A marcha do agronegócio rumo às novas fronteiras do Centro-Oeste e do Centro Norte/Nordeste permitiu que o Brasil ampliasse paulatinamente a capacidade de gerar excedentes exportáveis, tornando-o o segundo maior supridor do mercado internacional de exportações.
Enquanto no total desse mercado a participação brasileira beirava 1,5% em 2007, no segmento do agronegócio chegava a quase 7%.
Com a crise mundial e a valorização cambial, acentuaram-se as dificuldades da economia brasileira em competir no mercado mundial de manufaturas, determinando que o agronegócio e a mineração sustentassem o quanto possível as contas externas.
Em 2010, quando o saldo comercial do país atingiu US$ 20 bilhões, o do agronegócio foi de US$ 63 bilhões -sem ele o rombo comercial seria de US$ 43 bilhões.
Nesse contexto, há um fato decisivo. Em momentos de crise, adia-se a compra do carro novo, da TV ou do computador. Mas com a comida não dá -é uma necessidade de todos os dias, o que determina grande vantagem para a economia brasileira.
Embora o agronegócio tenha mercado franco e preços excepcionais, com a valorização cambial somada às deficiências de infraestrutura viu estreitar as margens de rentabilidade e, em algumas regiões, determinou o abortamento da produção avaliada em 3 milhões de toneladas de soja e milho.
Os efeitos são devastadores. Perda de renda pode significar prejuízos e dívidas, aumento da pobreza, incapacidade de investimento, menos empregos etc.
Perto de 200 mil jovens completam 18 anos a cada mês, ávidos por oportunidades. Logo, a situação é inaceitável.
A análise do Orçamento da União de 2011 mostra um quadro alentador nos investimentos em infraestrutura.
Melhorias na malha viária do “corredor” de Porto Velho (hoje operando um terço do exportado em Santos com soja/milho), pavimentação da rodovia Cuiabá/Santarém, Ferrovia Norte Sul, hidrovia Tocantins e suas malhas rodoviárias alimentadoras são um esforço elogiável.
Contudo, se o aumento da produção acontecer e chegar lá nas pontas desses corredores, como exportar se não existe capacidade portuária?
Terminal portuário não se compra em supermercado -são anos de planejamento e de investimento.
O Brasil precisa urgentemente rever sua política portuária, admitir a liberdade dos investimentos privados e aproveitar a liquidez financeira internacional.
Há 20 anos, era preciso sair pelo mundo para vender. O quadro mudou -o mundo vem comprar. Essa chance não pode ser desperdiçada.
Chega de Copa, de trem-bala, de desarmamento das vítimas etc. O que o Brasil necessita urgentemente é expandir a estrutura portuária.
Luiz Antonio Fayet é economista e consultor em logística