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Mercado Externo

UE de olho na África

A União Europeia pode ajudar países do norte da África abrindo o seu mercado agrícola, concedendo benefícios ao continente.

O ministra das Relações Exteriores da Dinamarca, Lene Espersen, em São PauloA União Europeia estuda conceder benefícios para produtos agrícolas de países do Norte da África, muitos deles abalados por recentes revoltas populares. O objetivo é estimular a economia desses países e tentar assim conter o fluxo migratório para a Europa.

A afirmação é da ministra das Relações Exteriores da Dinamarca, Lene Espersen. Ela está no Brasil, à frente uma delegação empresarial dinamarquesa.

“Estamos nos esforçando para termos mais parcerias com os países dessa região, que são nossos vizinhos ao sul, e isso significa abrirmos mais nossos mercados de produtos agrícolas para eles”, disse Espersen em entrevista ao Valor. A ministra esteve ontem em São Paulo, onde participou de um evento na Fiesp, e visita hoje Brasília.

Espersen disse que um plano de ajuda econômica aos países do Norte da África está sendo discutido no Conselho de Ministros das Relações Exteriores da UE.

“Será provavelmente um acordo de preferências em áreas onde eles não têm isso hoje, basicamente em produtos agrícolas. Para produtos industriais, já há acordos de abertura da UE a esses países”, afirmou Espersen.

Ela não quis se arriscar a prever quando um acordo do gênero pode ser finalizado. “Acho que já há um entendimento entre os países da UE de que temos de nos mover nessa direção, de que para resolver o problema dos refugiados temos de apoiar mais comércio e mais desenvolvimento nesses países. Mas é difícil dizer quando isso vai acontecer.”

A recente onda de revoltas populares já derrubou os presidente de dois países do Norte da África, Tunísia e Egito. E gerou guerra civil em andamento na Líbia. Como resultado, barcos com imigrantes estão chegando quase diariamente na ilha italiana de Lampedusa, perto da Tunísia. Ontem, o premiê Silvio Berlusconi visitou a ilha, que já recebeu 19 mil pessoas vindas da Tunísia.

E essa crise de imigração tende a se gravar conforme for chegando o verão no Hemisfério Norte.

“Acho que tentaremos enfrentar isso mostrando um alto grau de solidariedade, apoiando os países que vão receber esse fluxo de refugiados. Os números não são tão altos, ainda”, afirmou a ministra.

“Mas outro modo de tentar reduzir esse fluxo é ajudar o desenvolvimento econômico e social dos países no Norte da África. Quanto mais fizermos isso, menos as pessoas vão querer emigrar. Podemos fazer isso com concessões comerciais, mas também ajudando a organizar eleições livres nesses países”, disse.

Segundo ela, a revolução em andamento no mundo árabe “terá uma grande influência na Europa nos próximos dez anos.”

A Dinamarca, que exercerá a presidência rotativa da União Europeia no primeiro semestre de 2012, terá como uma prioridade a conclusão do acordo comercial UE-Mercosul. O recado é da ministra das Relações Exteriores dinamarquesa, Lene Espersen.

A tarefa não será fácil, ela admite. No primeiro semestre do ano que vem haverá eleições presidenciais e legislativas na França, país que lidera a resistência à abertura do mercado agrícola europeu.

“É muito difícil. Sabemos que, por causa das eleições presidenciais e parlamentares na França, teremos apenas uma janela de algumas semanas para tomar certas decisões”, disse a ministra em entrevista ao Valor em São Paulo.

A Dinamarca quer negociar um congelamento dos gastos da UE com subsídios agrícolas no próximo plano financeiro de 7 anos da UE, o que significaria na prática uma redução dos subsídios praticados hoje, pois esse mesmo valor terá de ser dividido com os países-membros do Leste Europeu.

Espersen acredita que a crise fiscal nos países europeus pode ajudar a negociação com o Mercosul.

“Por causa dos problemas fiscais na Europa, achamos que é completamente irrealista elevar o orçamento da UE. Esse orçamento deve ser mantido como está ou, se conseguirmos algum tipo de liberalização no setor agrícola, podemos até reduzi-lo um pouco”, disse. Isso abriria espaço para mais concessões europeias no setor agrícola.

Espersen destacou que, depois de uma década priorizando a China, as empresas dinamarquesas agora começam a focar os demais grandes emergentes, e o Brasil passou a ser uma prioridade.

Ela destacou que a Dinamarca tem muito a oferecer em setores como tecnologia verde. “Fizemos avanços impressionantes na contenção de poluição e gestão da água. Hoje limpamos boa parte da água que usamos na Dinamarca, e com isso reduzimos a quantidade de água que usamos. Essa não parece ser uma área muito sexy, mas é importante, pois quanto mais o Brasil crescer, mas precisará usar recursos que são escassos, e água é um deles.”

Outra área que ela destacou é a otimização do consumo de energia. “Nos anos 70, nas crises do petróleo, o governo dinamarquês decidiu elevar os impostos sobre o consumo de energia. As empresas fizeram o possível em termos de eficiência energética, pois a energia economizada era dinheiro em caixa. Por isso, hoje temos várias empresas muito boas em oferecer soluções para otimização no uso de energia, para vários setores.”