Fonte CEPEA

Carregando cotações...

Ver cotações

Insumos

'Quebra' no trigo no RS prejudica exportações

Embarques gaúchos deverão ser cerca de 100 mil toneladas inferiores ao total previsto inicialmente.

'Quebra' no trigo no RS prejudica exportações

A quebra da safra de trigo no Rio Grande do Sul – que, mesmo assim, deverá liderar a produção nacional do cereal este ano -, está provocando cancelamentos de contratos de exportação. Traders estimam que, com a oferta menor, os embarques gaúchos deverão ser cerca de 100 mil toneladas inferiores ao total previsto inicialmente.

O volume equivale a 12,5% de um volume de 800 mil toneladas vendidas com antecipação. “A colheita está no início, mas alguns produtores já sinalizaram que não vão conseguir entregar o produto”, diz um trader. Conhecidos como “washout”, esses cancelamentos costumam ser definidos em consenso entre importador e exportador. Na maior parte dos casos, porém, deixa alguma vantagem financeira ao comprador, já que é o vendedor que não dispõe do produto.

Muito demandado por países africanos que usam o cereal em substituição ao milho na composição de rações, o trigo do Rio Grande do Sul começou a ser colhido nas últimas semanas. Neste ano, o Estado passou a liderar o cultivo do cereal no país ao plantar 976,2 mil hectares, 4,7% mais que no ano passado, e superar o Paraná, que reduziu em 27% sua área, 761 mil hectares, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

O problema relacionado à oferta gaúcha tem origem nas fortes chuvas que caíram sobre regiões produtoras do Estado nas últimas semanas, muitas vezes acompanhadas por vendavais e granizo. Na semana passada, a Emater-RS projetou queda de 10% na produtividade das lavouras, com tendência de piora.

Segundo a Empresa de Pesquisa e Extensão Rural do Estado, se essa projeção se confirmar a produção gaúcha de trigo atingirá, no máximo, 2,284 milhões de toneladas, queda de 10% em relação à projeção inicial. Em relação à colheita anterior, o “tombo” será de 17%.

Com a quebra no Rio Grande Sul – e a já anunciada redução de área plantada no Paraná, que deverá produzir neste ano 14,8% a menos do que na temporada passada, a oferta interna do grão ficará mais apertada em tempos de valorização da commodity no mercado externo. Nas principais bolsas americanas, as altas desde junho são de cerca de 35%.

Com os leilões do cereal realizados pela Conab em agosto, os moinhos se abasteceram, mas os estoques disponíveis, na média, duram até meados de novembro, diz o presidente do Moinho Pacífico, Lawrence Pih. Ou seja, em breve as indústrias terão que retomar compras. Produtores com trigo de boa qualidade estão pedindo de R$ 690 a R$ 700 por tonelada, diz Renan Magro Gomes, analista da consultoria Safras & Mercado. “Em torno de 70% da área paranaense já foi colhida, mas a comercialização está lenta”.

O valor pedido pelo produtor no Paraná está dentro da paridade de importação do produto da Argentina. De acordo com cálculos do presidente do Moinho Pacífico, neste momento o trigo argentino vale cerca de US$ 345 por tonelada. Somando-se frete, serviços portuários e transporte do porto de Santos (SP) até o moinho em São Paulo, esse valor chega na indústria entre R$ 700 a R$ 710. “Hoje, um trigo de boa qualidade em Maringá vale R$ 670 por tonelada. É claro que o produtor quer puxar para cima esse valor para encostar na paridade”, afirma Lawrence Pih.

O Brasil deve produzir no ciclo atual em torno de 5 milhões de toneladas do cereal, 13,5% abaixo da safra passada. Como o consumo interno deve ser de 10,4 milhões de toneladas, estão previstas importação de 6,7 milhões de toneladas do cereal, segundo as estatísticas da Conab.