A estrutura da cadeia de produção da carne bovina no país se aproxima de um oligopsônio (número pequeno de compradores), mas o poder de mercado dos frigoríficos sobre os pecuaristas é moderado e não aumentou nos anos recentes, apesar da maior concentração no setor. Essa é a conclusão de estudo “O Oligopsônio dos Frigoríficos: Uma Análise Empírica de Poder de Mercado”, do pesquisador Rodrigo Moita, do Insper, e da aluna de mestrado do instituto, Lucille Golani.
O estudo analisou a cadeia de carne bovina em São Paulo e avaliou se há poder de mercado utilizando informações sobre a produtividade marginal do boi gordo e dados mensais de preços por um período de 14 anos no Estado. Um dos objetivos dos pesquisadores foi mostrar se o aumento recente da concentração no setor de frigoríficos alterou o padrão de concorrência do setor.
Para testar a existência de poder de mercado, os pesquisadores usaram um modelo econométrico, contendo variáveis como preços mensais da carne de traseiro no atacado, preços mensais do boi gordo e estimativas sobre a produtividade do boi e a elasticidade-preço da oferta de matéria-prima.
A análise da cadeia produtiva mostrou que os produtores rurais – que fornecem bois – são muitos e distribuídos pelos principais Estados produtores. Os frigoríficos, por seu lado, são grandes e poucos e concentram suas plantas nos Estados produtores de bovinos e em São Paulo, maior mercado consumidor. Essas são características de uma estrutura de oligopsônio.
Utilizando preços mensais levantados pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA) entre julho de 1994 e dezembro de 2008 no Estado de São Paulo, os pesquisadores estimaram o que chamam de “modelo de conduta oligopsônica” no mercado. “Os resultados mostram forte evidência de poder de mercado moderado. Apesar de ter uma estrutura com potencial para o exercício de poder de mercado, os resultados mostram poder de mercado compatível com um oligopsônio. (…) Além disso, não identificamos um aumento do poder de mercado em anos recentes. O que indica que a onda de fusões e aquisições no setor frigorífico não teve reflexo na conduta das firmas”, escrevem.
De acordo com Rodrigo Moita, o estudo mostrou semelhança entre o ritmo de alta do boi gordo e da carne durante o período analisado. “Imaginávamos um crescimento do preço da carne maior que o do boi gordo”, disse. “Acreditávamos que haveria alguma distorção”, reitera Lucille, cujo pai, pecuarista, sempre se queixou da relação comercial com os frigoríficos.
Segundo Moita, a expectativa era que “com a maior concentração do setor, o frigorífico obrigaria o produtor de gado a vender [animais] por preços mais baixos”. Uma hipótese, diz o pesquisador, é que isso não ocorreu porque o setor buscou se preservar já que tinha sido alvo de investigação por formação de cartel e de processo no Cade. Outra razão para as margens do frigorífico não mostrarem crescimento, afirma ele, é o aumento da competição entre os grandes frigoríficos.
Lucille admite que a falta de dados semelhantes em outros Estados restringiu a pesquisa a São Paulo. Moita avalia que o resultado do estudo não seria muito diferente se considerasse outros Estados produtores de carne bovina porque São Paulo é uma região formadora de preços, portanto, relevante.
Ainda que o estudo não considere dados dos últimos dois anos, quando a concentração no setor se acirrou, Moita não acredita em alterações no resultado apontado pelo estudo. “O que se observou até 2008 é que o aumento da concentração não teve efeito no poder de mercado. Se seguir essa tendência que o estudo aponta, não deve haver alteração no cenário”, conclui.