O que as previsões antecipavam se concretizou: o clima seco, de fato, solapou as chances de que a maior parte dos produtores de soja do Centro-Oeste do Brasil iniciassem o plantio tão logo fosse encerrado o período de vazio sanitário, em 15 de setembro. Em Mato Grosso, principal Estado produtor da oleaginosa, a semeadura começou no fim de semana, mas, basicamente, nas áreas com irrigação.
No município de Primavera do Leste, onde cerca de 30% das lavouras são irrigadas, já é possível ver as máquinas no campo, e a estimativa é de uma colheita da ordem de 65 sacas por hectare.
Em Rondonópolis, as chuvas do fim de semana foram insuficientes e a previsão é de que o plantio ganhe força entre 28 e 30 de setembro. Já em Sorriso, apenas entre 4 e 5 de outubro. “Mas está tudo providenciado para termos uma boa safra”, garantiu o presidente do sindicato rural local, Laércio Lenz.
Depois que a greve de caminhoneiros e problemas com frete dificultaram a chegada de insumos em meados de agosto no Estado, cerca de 80% dos adubos já estão nas mãos dos produtores, de acordo com cálculos do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).
Se o tempo ajudar, os preços recordes da soja no mercado futuro podem trazer uma rentabilidade média de 25% por hectare para os agricultores de Mato Grosso. O Imea considera uma colheita de 50 sacas por hectare e um custo de 40 sacas – com o preço da saca a R$ 45 (média pela qual já foram negociadas 46% da safra 2012/13). Desse modo, até o momento, os produtores gastaram R$ 1.800 e obtiveram uma receita de R$ 2.250 por hectare – um lucro de R$ 450 por hectare.
Assim como Mato Grosso, o Paraná também deve ter atraso na semeadura, oficialmente liberada a partir de 21 de setembro. Como já são 70 dias sem chuvas significativas, os primeiros tratos culturais ainda não puderam ser feitos. “Esperamos que a chuva seja regularizada mais para o final do mês”, afirma José Varago, superintendente técnico da Coamo. Com sede em Campo Mourão (PR), a maior cooperativa agropecuária do país espera colher 6 milhões de toneladas.
Segundo Varago, a estiagem pode estimular mais produtores a desistirem do plantio de milho (também postergado devido à estiagem) para apostar na soja, cuja expectativa de rentabilidade no Estado é ainda maior que em Mato Grosso. Cálculos do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná, indicam uma rentabilidade média de 51,50% se toda a produção fosse comercializada hoje, com o custo de produção a 33 sacas por hectare e uma produtividade de 50 sacas. Em termos de preços, a safra 2012/13 está sendo vendida a R$ 55, diante de custo de R$ 37.
Apesar da euforia em torno da soja, o mercado enfrentou ontem um revés na bolsa de Chicago. Os contratos para janeiro (que ocupam a segunda posição de entrega, normalmente as de maior liquidez) recuaram 4%, ou 70 centavos, para US$ 16,70 por bushel. Milho e trigo também despencaram: 4,26% e 4,93%, respectivamente. Pesaram a expectativa positiva para o plantio na América do Sul, o avanço da colheita nos EUA e a reavaliação dos efeitos do recente afrouxamento monetário americano.
Em relatório divulgado ontem, a consultoria Céleres apontou que as vendas antecipadas de soja da safra 2012/13 estão em ritmo mais lento no Brasil: avançaram apenas um ponto percentual na semana passada, para 46% – mas ainda estão 29 pontos percentuais acima da média dos últimos cinco anos.