A agropecuária brasileira terá crédito de R$ 123 bilhões na próxima safra, o maior orçamento já conferido ao setor. O anúncio deve ser feito amanhã (17) pela presidente Dilma Rousseff, em Ribeirão Preto (SP), no lançamento do Plano Agrícola e Pecuário (PAP) 2011/12. Os bancos vão disponibilizar R$ 107 bilhões à agricultura comercial, 7% a mais do que em 2010/11. Os outros R$ 16 bilhões, destinados à agricultura familiar, devem ser confirmados em 30 de junho, também pela presidente, em Francisco Beltrão, no Paraná. Às vésperas do lançamento do PAP, o setor produtivo avalia que o orçamento determinado pelo governo será pouco para sustentar a contínua expansão da produção. A meta do país é passar de 161 milhões para 176 milhões de toneladas de grãos ao ano dentro de um década.
“Houve só o reajuste da inflação do último ano”, disse o presidente da Federação da Agricultura do Paraná (Faep), Ágide Meneguette, referindo-se aos R$ 7 bilhões acrescentados ao orçamento da agricultura comercial. O setor esperava R$ 120 bilhões para a produção comercial e cerca de R$ 20 bilhões para a agricultura familiar. Os juro padrão deve ser mantido em 6,75% ao ano, com taxas a partir de 0,5% para os pequenos produtores.
O crédito rural para 2011/12 é quatro vezes maior que o de 2002/03, início do primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Equivale a 12 vezes a arrecadação do governo do Paraná neste ano. O último aumento expressivo no PAP foi em 2009/10, de 38%. No plano a ser anunciado amanhã, o reajuste fica abaixo do aumento verificado na produção de grãos -8,2% em 2010/11, atingindo 161 milhões de toneladas, conforme a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Os produtores terão de recorrer mais a recursos próprios ou contratos com juros acima de 12% ao ano, afirma o economista Pedro Loyola, especialista em crédito rural e coordenador da Faep. Haverá maior disputa por recursos também devido a mudanças no sistema de financiamento, acrescenta. Ele refere-se à extensão do limite individual para R$ 650 mil em todas as culturas. “Com a nova regra, um produtor de alho pode acessar o mesmo volume de recursos que um produtor de soja” , cita. A ampliação dos financiamentos para as culturas menos expressivas sem a elevação dos valores globais espalha a falsa impressão de que há mais crédito disponível, argumenta.
O orçamento do PAP influencia diretamente a economia do Paraná, estado líder na produção de grãos (20%). Pela participação na atividade e pela concentração de pequenos e médios produtores, o estado é o que mais utiliza o crédito rural. A estimativa do setor produtivo é que o Paraná deve acessar perto de R$ 25 bilhões em 2011/12. Oito em cada dez produtores tomam algum tipo de financiamento e 40% dos recursos usados no cultivo são do crédito rural, avalia a Faep.
Em Mato Grosso, líder na produção de soja (28%), apesar da dependência de financiamentos, o volume tomado do sistema oficial deve ser menor que o do Paraná. Os produtores mato-grossenses cultivam áreas maiores mas, em menor número, tomam parcela menos expressiva do crédito rural, por também estarem sujeitos ao limite individual de R$ 650 mil.
As cooperativas também mostram-se insatisfeitas com o volume de recursos anunciado pelo governo. “Ainda esperamos alguma surpresa antes do anúncio oficial do plano. Os R$ 107 bilhões para a agricultura comercial e os R$ 16 bilhões para a familiar não atendem à necessidade do setor”, afirma o gerente técnico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), Flávio Turra.
“Os programas de financiamento direcionados às cooperativas terão R$ 550 milhões a menos do que na última safra”, acrescenta. Em 2010/11, as empresas contaram com R$ 4 bilhões.
Na avaliação dos representantes dos produtores, o mercado está se encarregando de estimular a produção. Os preços da soja e do milho subiram 29% e 70% no último ano, atingindo R$ 40 e R$ 23 a saca de 60 quilos, respectivamente.