O consumo mundial de carne aumenta com o incremento do poder aquisitivo da população, e a demanda por alimentos orgânicos ganha cada vez mais reflexo nas prateleiras do varejo, nas feiras e agora no cardápio da merenda escolar. É notável a crescente busca dos consumidores por alimentos de qualidade, nutritivos e saborosos, livres de resíduos de agroquímicos, e que sejam produzidos em respeito ao meio ambiente.
Atender à demanda desse mercado, oferecendo produtos com valor agregado, não é um trabalho complexo, mas no caso das carnes a oferta ainda é bastante limitada e, além disso, há muitos desafios a serem superados.
O Mato Grosso do Sul é o estado que abriga a maior criação de pecuária orgânica, localizada basicamente no Pantanal, e desenvolvida em 18 propriedades, que abrangem uma área de 115 mil hectares.
As fazendas de criação de gado orgânico devem seguir rígidas práticas e sistemas de produção que permitam sua auditoria e certificação. O gado deve ser criado da forma mais natural possível, em convívio com a flora e a fauna regional. Existe também a preocupação com a lotação do rebanho e o descanso do solo. Os animais são tratados somente com medicamentos homeopáticos e fitoterápicos, e torna-se obrigatório o estrito cumprimento da legislação ambiental e trabalhista.
O sistema produtivo orgânico é auditado e certificado, em todas as etapas de produção, conforme a legislação brasileira. Dessa forma, o consumidor tem a garantia de que as fazendas de criação preservam a cultura do homem pantaneiro, seguem padrões corretos a nível ambiental e utilizam de modo racional os recursos naturais renováveis. Ao exigir a certificação orgânica, a proteção de nascentes, e a proibição tanto do uso de fogo no manejo das pastagens como da aplicação de agrotóxicos e químicos, a criação pecuária orgânica cumpre seu papel de proteger os solos e os recursos hídricos.
A Associação Brasileira de Pecuária Orgânica (ABPO) adotou protocolos e processos de produção e responsabilidade socioambiental que insere a entidade numa posição de vanguarda. As normas incluem um protocolo de diagnóstico socioambiental das propriedades rurais, com objetivo de criar uma base de dados para avaliar os ganhos sociais e ambientais de longo prazo.
Para realização dos diagnósticos, a ABPO estabeleceu parceria com uma organização não-governamental de produtores rurais, a Aliança da Terra, que utiliza indicadores de sustentabilidade para determinar o desempenho socioambiental de cada propriedade. Além disso, diversas orientações técnicas específicas devem ser seguidas, como as recomendações da Embrapa Pantanal quanto ao manejo das pastagens, à preservação de áreas e à conservação dos recursos hídricos. A certificação orgânica é realizada pelo IBD.
Em recente entrevista com Leonardo Barros Leite, presidente da ABPO, tomei conhecimento dos estudos realizados pela associação para avaliar a quantidade de ômega 3 existente nas carnes convencional e orgânica. Segundo os resultados preliminares da pesquisa, a concentração maior foi verificada no segundo tipo de carne.
A ABPO iniciou sua produção de pecuária orgânica no Pantanal, e atualmente estuda a criação de núcleos fora do Mato Grosso. A associação também analisa a produção de carne sustentável, com protocolo especial e cumprimento de todos os requisitos. A ideia é manter os processos ambientais similares aos orgânicos, porém, incorporando flexibilidade na produção, que deverá contemplar a baixa disponibilidade de milho e soja orgânica para a alimentação.
Outro exemplo do setor é a Korin, conhecida pela produção de frango criado fora de gaiolas, sem antibióticos e promotores crescimento. A empresa lançou recentemente no mercado a carne de suíno natural, antibiotic free, com certificação Humane e já disponível no mercado. Com uma cadeia de abastecimento que garante sua presença em todos os estados brasileiros, a marca Korin é reconhecida pelos consumidores e associada ao conceito de carne natural, macia e de qualidade.
A demanda por carnes orgânicas existe, e envolve um mercado disposto a pagar uma determinada margem pelos produtos, mas a limitada produção de grãos orgânicos exige flexibilização diante da realidade. A carne de suíno natural da Korin e uma futura carne sustentável da ABPO talvez sejam um dos caminhos para atender esses mercados.
Sylvia Wachsner, coordenadora do Centro de Inteligência em Orgânicos da Sociedade Nacional de Agricultura