho é plantado por mais de dois milhões de produtores rurais brasileiros “com grandes variações nos níveis tecnológicos e nas condições de clima e solo, portanto com grandes variações na produtividade”. Em números, as médias de produtividade cresceram, comparando-se os períodos de 1999/2002 e 2009/2012, de 3.934 para 5.923 kg/ha na safra normal do Centro-Sul do Brasil, de 2.223 para 4.500 kg/ha na segunda safra (a antiga “safrinha”) e de 1.057 para 1.889 kg/ha na safra normal do Nordeste.
“Na realidade, gostaríamos que este aumento de produtividade fosse mais rápido”, afirma o pesquisador, lembrando que é preciso levar em conta as peculiaridades de cada uma dessas três regiões. Enquanto o Centro-Sul tem maior potencial de produção, uma área plantada em torno de 5,2 milhões de hectares e apresenta estados com rendimentos médios de 8.000 kg/ha, o Nordeste e o Norte do país sofrem com restrições climáticas e tecnológicas e têm milho em cerca de três milhões de hectares. Por sua vez, a atual segunda safra teve cerca de sete milhões de hectares e “é uma cultura sujeita a grandes riscos climáticos e com menor potencial de produção”, segundo José Carlos.
Ainda a melhorar – Mesmo com os inegáveis avanços, a cultura do milho precisa aprimorar sua cadeia produtiva, que, na visão do pesquisador da área de economia agrícola da Embrapa Milho e Sorgo Rubens Augusto de Miranda, ainda é relativamente desorganizada. “Os produtores e os seus principais consumidores (indústria de carnes) vivem em permanente conflito. O crescimento da produção do milho no Brasil demanda uma melhor organização. Os elos da cadeia precisam acordar algum mecanismo para que todos ganhem”, explica.
E é justamente na tentativa de organizar melhor a cadeia do milho que entra o programa encabeçado pela Abramilho e pelo Mapa. Nas discussões, têm sido identificadas as demandas reais do produtor, por exemplo em relação à logística de escoamento do milho e ao seguro agrícola. Ao final da rodada de reuniões, que vai passar por importantes regiões produtoras do país, a ideia é que seja construído um plano a ser apresentado ao Governo Federal para subsididar novas políticas públicas para o milho.
Segundo José Carlos, “existem tecnologias confiáveis em todas as etapas do ciclo da cultura. É lógico que sempre aparecem problemas novos. Por exemplo, o uso do milho Bt cria oportunidade para o aparecimento de uma série de pragas secundárias que, antes, eram controladas com a aplicação de inseticidas para o controle das lagartas. Também é necessário aprimorar certas tecnologias, como o controle químico de doenças”. Ou seja, aprimorando-se as tecnologias de produção e de manejo da cultura do milho, como tem sido feito por instituições como a Embrapa e universidades, e com outros elos da cadeia acompanhando essa evolução, o negócio milho tem tudo para colocar o Brasil como destaque ainda maior em âmbito mundial.