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Exportação

Exportação da carne suína brasileira é assunto no setor

Abertura do mercado chinês traz consequências para o campo. Empresário acredita que o acordo entre Brasil e China deve influenciar na alta de preços da carne suína no mercado interno.

Em um frigorífico de Rio Claro, interior de São Paulo, somente funcionários podem entrar. Os visitantes ficam do lado de fora por questões sanitárias. Neste frigorífico são abatidos 2000 suínos por mês, e são 160 toneladas que vão abastecer o mercado interno. O proprietário e empresário Rodrigo Augusto de Campos mostrou alguns cortes especiais, produtos in natura, defumados e embutidos. Campos pretende primeiro atingir o mercado interno em maior quantidade e depois, se for o caso, exportar.

Falando em exportação, esse é o grande assunto do setor. O empresário falou sobre as prováveis mudanças na perspectiva de trabalho depois do acordo entre Brasil e China: “Acho que a maior mudança nesse caso seria o preço para o consumidor final, porque acredito que no mercado interno os preços vão se elevar”. Apenas algumas empresas conseguiram autorização para exportar para China, mas a notícia deve mexer com todo mercado. Para Campos, pode ser que o abastecimento nos frigoríficos que não exportam seja um pouco prejudicado, apesar disso ele vê que o acordo vai ser muito positivo para todo o setor a médio e longo prazo: “Um país, um cliente a mais no consumo de carne suína incentiva sem dúvida”.

Ainda sobre a abertura do mercado chinês, a equipe do Caminhos da roça conversou com Valdomiro Ferreira Júnior, Presidente da Associação Paulista dos Criadores de Suínos. Confira:

Fernanda Mitzakoff – A gente começou o programa falando da abertura do mercado chinês para carne suína brasileira, qual é o valor disso?

Valdomiro Ferreira – Realmente o mercado é um grande mercado. Hoje, a China representa 48% de toda produção de carne suína no mundo, ou seja, é um mercado extremamente atrativo e nós, com essa abertura, estamos muito eufóricos para que possamos participar do mercado. Atualmente o Brasil produz três milhões e 200 mil toneladas de carne suína e exporta apenas 600 mil toneladas. A perspectiva de conquistarmos uma fatia desse mercado chinês pode levar a duplicidade nas exportações brasileiras.

Fernanda Mitzakoff – É bem expressivo?

Valdomiro Ferreira – É bem expressivo, e inclusive o chinês é o que mais produz carne suína no mundo e o que mais consome carne suína. Ou seja, é um grande mercado em potencial.

Fernanda Mitzakoff – E o Brasil tem condições de atender toda essa demanda?

Valdomiro Ferreira – Sim, nós estamos nos preparando para isso há muito tempo. Alguns anos atrás, a uma década atrás o Brasil só exportava em torno de 70 a 80 mil toneladas, chegamos a 600 e agora queremos conquistar outros mercados, já que essas 50% era para o mercado russo. Nós queremos abrir outros mercados, somos competitivos em três fatores: hoje, temos níveis de produtividade iguais ao primeiro mundo, temos uma produção muito interessante em termos de sanidade e, principalmente, em termos de custo de produção. Somos altamente competitivos com o mercado internacional, esse acordo bilateral que foi feito dá garantia ao produtor para que ele comece a investir e, assim, nos próximos anos nós possamos mandar carne para o mercado asiático, como a avicultura já fez.

Fernanda Mitzakoff – E o mercado interno também está crescendo?

Valdomiro Ferreira – Nós consumimos no Brasil em torno de 14 a 15 quilos por habitante/ano.

Fernanda Mitzakoff – É pouco?

Valdomiro Ferreira – É pouco comparado com a comunidade européia que consome 44 quilos por habitante/ano. O maior consumidor de carne suína do mundo é a Dinamarca que consome 67 quilos por habitante/ano. Olhando esses números nós temos um grande mercado a ser conquistado em nível de mercado externo. E o mercado asiático, principalmente o mercado chinês, tem a grande população do mundo, já que existe uma cultura favorável à carne suína. É bom sempre lembrar que a carne mais consumida e produzida no mundo é a carne suína, só no Brasil que nós somos a terceira carne.

Fernanda Mitzakoff – Por que isso acontece?

Valdomiro Ferreira – Por questões culturais. Primeiro pela questão da Bíblia, depois um preconceito em relação a carne suína, nós ainda damos a imagem perante consumidor que nós produzimos porcos, na verdade o porco fez regime e virou suíno.

Fernanda Mitzakoff – E o que pode ser feito para melhorar a imagem da carne suína no mercado brasileiro?

Valdomiro Ferreira – Principalmente trabalhar nos cortes nobres, a carne suína é um produto que tem condições de oferecer cortes nobres. Até pouco tempo atrás o consumidor não conhecia que a carne suína produz a picanha suína, e até então a cultura nossa era com três tipos de corte, hoje nós oferecemos vários cortes com agregação de valor. Que significa que enquanto o produtor recebe seu animal hoje em São Paulo a R$2, 80 quilo, o abatedor, o frigorífico, abate esse animal e vende para o açougue a R$4, 00 quilo. Esse produto industrializado que é feito de carne suína chega a R$13,00.

Fernanda Mitzakoff – Muito mais caro?

Valdomiro Ferreira – Muito mais caro, ou seja, só uma parte da cadeia que ganha essa lucratividade.

Fernanda Mitzakoff – E como é que traz esses lucros?

Valdomiro Ferreira – Os cortes nobres, para que o produtor de suínos tenha participação na gôndola do consumidor e do mercado através de picanha, coxão mole, coxão duro, vários cortes que o consumidor das classes C e D que estão atingido a economia agora possam adquirir com um preço acessível ao salário.

Fernanda Mitzakoff – Quanto tempo você acha que é preciso para mudar a mentalidade do brasileiro em relação à carne suína e também para que o produtor comece a lucrar mais?

Valdomiro Ferreira – A lucratividade basicamente depende do custo de produção, nós estamos muito eufóricos com essa abertura de mercado, entretanto nosso custo está ligado diretamente a grãos: milho e soja. E nós vamos ter um ano difícil ainda em termos de custo de produção. Para que o consumidor venha a consumir mais carne suína tem que fazer campanha de marketing, esclarecimentos. Para mudar um hábito alimentar, inclusive mudar essa cultura brasileira, nós levamos pelo menos algumas décadas.