O avanço da colheita do milho safrinha vai confirmando as projeções de quebra de 35% na produção de inverno do Paraná. Na região de Campo Mourão (Centro-Oeste), agricultores que iniciaram nesta semana os trabalhos de campo estão preocupados não só com a redução do rendimento das lavouras, mas também com a comercialização da produção. Com qualidade abaixo do padrão mínimo exigido pela indústria de rações e pelo mercado exportador, os grãos terão de ser vendidos a preços mais baixos.
“Pretendia colher 420 toneladas em 72,6 hectares, mas não deve passar de 240 toneladas. Boa parte será de milho ardido. Já estou me preparando para o ‘canetaço’ na hora de vender”, diz Ademir Walker. Ele relata que nos 7,2 hectares colhidos até agora o milho não chegou a granar. “Fui obrigado a fazer silagem”, lamenta.
Prevendo uma boa safra, Walker fechou, no início do plantio, contratos de venda a R$ 23 a saca, mas agora teme não conseguir honrar esses compromissos. “A intenção era entregar metade da produção para cumprir esses contratos e reservar os outros 36,3 hectares para vender a preços do dia. Mas no ritmo em que as coisas estão, vou ser obrigado a entregar toda a minha safrinha para honrar os negócios”, conta.
A preocupação de Vicente Mignoso é com os descontos por conta do alto índice de grãos ardidos. Ele acredita que 25% dos 157,3 hectares cultivados terão problema de qualidade. “Não sei o que vou fazer com esse milho, pois não serve para alimentação de frango e nem de porcos, que são os maiores consumidores do cereal de baixo padrão.”
Mignoso afirma que os prejuízos com a qualidade serão ampliados pela baixa produtividade, que deve ficar mil quilos abaixo do potencial. “Esperava fechar com média de 6,9 mil quilos por hectare. Se conseguir 5,9 mil quilos pelo menos pago os custos “, calcula.
Os produtores reclamam com razão, avalia Alysson Paulinelli, presidente-executivo o Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho). Os problemas de qualidade, no entanto, não devem impedir a comercialização da safrinha, prevê o executivo.
“O milho brasileiro costuma ter preço maior no exterior justamente porque tem qualidade superior. É fundamental que a quebra não prejudique o desempenho das exportações do país. Vamos trabalhar junto com o governo para que o agricultor não saia no prejuízo”, diz Paulinelli.