O Brasil e o mundo querem mais etanol, mas o tão esperado aumento na produção deve ficar mesmo para depois.
A última estimativa da Unica, União da Indústria de Cana-de-Açúcar, informa que a safra em 2011 será menor em relação à de 2010, ano em que as lavouras sofreram com uma forte estiagem.
Segundo o IBGE, o estado que puxa a quebra da safra da cana é São Paulo, onde a produção deve ser 14% menor do que a do ano passado. Outros produtores importantes, como Minas Gerais, Paraná, Mato Grosso do Sul e Goiás, vão colher mais do que em 2010. No conjunto do centro-sul, a perda vai ser de 7%, diz o instituto.
De acordo com a Unica, a região Centro-Sul do Brasil, que concentra a maior parte da produção nacional de cana, deve colher 510 milhões de toneladas do produto, quase 9% menos do que na safra passada.
O clima é o principal fator que tem feito a Unica rever as estimativas. Não bastasse a seca de 2010, que já faria a produtividade dos canaviais cair naturalmente, este ano geou duas vezes nas regiões produtoras.
Em parte da lavoura da usina que fica em Paraguaçu Paulista, no Centro-Oeste de São Paulo, a cana secou por causa do gelo. A agrônoma e diretora agrícola da usina Inês Pereira explica que a geada é considerada um dos piores fatores climáticos para a cultura. “Ela morre e começa a apodrecer. Se a gente não colher, a podridão vai descendo até o pé da cana, de modo que se perde toda a produção. Nós tivemos que antecipar praticamente em quatro meses a colheita do canavial e estamos perdendo quatro meses de crescimento da cana”, diz.
O outro problema dessa safra é o florescimento da cana. Quando isso acontece, em um canavial adulto, há perda de umidade ao longo do tempo, e, consequentemente, de produtividade. Já em um canavial de fase de crescimento, há perda de peso e paralisação do crescimento, de acordo com a agrônoma. A causa dessa fenômeno foi um período longo com luz, associado a temperaturas que estimularam o florescimento.
Além de todos os problemas climáticos que estão afetando a safra, existe ainda outro fator contribuindo para a queda de produtividade das lavouras, um problema mais antigo, que vem de 2006. Na ocasião, os preço do açúcar e do etanol estavam baixos e pouco remunerador. Em 2008, veio a crise mundial de crédito. Sem caixa e sem possibilidade de financiamento, muitas usinas deixaram de renovar os canaviais.
“A cada cinco ou seis anos, em média, nas áreas produtoras, é preciso trocar a cana, senão ela começa a perder tonelada por hectare. Na safra passada, nós tivemos uma colheita na faixa de 90 toneladas por hectare, e agora temos uma colheita na faixa de 76 toneladas por hectare. Nós temos um descompasso evidente entre a oferta e a procura pelo produto. É como a fábula da tartaruga e do coelho. O coelho é o consumo puxado pelo carro flex e tartaruga é a oferta do etanol hoje. Não há condição de uma resposta imediata da lavoura”, avisa Sérgio Prado, representante da Unica.