Na semana passada o governo da China anunciou a abertura do mercado daquele país para a carne suína brasileira. Com isso, a perspectiva é a de que o Brasil exporte, nos próximos cinco anos, cerca de 200 mil toneladas de carne suína para o gigante asiático, que já é o responsável pela maior parte das exportações do agronegócio brasileiro. Apesar de comemorada, a notícia não significa, porém, uma virada imediata para os suinocultores, que desde o fim do ano passado têm visto seus custos de produção dispararem em função da alta do milho e da soja.
Filipe Araújo/AENo limite. ‘Só para cobrir custos teria de vender a arroba por R$ 56, e estou vendendo por R$ 52’. diz o criador Cornélio V. Han
“De fato, esta abertura é importante. Significa a efetiva globalização da carne suína brasileira, algo que tinha de acontecer”. diz o diretor de Mercado Interno da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Jurandi Soares Machado. “Agora, além de passarmos a vender para um país que é um grande consumidor, diminuímos a nossa dependência do mercado russo”, afirma.
Mercado interno
Machado acrescenta, ainda, que isso não deve resultar em mudanças imediatas no mercado interno, como alta do preço da carne suína motivada por remessas maiores para o exterior. De acordo com ele, os primeiros efeitos desta decisão só devem começar a ser percebidos em seis meses, pelo menos. “E isso depende muito da capacidade das empresas daqui.” De início, apenas 3, de 13 indústrias visitadas pelos chineses, cinco meses atrás, se credenciaram para vender carne para o país.
Incerteza
E, se o futuro das exportações de carne suína para a China ainda depende de algumas variáveis, no mercado interno a situação não é diferente. Para a maioria dos suinocultores 2011 começou mal, com o preço da carne cotada abaixo do custo de produção.
Em janeiro e fevereiro, os preços do suíno vivo caíram 14,9% e 16,8%, respectivamente. Segundo analistas, o início do ano costuma ser marcado por queda nas cotações. Entretanto, o recuo de preços observado no início deste ano foi um dos maiores registrados na série histórica do Cepea/Esalq-USP, que acompanha os preços dos suínos desde 2004.
Para agravar a situação, o preço do milho e do farelo de soja, que correspondem a 70% da alimentação dada aos suínos e 50% do custo total de produção, entrou em trajetória de alta desde o fim do ano passado. Em janeiro a cotação do milho e do farelo de soja subiram 13,9% e 0,7%, respectivamente, segundo o Cepea. Em fevereiro o milho recuou 3,5% e o farelo de soja 10,2%. De acordo com a analista de suínos do Cepea, Camila Ortelan, porém, essa baixa de fevereiro não impediu que a relação de troca entre o quilo do suíno vivo e o quilo da ração (índice que mostra o poder de compra que a cotação do suíno confere ao produtor) caísse 25,3%.
Desde a metade de janeiro deste ano a cotação da saca de 60 quilos do milho superou os R$ 30 em diversas regiões. No mesmo período do ano passado a cotação ficou abaixo dos R$ 20. O farelo de soja, que no ano passado estava cotado em R$ 480 por tonelada, este ano está acima dos R$ 600.
Com o preço dos grãos em alta, a salvação só poderia vir da subida dos preços do suíno, o que ocorreu em março. Em Avaré (SP), segundo o Cepea, a evolução dos preços foi de 26%, com o suíno cotado em R$ 2,66 o quilo. No sul de Minas Gerais, a alta foi de 20,5%, com o quilo cotado em R$ 2,83.
Ainda no prejuízo
Ainda assim, essa alta ainda não foi suficiente para mitigar totalmente os prejuízos. “Hoje estou vendendo o suíno por R$ 52 a arroba (ou R$ 2,77 o quilo). Só para cobrir o custo do milho eu teria de vender a arroba por R$ 56 (ou R$ 2,98 o quilo)”, relata o suinocultor Cornélio Van Han, que cria suínos há 30 anos na região de Campinas e tem capacidade de produção de 50 mil animais por ano.
Realidade semelhante vive o suinocultor João Leite, de Jequeri (MG). Dono da granja mais antiga da região, ele diz que, com a cotação atual de R$ 2,85, consegue cobrir os custos e obter lucro de R$ 0,15 por arroba vendida ao frigorífico. Ambos os produtores não acreditam que os preços dos grãos devem recuar muito ao longo do ano. “As cotações devem afrouxar, dependendo do tamanho da safrinha, mas não devem cair de patamar”, diz.
O diretor-executivo da Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS), Fabiano Coser, confirma o que enxergam os produtores. Para ele, em 2011 o lucro dos produtores vai vir da evolução dos preços dos suínos porque, segundo ele, o mercado não dá indicações de que o preço dos grãos vá recuar. “Já está na hora de a suinocultura atingir um novo patamar de preços”, diz. Ele crê que 2011 não será um ano tão bom quanto 2010, porém afirma que será um ano bom, com grande parte dos produtores obtendo lucro.
“O preço elevado da carne bovina, que deve se manter nos próximos anos, deve fazer com que o consumo de carne suína aumente, e consequentemente os preços”, diz o presidente da Associação Paulista de Criadores de Suínos, Waldomiro Ferreira. “Além disso, esperamos obter bons resultados com a campanha de estímulo ao consumo da carne suína, desenvolvida em parceria com o Sebrae Nacional, passando de 14,5 quilos para 15 quilos per capita”, diz o vice-presidente da Associação de Suinocultores do Estado de Minas Gerais, José Arnaldo Penna. Mais otimista que os demais ele vê o lado positivo na elevação dos preços dos grãos. “Com os preços em baixa os produtores deixam de plantar e nós temos problemas de abastecimento de insumos para a ração.”
O peso da alta
70%
da ração dada aos suínos vem do milho e do farelo de soja. Nas contas finais, o insumo representa 50% do custo total suinocultura.
R$ 31,14
foi o preço médio da saca de 60 quilos de milho nos primeiros três meses de 2011.
65%
é quanto subiu a cotação de milho em relação ao mesmo período de 2010.