O setor suinícola brasileiro tem sido pauta constante nas últimas semanas, seja pela questão do embargo russo, seja pela recuperação do preço do produto no mercado interno. Apesar de ser o setor mais afetado, o diretor executivo da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS), Fabiano José Coser, diz que a questão do embargo está sendo tratada com tranqüilidade. “Se analisarmos o mês de junho, quando iniciou o embargo, é possível ver que o mês fechou com um volume exportado superior ao mesmo período do ano passado”. Contudo, Coser pondera que seu desejo é que esta questão se resolva o quanto antes.
Segundo Coser, o pior cenário é o da especulação. “Assim que se anunciou o embargo a maioria das empresas jogou os preços para baixo, dizendo que o setor sofreria uma grande perda no volume exportado e não teriam onde colocar a carne. Isso não aconteceu. Nos últimos 15 dias, os preços estão reagindo com muita força no mercado doméstico”. Em algumas regiões, a valorização do vivo chegou a quase 30% em apenas uma semana.
Trata-se de uma questão política, envolvendo um maior apoio do Brasil à entrada da Rússia na Organização Mundial do Comércio (OMC). Mas de qualquer forma, eliminar os problemas sanitários é uma necessidade.
Conforme informação divulgada na última quarta-feira (20) pelo gabinete do ministro da Agricultura, Wagner Rossi, as autoridades russas devem se manifestar, até o fim do mês, sobre o embargo às exportações de carne de 85 frigoríficos do Paraná, Rio Grande do Sul e de Mato Grosso, em vigor desde 15 de junho.
Muito mais do que a questão do embargo, uma das principais preocupações do setor tem sido o aumento do preço das commodities. Os preços do milho estão bem acima dos níveis históricos e nos últimos dez anos, o setor de suínos teve custos de produção maiores que os de comercialização. No Rio Grande do Sul, o milho chegou a R$ 30,00 a saca. “Se pegarmos o mesmo período do ano passado, nós tivemos um aumento de 80% no preço do cereal”, diz Coser.
Mesmo com a liberação de crédito no valor de R$ 20 milhões pelo Banco Central, o setor não está satisfeito. Coser destaca que tal medida coloca o preço de compra a R$ 1,70, sendo que para cobrir o custo de produção este valor deveria estar em torno de R$2,20. “Esse seria um preço mínimo que realmente cobriria o real custo de produção”.
Para o diretor executivo da ABCS é necessário melhorar as políticas públicas. “Deve haver maior oferta balcão e melhoria da política de abastecimento de milho, com novas formas de aquisição destes produtos”.
Outra questão que o setor busca uma solução é o Projeto de Lei 8.023 que visa regulamentar as relações contratuais entre produtores e agroindústrias. “O projeto foi aprovado no ano passado na comissão de agricultura e agora precisamos torná-lo realidade”, diz Coser.
De acordo com ele, hoje o setor suinícola já tem mais de 60% da produção ligada a agroindústria e não possui uma legislação própria. Ela viria ao encontro do que o produtor vem lutando nesses últimos anos, ter um parâmetro, um ordenamento jurídico, que possa proteger essa relação entre os setores.
A rastreabilidade é uma alternativa necessária para alcançar novos mercados. “É uma necessidade”, afirma. Coser diz que em futuro muito próximo, quem não tiver seu produto rastreado poderá ficar fora do mercado.
Para superar os desafios do setor, o diretor executivo da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS), Fabiano José Coser, lembra que a classe deve estar cada vez mais unida em torno de suas reivindicações. “Hoje a suinocultura é um dos poucos setores que tem uma única entidade em nível nacional, com mais de 50 anos e com várias representações regionais. O produtor tem que se aproveitar dessa força. Ele tem que se unir em torno das lideranças pra buscar as suas demandas. Temos uma força que se bem trabalhada pode gerar resultados positivos para o produtor”.